terça-feira, 30 de dezembro de 2014

GUTERRES SERÁ SECRETÁRIO GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS

Quem disse ser praticamente impossível a António Guterres ser o próximo Secretário-geral das Nações Unidas? Políticos europeus, pois claro, e alguns jornalistas como ainda fazedores de opinião em Portugal, não podia deixar de ser. Pois, ao invés, eu creio ser essa uma possibilidade muito concreta.
Há sempre um grande cinismo por parte de políticos e dos gabinetes comunitários, a espelharem conjuntos de interesses. Um bom exemplo é o de Yves Horent, representante do gabinete da Comissão de Ajuda Humanitária, da EU. Admitia em Junho último que, tanto António Guterres, atualmente Alto Comissário das NU para os Refugiados, como Louis Michel, Comissário Europeu para o Desenvolvimento e Ajuda Humanitária, acreditavam ser Khurshid Mehmood Kasuri, o ministro dos negócios estrangeiros do Paquistão, o próximo Secretário Geral. Atente-se bem na subtileza da declaração, toda repleta de grande sentido de putativos consensos subterrâneos, dispersante da passarada miúda.
Não tendo acesso direto a tais corredores da intriga internacional temos os nossos amigos bem colocados nalgumas dessas varandas onde se fuma sem que os interesses forçosamente se esfumem. A próxima eleição deverá contemplar um candidato da zona de influência do leste europeu. Cabe-lhe por direito. É por demais conhecida a imensa interatividade do presente em hostilidades de praticamente todos os países desta área. Que capacidade negocial conseguiria hoje ou dentro de alguns meses um secretário geral russo, ucraniano, uzbeque, etc. ?
A alternativa estará no espaço europeu. Os últimos eleitos partiram sempre de dentro do aparelho. Guterres é um comissário das NU com origem na Europa, homem da engrenagem, de low profile, ideal para não assustar, fez um excelente currículo, mormente ao granjear apoios sólidos para a causa a cuja defesa preside, é cidadão dum país dependente, fator nunca desprezível. Moderado, excelente negociador, vem arregimentando mais e mais apoios substantivos. Bem pode Durão Barroso espernear nos maples de Davos. O cargo antecedente queimou-o. David Cameron também envia a Guterres umas farpas envenenadas, em brasa. Os europeus em geral ser-lhe-ão sempre pouco corteses, dado o tom político e o antieuropeísmo. Isso, a meu ver, só favorecerá o homem do sistema, António Guterres.
Dezembro 2014

Henrique Pinto

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