Cristiano Ronaldo e António Costa encorpam todas as esperanças da
maior parte dos portugueses. São ambos pessoas de superior inteligência e têm por
demais capacidade para altíssimos voos nos seus ministérios. Todavia, fiquei
farto de ver e ouvir na imprensa falada e escrita, durante uma eternidade,
«vamos ganhar, temos o melhor do mundo». Dado o menor
impacto da política,
Costa ainda não passou por uma tal idolatria tonta. Mas se qualquer destas
personalidades é merecedora de grande apreço, o seu esforço é assaz notável como deve ser o reconhecimento público,
torna-se bem perigosa a circunstância de as pessoas (e até mesmo a equipa de
Cristiano) se demitirem da sua quota parte enquanto cidadãos participativos no
coletivo. Tal como por longo tempo se eximiram a abrir a boca, embalados pelo
latim dum rapazola versado em ler «contracapas de livros sobre o neoliberalismo».
Henrique Monteiro na sua «exuberante» formação política dir-nos-ia já estarmos
a usar uma terminologia inadequada. Mas não estamos.
Uma socialista de Leiria dizia há quatro anos, «ai eu votei
naquele gordinho, tão giro!». Referia-se a Paulo Rangel. Pois este
eurodeputado, um homem também inteligente, não se escusou a dar-nos «um bom
exemplo pedagógico» num dos seus últimos debates televisivos. Avançava ele,
«como as pessoas sabem eu fiz uma dieta, foi um período de austeridade a que
ora se segue uma dieta de manutenção, necessariamente menos rígida». Em
traços
largos não há nada a apontar-lhe quanto ao substrato do emagrecimento. Só que Rangel antes estava demasiado gordo
(um erro de comportamento alimentar) e agora está bastante magro, cheguei a
pensar se não andava por ali a negra megera (logo, resultado e objetivo estão totalmente
errados). Tanto como o próprio processo em si. O exemplo não nos serve.
Falta-lhe equilíbrio e sabedoria.
O país precisa de responsáveis conhecedores e sensatos (não dos
que não passam sem a professora ao pé), suscetíveis de mobilizarem a dispersão
para o conjunto em torno de objetivos razoáveis, com equilíbrio, respeito e
equidade, por muito difícil que seja o emergir do atoleiro em que foi sufocada
boa parte dos cidadãos e a própria economia.
Junho 2014
Henrique Pinto
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