Numa curva da estrada sobre as dunas – a mesma que Raúl
Brandão enalteceu nos seus roteiros –, ela lobrigou a mancha azul no horizonte pela
brecha aberta dos pinheiros cortados. E suspirou tão fundo e doce, um som de
ânsia quase só para delícia dos deuses. Estava à vista do Mar. Se os
evolucionistas - mais
racionalistas que quaisquer bíblicos - defendem a primeira fase dos seres vivos como organismos
marinhos depois emancipados já em terra, ela vivera metade da vida na ilha do
sonho e de sonhos e também aí se fizera gente. Contei-lhe nesse dia da minha leitura
de O Mar, de Fernando Pessoa, num dez de Junho da mais tenra infância no
Castelo de Sesimbra, lançado pelo querido professor Amável. Também ganhei de
meu pai idêntico gosto pelo mar, quase como se uma adição incurável. Faço todas
as semanas em passo largo o paredão de Cascais. Todos os domingos rodo no mesmo
trilho de Brandão. E não há cidade
alguma, de mar ou rio, planeta fora, onde eu
me tenha privado de navegar. Disse isto mesmo a esse grande homem das veredas
do mundo, o Gonçalo Cadilhe. Confirmou-me, envergonhado, o quanto a sua adrenalina
se exercita pelo deserto e nos oceanos. É com certeza um desígnio de vida.
Junho 2014
Henrique Pinto
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