O filme As 50 Sombras de Grey
teve a maior audiência de sempre em Portugal, destronando Música no Coração e
Lawrence da Arábia, obras que estiveram mais dum ano em cartaz. Será que os
portugueses adoram o comportamento sexual sadomasoquista? Disse-me alguém, malgré tout ao fim do segundo livro a
personagem feminina ainda é vaginalmente virgem!
A discussão ora feita à
volta do emprego e da pobreza tem contornos ridículos e de lavagem de asneiras.
Pois a austeridade política é por natureza condenável. O papa Francisco foi
perfeitamente claro a tal respeito. Todavia, boa parte dos portugueses
inclina-se a sancionar positivamente os «responsáveis mor e mais próximos» da
prática destas políticas. Como se não existissem alternativas mais credíveis. Será
possível o sofrermos massivamente da Síndroma de Estocolmo, da paixão pelo
agressor? Ainda creio na possibilidade de bom senso por parte de quem saiba
termos cerca de 2 milhões de concidadãos abaixo dos limiares de pobreza, evitável
meus caros, num universo de menos de 10 milhões de residentes. É ainda a
cidadania organizada que mitiga o sofrimento maior.
Praticamente 5/6 da minha
vida foram enformados por práticas (e estudos, exaustivos muitos deles, todos
os dias escrevo, todos os dias estudo) dirigidas ao Outro, à comunidade, desde
o jornalismo, a cultura (foram 45 anos consecutivos como dirigente cultural),
ao desporto, à investigação e ensino, à solidariedade ( a Associação Alzheimer de Portugal, neste momento), a Rotary, à saúde
pública (da local à planetária), etc.
Assistir agora ao golpe
ferino dirigido ao ensino especializado da música num país onde nem ensino
generalista da mesma existe, é demais para quem, como eu, tanto se empenhou em
incrementá-lo.
A minha vida tem sido um
permanente e deliberado recomeço. Se uma ideia ou projeto estão favoravelmente
esgotados, parto para projetos novos, sempre sob o lema da criação, do crescimento
das ideias e da ampliação dos resultados. Sem nunca me desviar da ética. Nenhuma
pessoa me ouviu ou leu alguma vez denegrir qualquer dos meus continuadores ou
antecessores. Onde será que só se lobrigam comportamentos a contrario? Nem nenhum deles foi incomodado com ingerências minhas,
sigam o vosso caminho à vontade. E olhem que a experiência é longa e larga.
Ninguém conte comigo para a rotina improdutiva, para as perdas de tempo, para
aceitar quaisquer baias imorais ou a tolerância hipócrita, a má educação.
Em boa parte da passagem
pelos serviços públicos da saúde, fui invariavelmente perseguido até ao limite
por direções regionais, mesmo com ideologias diferentes entre si. Por isso aceitei
convites fabulosos. Saltei de nível, como nos jogos informáticos, parti rumo
aos serviços centrais e depois ao mundo. Estou fora disso agora. Só me
interessa convalescer e não me incomodar, concluir tudo o que pensei fazer na
vida, ser um membro de base das organizações que me dizem algo, estar
ativamente com quem me é querido, amar e divertir-me. Mas era então o império
do caciquismo, da imposição de políticas de saúde absurdas ao invés do
nacionalmente estabelecido, da falsificação de estatísticas, da proteção a
interesses adversos das boas práticas em saúde, do clientelismo político, da
inveja e mesquinhez. Felizmente sempre fui ouvido, reconhecido e «protegido em
Lisboa» e lá fora. Os meus resultados existem ainda.
Estive invariavelmente um
passo à frente dos meus pares e contemporâneos, graças ao estudo, à recusa do
andar a reboque de palmadinhas nas costas de falsa tolerância, e à capacidade
da assunção do risco nas decisões a tomar. Promovi as práticas positivas e o
sucesso nas minhas instituições graças ao conhecimento, à modernização (as
estatísticas e o planeamento em saúde devem-se a quem?), e a sempre ter sido
aberto à colaboração da inteligência jovem. Na Saúde fruí o privilégio desde
muito cedo de orientar médicos internos de especialidade. Acabaram quase todos por
virem a ser os melhores do país. As suas ideias frescas e a possibilidade por
mim conferida de as porem em prática modernizaram o Serviço Nacional de Saúde,
estabeleceram o exemplo. Há hoje, numa parte ampla do mundo dos EUA a África, a
tendência para replicar este grande projeto português. E qual é o sentimento
português a tal respeito?
Bem, por enquanto o SNS tem escapado à descaraterização
total pela privatização, pelos interesses comerciais. Mas a vontade de tal vir
a acontecer anda por aí à solta.
Recentemente consegui o
apoio praticamente unânime dos deputados portugueses no Parlamento Europeu quanto
à Declaração de premência na sustentabilidade do combate mundial à paralisia
infantil. Os meus companheiros e eu, mesmo enfermo, lográmos assim o Ámen de um
pouco mais de metade dos parlamentares europeus. Foi bom para todos, para mim
também, o constatar que as ideologias dos lusos representantes não os dividem
quando se aborda um problema magno assim. Se tudo fosse como isto quão bom
seria!
Orgulho-me, e muito, de,
sendo os cargos em Rotary International de grande rotatividade, 1, 2, 3 anos no
máximo, os presidentes mundiais me convidarem há 15 anos consecutivos para
Conselheiro mundial ( e também como representante nacional, são poucos os
países assim distinguidos), no que respeita a essa saga fantástica da
eliminação duma doença. São pequenas coisas que fazem com que me sinta em
permanência face ao futuro.
Henrique Pinto
Setembro 2015-09-11
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