As obsessões e compulsões são comuns ao melhor e ao pior da vida.
Aceitamo-las com reservas no amor, no clubismo, nas acções humanitárias, numa profissão.
Temo-las em consideração, com o juízo que merecem, quando insidiosa e malevolamente se insurgem «de chancas e de mansinho» no nosso percurso de relação, a saber, nos radicalismos de qualquer espécie, nos «sentidos únicos», no «melhor não há», na indústria da morte.
Aos fautores de muitas delas não lhes toca a doença mental.
De surda ambição e ferroada anónima oscilam entre o «trepar pelas costas de alguém», o bajular, a «frontalidade» de riso permanente e servil, o abuso de linguagem científica, até ao crime a diversos níveis de qualificação penal.
Olhamo-las com ternura na verdadeira doença do espírito.
Por tão ignóbil se nos afigure, não há maior eficácia no «queimar» beltrano que chamar-lhe louco, aconselhar-lhe psiquiatra. Faz-se em todo o terreno. Até médicos tidos por «importâncias» pisam este limiar da convivência social. Não há juramento de Hipócrates, Prova Quádrupla ou civismo que valha às suas vítimas.
Sou incondicional do respeito pelo socialmente diverso. Seja a arte em todo o espectro de formas, cores, texturas e sons, o multiculturalismo, o mérito de todas as profissões úteis, o ecumenismo religioso, as opções democráticas de organização social, o diálogo transversal…
Supostos pragmáticos tomam a posição como
naïf, politicamente incorrecta, tolice que impele a virar o rosto, algo abjecto a toldar os sentidos. São luminárias beliscadas no seu esplendor.
Os que assim evitam sujar os dedos, quais cirurgiões de amígdalas e apêndices, guindam-se quantas vezes a um enorme ascendente. São por regra arrogantes simpáticos como a esbelta do ensino - não a de Mirandela, de débil evanescência, nem a
stripper nas aulas de adolescentes húngaros, Zalaegerszeg, o director «não a vai despedir porque é uma professora muito importante» -, essa, é verdade, a furtiva da espingarda na Sarajevo dos anos 90.
Aos que assim se tomam a si mesmos por «práticos» das ideias assemelhar-se-á a
naïf toda a postura que invista na prevenção, a arte da paciência, a presciência, a convicção de os resultados serem de longo prazo ou a necessidade de trabalhar para eles na certeza de dificilmente se poderem ver no correr da própria vida. Ou até à arte quando mais a enforma abstracção e dissonância.
Há gente com formação científica a apodar de ingénuos ou mesmo de loucos os que assim pensam.
Radicará neste universo a prole dos que têm apagado Albert Camus, profeta no século XX, corajoso e modesto, um contraditório possível na dialéctica de algumas vidas. Com o ganho em dividendos hoje a ver-se na inepta e inculta política Europeia.
Henrique Pinto
Junho 2010
FOTOS: a Arte abstracta, dissonante;
Albert Camus, modesto e profeta; a arte abstracta, incómoda; busto de
Hipócrates;
Herbert Taylor no seu gabinete mostrando um exemplar da Prova Quádrupla que criou; a «professora» do nordeste; Sarajevo; bloco de cirurgia veterinária; a baronesa
Catherine Ashton, vice-presidente da União Europeia, e responsável pelos negócios estrangeiros da UE, em visita à Faixa de Gaza; coluna militar no Iraque, símbolo da indústria da guerra.
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