terça-feira, 27 de julho de 2010

SUAVE AROMA FÉTIDO


«Ela achou a pele dele enegrecida, menos escura que outrora, sem brilho.
Ele bocejou como um cão, silencioso, de boca escancarada.
Então, ela teve a certeza que o suave aroma fétido que sentira à entrada provinha da ceiba e, ao mesmo tempo, do corpo do pai, pois todo ele imergia na lenta corrupção das flores amarelas e alaranjadas – este homem, pensou, que tanto cuidara da pureza da sua aparência, que só se perfumara com as essências mais chiques, este homem altivo e inquieto que nunca quisera deixar exalar o cheiro do seu próprio corpo!
Pobre homem, quem teria pensado que se tornaria um velho pássaro gordo, de voo desajeitado e odores corporais intensos?»
Marie Ndlaye
Prémio Goncourt 2009
in Três Mulheres Poderosas
É um extracto dum livro fabuloso, Edição Teorema, 2010 (HP)

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