Caros Amigos:
Talvez para colocarem a ilustração, omitiram a parte final do ponto
2. do meu artigo no Expresso de hoje (imperdível, claro...), ficando
assim sem perceber qual é a «outra manifestação assustadora».
Envio o texto completo, gostaria que o lessem. Se não o que ficarão a
pensar da minha cabeça?...
1. O flagelo do «partido» único das «ciências»
da educação que domina o ensino praticamente desde o 25 de Abril, não
vitimou apenas os alunos, enganando-os sobre a função da escola e a
vida, embotando inteligências e vontades. Atingiu também os
professores, instrumentos e vítimas, bode expiatório dos
resultados escolares anos e anos a piorar. E contagiou
os pais, frequentemente barreira à mudança na educação. Uma
manifestação expressiva da situação a que esse flagelo, facilitista
e infantilizador, conduziu é a choradeira de
muitas mães por causa do suposto stress dos meninos com
os exames. Exames de caca, registe-se.
Muito pelo contrário, o que tem faltado é um
mínimo de exigência, de exames a valer. Exames que no estado a que
o ensino chegou são instrumento incontornável de regulação e construção da
escola, que é natural e desejável induzirem nos alunos e nos
professores empenho e preocupação, e mesmo um saudável stress. Professores
que é urgente libertar, isso sim, de um outro stress, esse bem nocivo, o
da burocracia cretina com que foram sendo asfixiados. Burocracia que este Ministro
ainda não... implodiu.
E o regime de exames imperativo na nossa escola
é, evidentemente, diferente do praticado nas escolas
responsabilizadoras de sociedades como o Japão, Finlândia ou Macau, com
professores formados a sério e motivados e famílias com
outras características culturais. É esta evidência que o especialista da OCDE
que recentemente se referiu aos exames em Portugal devia perceber, não
esquecendo a sábia asserção de Marx quanto à necessidade da analise
concreta da situação concreta. São generalizações dessas que contribuem
para
perpetuar as desigualdades entre os países, impondo aos mais atrasados um
queimar de etapas que só agrava a situação de partida. O que se passou na
educação em Portugal é prova disso. Só depois das mudanças
introduzidas por Justino e reforçadas por Sócrates se terá manifestado
progresso nos resultados dos alunos portugueses nas provas comparativas
internacionais. Progressos verificados só depois dessas mudanças,
num dos testes com alunos apenas com quatro anos de escolaridade. Depois
de em todos os anos anteriores os resultados terem sempre piorado.
Bastaram, aliás, uns examezinhos para se perceber que os resultados estão
a melhorar. Por isso a agitação da FENPROF, das associações
de professores de Matemática e de Português, de associações de pais, que pais?
2. Mas há outra manifestação assustadora
dessa mundivisão pós-moderna (com que a nossa velha cultura tão bem se
dá) de que a educação que temos tido foi ponta de lança e modelo.
Manifestação que os média tem reportado com silêncio crítico, como se não
se tratasse da obscenidade que na verdade é. Situação de que a exigência
e os exames, se persistissem, seriam factor de cura.
Alguns títulos do Expresso:
"Em 2013, pelo menos 5 mil crianças e jovens
tiveram pela primeira vez acompanhamento por depressão. Consultas subiram
30%"; "Mil embalagens de antidepressivos e ansiolíticos receitados no
ano passado a adolescentes entre os 12 e os 19 anos"; "Bebés também
ficam deprimidos. Na Estefânia foram atendidos 20 em 2013"; "É
urgente aumentar camas de internamento".
Para quê as campanhas do Dr. Francisco George?
Prevenção da toxicodependência, para quê? Não está, afinal, em curso
uma sementeira para o consumo de todas as drogas?
Nos anos que aí vêm que
País irá ser o nosso?
Guilherme Valente
Editor Gradiva
Junho 2014
PS. Estou de acordo, na generalidade, com o dito aqui
pelo meu amigo Guilherme Valente, conhecedor profundo dos temas de ensino. Mas
tenho de lhe lembrar, até porque não preciso de bajular nenhuma das pessoas que
vou referir, que o Dr. Francisco George (que me sucedeu em Brazaville na
Organização Mundial de Saúde), é um qualificado homem de ciência, e, seguramente
o melhor Diretor Geral de Saúde em Portugal desde sempre, de par com o mui
saudoso amigo Professor Arnaldo Sampaio (pai do Dr. Jorge Sampaio), e nada tem
a ver com esse tipo de «campanhas» que refere como noticiadas pelo Expresso
(também o leio desde o
primeiro número)
Henrique Pinto
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