quinta-feira, 1 de maio de 2014

O GOVERNADOR GAY

Numa reunião de Rotary em 2001 na cidade francesa de Lyon um governador nórdico fez uma pergunta ao então presidente mundial, o irascível mas também muito simpático Richard King. Um dia em Los Angeles, estando à porta, de anfitrião, no almoço em sua honra, inquiriu-me, referindo-se à minha companheira: - É tua filha? Fiquei balançando, entre o ufano por estar com uma mulher jovem e o furibundo, será que me está a chamar velho?
Eis a dita pergunta daquele governador:
- Se a organização paga as viagens às esposas dos governadores porque não o faz, se o governador é gay, em relação ao seu companheiro?
Mormon, de Salt Lake City, antigo showman das televisões, Richard King subiu o tom da voz para um patamar histriónico, teatral, quase shakespeariano, e alvitrou de rompante:
- Só quando houver um presidente escandinavo!
Quase dois anos depois eu e Carl-Whilhelm Stenheimer, meu bom amigo, sueco, tinha sido eleito presidente mundial um mês antes, tomávamos uma cerveja no bar do Hilton em Zurique.
- Sabe o que Richard King disse um dia… ?, e contei-lhe o episódio ocorrido em França. De pronto respondeu: - Porque não !?
- Imagine-se que o governador era muçulmano, como boa parte dos nossos companheiros pelo mundo, e se ainda por cima possuidor dum belo harém, que teria dito King?, pensei eu
E é assim, a diferença a marcar o pensamento numa organização viva, que no entanto não deixa de ter pessoas obtusas, egocêntricas, importantes apenas porque há quem dependa delas, às vezes até pela própria saúde. Enfim, gente que só pensa no seu ego mesmo se isso prejudica os seus compagnons de route e quantas as vezes a própria instituição. Mas disso existe por todo o lado. Nem estaríamos neste mundo se assim não fosse.
Maio 2014

Henrique Pinto




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