Apreciei uns bons milhares de currículos e pessoas. A dada altura
tinha mesmo o título de mais médicos ter avaliado neste país. Mas não me fiquei
por aí. Fui júri de tudo. Nunca, face a mil contestações, qualquer concurso foi
anulado ou suspenso por as entidades de recurso não terem por credíveis as
razões dos contestantes. Em determinado júri preferi, num único caso, não o
liderar. A minha opinião íntima era que aquele currículo de pouco valeria dada
a imensidão de pedidos (ou «cunhas») que me foram dirigidos, instrumentalizando
toda a gente da minha «entourage». Pois bem, os restantes membros do grupo
avaliador entenderam torcer por tal candidatura. Fez-se a admissão. O novel
profissional só tinha ideias quanto ao que não lhe era exigido fazer. Em tudo o
resto dava-se-lhe um apagão prolongado. Duas horas depois de advertida para tal
inadequação a pessoa pôs-se ao fresco com a desculpa mais esfarrapada.
Vejamos
o caso dum artista. Eu considero o bom verdadeiro artista aquele que o e ao
mesmo tempo prima por ser um bom carater, um humanista. E no entanto
Furtwangler dirigia bem! Veio-me à lembrança um outro sujeito que a todos parecia
tão bom, tão sabedor, imprescindível por excelência, sem ele nada feito… E no
entanto tudo ia secando a seu lado. Se achava algum investimento da empresa suscitável,
a seu ver, claro, de eventualmente pôr em causa o seu ordenado a horas,
boicotava-o discretamente. Não criava ambiente saudável a não ser com um ou
outro mau feitio. Chegou-se enfim a uma dolorosa conclusão sobre tão «imprescindível»
colaborador: era desleal para com os seus patrões; usurpava com dolo funções
fora da sua competência; punha em risco o futuro da empresa.
Pois bem, hoje em novas funções sabe-se ser o «mais que tudo» do
seu patronato, a quem tem «na mão». É de fato o conhecedor que aconselha,
informa, dirige.
Junho 2014
Henrique Pinto
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