No domingo passado houve a procissão do Senhor dos Passos na
Nazaré. Como em muitas outras localidades a imagem de Cristo vem ao encontro da
da mãe e a procissão segue una até determinado local. Em Cascais, quando eu era
miúdo, uma imagem saia da Igreja dos Navegantes e a outra da Capela de Nossa Senhora
da Conceição, para se encontrarem frente à baía, em cortejo unido. Minha mãe, connosco e com as amigas, esperavamo-lo em locais diversos onde era suposto que Santa
Verónica voltasse a cantar (a minha amiga Conceição tinha uma encantadora voz
de soprano).
Ali na Nazaré a imagem do Senhor dos Passos sai da Capela da
Pederneira e a da Senhora dos Anjos da capela com o seu nome, mais abaixo,
rumando até ao alto, o sítio, a «abençoarem o mar». «Mar salgado, quanto do teu
sal são lágrimas de Portugal», rimava Pessoa. As mesmas lágrimas que bordejam
os olhos de muitos nazarenos nos dias que correm.
A lenda de Santa Verónica é muito glosada nestes cerimoniais. Ela ter-se-á apiedado de Cristo ensanguentado subindo ao Gólgota e deu-lhe o seu
véu. Jesus terá limpado o rosto devolvendo-lhe o pano onde aparecia o seu rosto
estampado. Um suposto original deste pano estará depositado em cofre forte na
Igreja matriz de Turim, em Itália, estando visível para os visitantes uma
reprodução. Tive oportunidade de o ver por excecional deferência de amigos e
autoridades para este suposto «convidado ilustre». É exatamente a mesma
estampagem que as crianças transportam nestes eventos cá entre nós.
Dia de festa na Nazaré e é ver as mulheres com as suas saias
curtas (sete?) e meias garridas passearem em grupos. Felizmente hoje as vestes
são de cores alegres e variegadas e não do negro uniforme, anterior à
construção do Porto de Abrigo, quando os homens morriam ao chegarem à praia.
Exatamente como nos mostra a obra prima de Leitão de Barros, o filme Maria do
Mar, que foi musicada pelo nosso saudoso amigo Francisco Sassetti.
Abril 2014
Henrique Pinto
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