A linguagem de certos portugueses do futebol supostamente com maior
formação, meio onde existe muita gente culta, é, por vezes, de estilo o mais constrangedor e arrepiante possível de imaginar. Um dono de
clube da NBA foi posto fora do círculo desportivo por alegada linguagem
racista. A federação do futebol europeu, mesmo com a «bronquite» do seu
dirigente máximo, tem a correr uma campanha soberba contra o racismo. A atitude
dum espetador xenófobo com a banana de El Madrigal teve um efeito contrário ao
esperado e incendiou e projetou aquela iniciativa. Pois como todos os que me leem
já devem ter ouvido, são comuns entre os nossos comentadores muletas oratórias
do género «foi comprado ou vendido por tantos milhões de Euros». Senhores, a
transação é sobre o passe do jogador e não sobre este. A escravatura acabou
formalmente no século XIX com Portugal como primeiro defensor legal da liberdade!
Contudo, não se ficam por aqui. São cada vez mais frequentes as
designações «futebol vertical» ou «jogar verticalmente». Será que querem dizer
que o jogo se pratica da relva para as nuvens, vertical «traduz-se» por de
baixo para cima? Ou estarão a pensar num comportamento sem mácula? Pelo menos é
o possível de inferir de acordo com a geometria ou os significados linguísticos.
Não, estes sábios têm em mente o jogo longitudinal, de trás para a frente rente
à relva. Só que as palavras usadas têm outro sentido. Se fizermos contrastar
esta pretensa «erudição» com as anedotas postas a circular, sabe-se lá se pelos
mesmos palradores, quanto aos «chutos na gramática» desta ou daquela personagem, que não tendo títulos académicos é ou foi uma estrela na sua área
de conhecimento, o disparate ganha mais substância. Conhecendo-se os valores das tiragens do maior jornal português de referência, um semanário, a não
ultrapassarem o quarto de milhão de exemplares, e os da do periódico desportivo
mais vendido, com três edições semanais a irem cada uma para além do meio milhão
de jornais, podemos pensar com um pequeno esgar ou com um sorriso aberto na
flagrante perda duma oportunidade, mesmo se ínvia, de aculturação.
Abril 2014
Henrique Pinto
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