domingo, 27 de abril de 2014

MORREU GRAÇA MOURA

A poucos dias de distância da morte de Gabriel Garcia Marques, partiu hoje em definitivo Graça Moura para bem longe de todos quantos o admiravam. Regra geral as pessoas no decurso da sua vida assumem, qual dialética da existência, posições díspares e controversas. Intelectual brilhante, prosador e poeta de grande mérito, organizador bem qualificado, ele foi também, mercê da sua inteligência e sagacidade, um comentador político situacionista acutilante de grande impacto mediático. Concorde-se ou não com ele nesta sua intervenção política – confesso que me merecia pouco apreço - é justo salientar a sua qualidade.

Tive o privilégio de o conhecer pessoalmente e de divagarmos em contextos diversos sobre empenhos culturais comuns e sempre o achei muito agradável, interessante e sensível. Li a grande maioria dos seus livros duma escrita mais que escorreita com o maior agrado. Isso foi até motivo para, como ele, achar tão patética a decisão do Acordo Ortográfico. Porque se a língua portuguesa é muitíssimo rica ele fez dela, com o maior cuidado, rigor e capacidade cultural, algo de inimaginavelmente belo, quais Camões ou Virgílio Ferreira. Custou-me bastante vê-lo, aquando da última condecoração, muito debilitado fisicamente por relação à sua idade. Na altura meditei francamente sobre os desígnios de cada um e das suas poses em contraste com a essência da fragilidade humana.
Abril 2014
Henrique Pinto

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