Não podemos nem devemos «limpar o rabo» com a bandeira!
A tradição portuguesa no associativismo de qualquer matiz, mesmo tratando-se dum mero grupo de apoio, dos partidários duma qualquer causa, não é de grande consistência, pese embora a sua extensão.
Normalmente as iniciativas soçobram cedo.
Porquê, dir-me-ão?
O associativismo é indutor de coesão social e esta esfrangalhou-se há muito entre nós, se é que alguma vez foi viva a não ser no imediato pós 25 de Abril. Daí ser natural que esse ideal lhe siga o destino.
É muito difícil a um órgão executivo duma associação em Portugal chegar inteiro ao fim do mandato. As pessoas zangam-se por pequenos nadas, enciúmam-se ao menor gesto, desaparecem mesmo com deveres às costas, às vezes nem do invejar se afastam, quantas vezes têm a chinela maior que o pé e ousam saltos acrobáticos.
Se quem tem maior responsabilidade se deixa levar pelo imediato, se lhe falta estofo para olhar sobranceiro e esquecer as cobras e lagartos que lhe saltam ao caminho ou para esbater as dificuldades, os resultados nunca aparecem.
Para quem não saiba, o «quem corre por gosto não cansa» já pouco diz, nada de construtivo se faz sem gosto mas nenhuma Obra isenta de dor os seus fautores.
Falar destes pequenos nadas é também pugnar por um Portugal que cresça nas cabeças de todos, no íntimo de cada um. Porquanto, chegue ou não a ser doloroso o necessário a suportar para, com ética e princípios, seguir em frente, ir até ao fim dos mandatos, mostrar a Obra que afinal é justo partilhar, saborear o sucesso, é imperioso ter consciência sem temor que a dor pode ser forte, mas saber também, escreveu-o Camões – evoquemo-lo sempre, mas sobretudo hoje no seu Dia especial, o dia comum aos 15 milhões de Portugueses (nós não esquecemos os 5 milhões da diáspora) -, «um fraco rei faz fraca a forte gente».
Não deixemos que os pequenos nadas tolham os princípios, os objectivos, os desígnios, o sentido do bem comum. Façamos o possível por, com paciência, desvalorizá-los. A não ser que queiramos estar em dia com a linguagem mais vulgar dos portugueses, a dos «políticos» portugueses em geral, a linguagem do «nós e eles». E ter por destino só o que está à vista, hoje. Olhemos o horizonte sobre as águas calmas ou em turbilhão, sobre os prados imensos e belos do Pantanal e pugnemos dentro de nós por manter perto, amigos e inimigos. Todo o cabo tem antes e depois, só nele encalham navios onde se deslexam bússula e demais alfaias e artes de marinhar.
Henrique Pinto
10 de Junho de 2010
FOTOS: a imagem publicitária da FNAC, desrespeitosa para a bandeira Francesa, e, obviamente, para com todos os clientes; olhar a planura do Pantanal; os meus amigos Álvaro Órfão, Fabio Bionde e Luís Lourenço, em noite de estreia da Europa Galante em Leiria (foto Sérgio Claro); Luís Vaz de Camões; obra artística no Cabo Espichel (foto Carlos Sargedas); mar da Galé em tarde nublada de Maio.
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