Não sei se haverá alguém a gostar de lhe dizerem estar errado. Eu
próprio nunca apreciei tal e em algumas das situações tenho a iniludível
certeza de não me ter enganado. Ninguém assuma funções seja onde for sem saber onde
se vai meter. E em nenhum contexto deixe de fazer uma transição de pastas onde tanto
quem entra como quem sai subscreva um documento com as anuências e reservas da
transferência de poderes passível de chegar ao conhecimento público.
Conheço os meandros de procedimentos assim, eu próprio os usei com êxito. A história desta
ou daquela medida, quantas vezes assumida sem dolo e com o coração nas mãos, e
vezes sem conta na ausência de alternativa, é fundamental para uma boa gestão
futura. Muitas vezes tal validação é feita em privado e negada em público.
Claro, a ganância e o desejo de poder são mor das ocasiões superiores a
qualquer racionalidade, ou ao mínimo sinal de compreensão ou tolerância. E se
este ou aquele protagonista optar por um ou outro dos caminhos ao seu dispor –
quantas vezes aconselhado por bem a optar pelo preterido -, não venha depois,
batidos os burrinhos na água, apelar a consensos envolventes de quantos
deveriam ter sido ouvidos, atempadamente, ou dizer dos mesmos cobras e lagartos.
Mas é este o comportamento da maioria das pessoas na vida coletiva, sem
distinções quanto ao lugar, público, privado ou associativo, onde exerça o seu ministério.
Imagine-se o quadro. Interpelados por um agente policial, os
cidadãos Romeu ou Julieta põem-se a vociferar com aquele. Todos sabem o
resultado. Imagine-se ainda o Chiquinho a achar dever recalcitrar ou falar aos
berros quanto ao dito pelo juiz. Ofendia o visado na honra e no respeito
merecidos. O desfecho está à vista.
Conta-se de certo jovem turco ter dito ao putativo candidato em
2011, «ou fazes cair o governo ou cairás tu no partido». Hesitante, o visado
nem olhou para trás. Pois bem, ouvi agora esse responsável por semelhante
invetiva a encorpar o núcleo de vozes oficiais de contestação aos juízes do
Palácio Raton. Fê-lo em termos muito impróprios e menos ainda cordatos. Mas
estes pecados de quem pecou são inevitavelmente tolerados sem confissão nesta
república sem bananas.
Boa parte do povão, no mais cruel masoquismo, continuará a dar a bênção
a soluções suscetíveis de privilegiarem os abusadores da sua economia e do seu
trabalho nas próximas eleições, se nada existir a contrariar o status quo. É a mais lógica das
conclusões a retirar do seu último pronunciamento.
Eis agora a aparecer no céu
uma estrelinha brilhante como a polar ou um planeta fulgente tal qual vénus, as
primárias. Eu sempre apreciei este sistema e por isso, quando propostas num
dado contexto, mesmo não me tocando diretamente por estar fora de qualquer
família não sanguínea, se tal não for processo dilatório pode ser o caminho
para uma discussão franca posta à consideração de todos os votantes deste
rincão. Porquanto é necessário a muitos processos e caminhos para o bem comum o
deixarem de estar bloqueados ou nevoentos.
Junho 2014
Henrique Pinto
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