Estamos na rampa de lançamento para as Eleições Presidenciais, em Janeiro próximo. Falta ao Presidente da República marcar a data deste Acto Eleitoral. Trata-se da única votação uninominal em Portugal. O que lhe confere uma importância acrescida, porquanto se tratará da parte sobrante, não caduca e não representativa, da legislação eleitoral neste país.
E porque a imensa falha na concertação política a que se assiste em Portugal está sedeada em Belém, esta eleição assume um carácter muito determinante no futuro do país.
Infelizmente, também, mesmo com a crise económico-financeira e social vigente, que é exógena, claro, mas que tem uma forte componente endógena, e histórica – o ouro do Brasil não foi só para pagar o Convento de Mafra, como diria Saramago, seguia directamente para Inglaterra a pagar tudo o que então consumíamos - e pior ainda, é endémica, porque esta inconsciência esbanjadora se institucionalizou.
Felizmente, o diagnóstico do país não é mortal. Todavia, as medidas para debelar essa crise nunca foram levadas até aos portugueses com pedagogia e exemplo por parte de Belém, antes serviram para remoques soezes. Seria ou não possível evitar a forma tão drástica como os portugueses vão ser desigualmente afectados, agora e no futuro, sem acautelar a sorte dos menos favorecidos, sem garantias mínimas para estancar o desemprego?
O sentimento real de que algo vai ter de mudar não tocou ainda a sociedade portuguesa. Ora, quando
a memória e a história divergem podemos estar à beira da catástrofe. Ao pauperismo político a que se assiste – e que de certo modo não é novo –, não é imune a figura do presidente da república, frágil e errática. Sem receio de indelicadeza, podemos mesmo dizer, inculta.
Em momentos assim é importante que, sem o espírito messiânico que o autoritarismo tanto lambarisca, sem o sebastianismo, tão ligado à ideia do fado, ao fatalismo do destino, possamos ter um presidente da República galvanizador de projectos, sem ser retórico. A falta desesperante de líderes aqui como numa escala mais aberta cola-se a este fatalismo de entremêz de cordel.
Mas em outros tantos momentos de crise a história do país já mostrou que não há um fatalismo lusitano.
Sim, é possível Mudar Portugal.
O meu colega e amigo Dr. Fernando Nobre, candidato a presidente da República, tem essa auréola da nova liderança, em boa parte cimentada no universo das dificuldades e das carências, mundo fora. Uma auréola de líder feita, não em 25 anos de primeiro-ministro e presidente, não em 34 anos de deputado, que são vícios e comodismos políticos inultrapassáveis, próprios de quem nunca disse verdadeiramente não a que «sejamos um país de barracas com submarinos à porta», como glosava, em ironia triste, o padre Fernando Ventura, mas na política de verdade, aquela que se centra nas pessoas.
A ausência do efectivo papel de liderança assertiva do presidente da República actual lembra um pouco as efemérides redondas, a esfumarem-se com o tempo, como há dias escrevi. O 5 de Outubro ganha aos 100 anos uma auréola radiante, muito por força das dificuldades do presente, muito em função de outra efeméride reluzente, o 25 de Abril de 1974, que vem afinal a cumpri-la em boa parte. Nenhuma efeméride, a não ser, porventura, a da necrologia, transmite em si qualquer ruptura absoluta. O
liberalismo monárquico continuou-se pelo liberalismo republicano, estruturado em valores que, em muitas circunstâncias, só mais de seis décadas volvidas decantaram. Mas o desrespeito entre os partidos e a distorcida representatividade popular não chegaram ainda ao seu ocaso, tantos anos volvidos, e o corporativismo do Estado Novo tem bom alimento em muitos lóbis e espírito da sociedade contemporânea portuguesa.
Com o
Estatuto dos Açores os actores políticos em Portugal, todos, cometeram o sacrilégio de apoucar as autonomias, ou descurando a constitucionalidade do diploma específico, na ganância do voto, ou adiando-a para as calendas, como fez o senhor presidente da República, numa das suas performances mais fracas, a prejudicar assim parte do território, exactamente quando os Açores mais precisavam dirimir os últimos financiamentos de Bruxelas.
Sim, é possível Mudar Portugal. Mas há que reflectir em como fazer a mudança tranquila. É tempo de despedirmos os profissionais da política. É tempo de apostarmos em gente capaz de formar opinião, urge ganharmos um presidente liberto do ónus do
déjà vu, apto a ser verdadeiramente líder dum projecto nacional de coesão, de cultura, de concertação, de dignidade, de exemplaridade.
Tivemos há 15 dias a Convenção da Cidadania e da Esperança. Tanto bastou para que o discurso do candidato presidencial Fernando Nobre fosse recuperado, plagiado até, pelos seus principais contendores nesta pré campanha eleitoral.
Os outdoors de Manuel Alegre, pagos pelo Partido Socialista – é só pelo dinheiro para a campanha que o apoio dos partidos interessa a estes candidatos, os votos não se arregimentam assim – mostram o candidato
contra a austeridade e solidário. Solidário, disse? Quando é que Manuel Alegre foi solidário na sua vida com quem quer que fosse, encostado às prebendas do Estado?! Contra a
austeridade, diz Manuel Alegre. Mas este senhor subscreveu até hoje todos os orçamentos de Estado, a sua rebeldia só se tornou evanescente em vésperas das eleições a que concorre!
O senhor presidente da República professor Cavaco Silva, homem de finanças, não de economia como tanto se insiste e apesar de o próprio de tal não se distanciar pela prova, criador do monstro económico actual, governou em período de vacas menos magras nos anos de maior submissão de consciências já visto depois do PREC (submissão consentida, obviamente, o que piora a situação, dada a fraca literacia), nunca o situacionismo foi tão flagrante? E no entanto recupera agora o mote tão caro a Fernando Nobre, a
cidadania, sem todavia deixar de nos inculcar diariamente no seu périplo pelo país como putativo candidato, a responsabilidade sem convicções. Que cidadania é essa senhor professor? E fala agora
no mar e na agricultura como se, a troco de patacos, não tivesse negociado com a CEE o seu estertor! Quantos de nós não assistimos aos financiamentos para se abaterem barcos ou olivais! E depois, desbaratadas as ferramentas, que fazer? Assistimos nos últimos anos ao vir à tona duma longa série de arbitrariedades supostamente praticadas pelos membros do seu séquito político, enquanto governante, que muito pouco abonam em favor da ética e da cidadania, tão cara a todo e qualquer magistério, político ou não.
Fernando Nobre está num outro patamar civilizacional. Pudesse já hoje ter a oportunidade do confronto directo com os seus principais contendores e entrar na casa dos portugueses em pé de igualdade, e a força dos seus argumentos e da sua capacidade política pô-los-ia respeitosamente no seu lugar. Mas a tal se vai impondo, por enquanto, a máquina do Estado e parte do sector comunicacional privado. De certa forma porque se entende como normal o absurdo de a cidadania se poder esgotar nos partidos políticos. Ora, quanto mais se empobrece a sociedade civil, física e intelectualmente, no trabalho ou na informação, mais se enquista este modelo de fazer política sem ética.
Será que elegemos um presidente da República para se promover como putativo candidato à custa da crise económica, ao jeito do «diz o roto para o nu»? Será que o fazemos para, em situações críticas como a que vivemos, ouvi-lo no quotidiano a mandar recados aos partidos através da televisão, sem nunca promover o encontro directo e concertado entre os actores principais? Receber formalmente os partidos é importante mas não chega! Como é irrelevante insistir nos economistas de todas as situações políticas, de todos os becos, em trinta e tal anos.
Obviamente que não é esse modelo de eleito que preconizamos. E porque é possível Mudar Portugal, vamos aqui pela região promovendo debates e encontros que possam suscitar algumas dúvidas e respostas, junto dos cidadãos e dos mediadores da mensagem.
Henrique Pinto
Outubro 2010
FOTOS: No meu escritório; caricatura de
Marcelo Rebelo de Sousa; caricatura de
Cavaco Silva;
Fernando Nobre na Convenção da Cidadania e da Esperança;
Edmundo Pedro na mesma Convenção;
Telmo Inácio, Mandatário de Fernando Nobre para a Juventude, por Leiria,
Henrique Pinto e
Leonel, na apresentação da Sede de Candidatura de Fernando Nobre, na Nazaré;
Henrique Pinto, o presidente da Câmara de Leiria
Raúl Castro e
João Baião;
Fernando Nobre,
Carlos André e
João Paulo Marques, Café das Quintas, OLCA; caricatura de
Manuel Alegre;
Machado dos Santos, o herói da Rotunda em 1910;
Henrique Pinto com Carla Santos, RTP; no meu escritório
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