Saio exausto da minha
consulta na Figueira da Foz.
E vejo o Natal continuar
pífio nas iluminações alusivas em Leiria. O Castelo listado com uma espécie de
código de barras em luz é deprimente. Apesar de tudo, este cenário de gosto
incerto é comum ao país. Há até elementos semelhantes na maioria das nossas
cidades, como as árvores altas transformadas em embrulhos feéricos e encimadas
pela estrela. Quem nos diz não se tratar duma forçada normalização do paupérrimo,
num período onde a comunicação nos corrompe tanto nos alertas quanto a putativas
cabalas, como na profusão de expiações de tamanha incerteza, mesmo se legítimas?
No debutar da década
anterior democratas americanos dos sete costados diziam-me em São Francisco terem
a experiência pessoal de, escrevendo «presidente» ou palavras conexas num e
mail, este lhes aparecia devolvido. Todavia, tanto o filme «Inimigo Público»
(Enemy of the State), do saudoso Tony Scott, com Will Smith, quanto o livro
«Fortaleza Digital», de Dan Brown, um e outro de 1998, eram já exuberantes no
tratamento deste voyeurismo universal, onde os estados tudo controlam, mercê da
emergência das tecnologias digitais. Há hoje a convicção de o grosso desta
informação ser absolutamente consistente, e por tal já não se poder apelidá-la
de cabalas.
Disse amiúde há longo
tempo e repito-o, não ponho as mãos no fogo por ninguém. E não tenho muita fé
na separação de poderes tal como é exercida por aí. Mas ao contrário da imprensa
falada e escrita, a começar pela «mais respeitada», e como tal portadora do
dever de fazer jus à maior lisura, não passo por cima do direito à
presunção de
inocência. A justificativa para a violenta contaminação judicial por todos
presenciada em pouco diferirá, no mínimo, de manifesta falta de convicção.
Chamar-lhe «poder» efetivo da justiça não passa, isso sim, duma cabala.
Henrique Pinto
Dezembro 2014
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