A poucos dias de distância da morte de Gabriel Garcia Marques, partiu hoje em definitivo Graça Moura para bem longe de
todos quantos o admiravam. Regra geral as pessoas no decurso da sua vida
assumem, qual dialética da existência, posições díspares e controversas. Intelectual
brilhante, prosador e poeta de grande mérito, organizador bem qualificado, ele foi
também, mercê da sua inteligência e sagacidade, um comentador político
situacionista acutilante de grande impacto mediático. Concorde-se ou não com
ele nesta sua intervenção política – confesso que me merecia pouco apreço - é
justo salientar a sua qualidade.
Tive o privilégio de o conhecer pessoalmente e de divagarmos
em contextos diversos sobre empenhos culturais comuns e sempre o achei muito
agradável, interessante e sensível. Li a grande maioria dos seus livros duma
escrita mais que escorreita com o maior agrado. Isso foi até motivo para, como
ele, achar tão patética a decisão do Acordo Ortográfico. Porque se a língua
portuguesa é muitíssimo rica ele fez dela, com o maior cuidado, rigor e
capacidade cultural, algo de inimaginavelmente belo, quais Camões ou Virgílio
Ferreira. Custou-me bastante vê-lo, aquando da última condecoração, muito
debilitado fisicamente por relação à sua idade. Na altura meditei francamente
sobre os desígnios de cada um e das suas poses em contraste com a essência da
fragilidade humana.
Abril 2014
Henrique Pinto
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