terça-feira, 29 de setembro de 2015

O AR ESCANZELADO DE PAULO RANGEL

A senhora do grupo de mulheres socialistas, a propósito de Europeias, lá ia dizendo com aparente agrado: ai eu votei naquele querido tão gorduchinho! Sentir-se-á hoje politicamente defraudada? Não é que o antes anafado Paulo Rangel apareceu escanzelado dum dia para o outro, com um ar doentio próprio duma dieta de privação e de efeito rápido! Este género de dietas, muito praticado Europa fora, é absolutamente contraindicado do ponto de vista da vida saudável.
Não é despiciendo estabelecer um paralelo entre a austeridade alimentar praticada por Paulo Rangel e a política económica ultraliberal por si defendida para o nosso país tipificada sob esse mesmo chavão.
E se o «nosso» deputado europeu chegado a um patamar de peso do seu desejo, entender estar em condições de refazer um regime alimentar venturoso, finda oficialmente a sua austeridade pessoal, tudo facilidades doravante semelhante à sua prática anterior, rapidamente vira o gorduchinho querido daquela senhora «assaz politizada». Requerem-se soluções alimentares equilibradas. A austeridade é sempre demolidora, na saúde ou na macroeconomia. O Professor Daniel Bessa, com os seus escritos ultraliberais, deveria mesmo votar algum tempo ao estudo do Professor Abel Salazar lá pelo Porto…
Uma obesidade semelhante à da personagem pública aqui evocada começa normalmente no princípio da adolescência, ou mesmo antes. A nutrição pediátrica é assunto ao qual é dada pouca atenção. Ela subjaz à saúde e à doença da criança como um todo e provavelmente à maior parte das doenças crónicas no adulto. Na prática, os regimes dietéticos seguidos nos países desenvolvidos estão muito mais dependentes dos média e da pressão dos pares que da informação nutricional informada.
E assim, por via da nossa desatenção à nutrição pediátrica, os adultos jovens no mundo desenvolvido estão já em risco aumentado para uma diversidade de doenças crónicas.
A primeira parte da infância é uma boa ocasião para as crianças experimentarem novos alimentos e desenvolverem hábitos e comportamentos dietéticos normais. As crianças em idade escolar tornam-se mais independentes do controlo parental na toma de comida, e estão em risco de consumirem alimentos inapropriados de limitado valor nutricional.
A adolescência é tempo para o salto final no crescimento. Atinge-se o pico da massa óssea. A maturidade sexual arrasta o risco acrescido de anemia, e nas raparigas o de gravidez não planeada. Os hábitos alimentares mudam drasticamente e aí um grau de nutrição ótima é crucial para a saúde futura.
Há uma seriíssima necessidade no melhorar a educação alimentar na escola. Um adolescente nórdico aprendeu na primária a cozinhar e sabe aproveitar a água de cozinhar os vegetais e legumes para fazer a sopa. Uma escola secundária aqui bem perto de nós ficou no topo do ranking das que dão maior atenção à comida. Terão os cozinheiros feito batota? Pois é, a instituição pratica comida hipercalórica, com excesso de gordura e açúcar, fatores associados a obesidade e má nutrição.
Senhor ministro Nuno Crato, governar implica também estar atento a estas incongruências.
Henrique Pinto, Professor Doutor
Médico Graduado em Nutrição Clínica

In Diário de Leiria de 29 de Setembro 2015 

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