Quem disse ser
praticamente impossível a António Guterres ser o próximo Secretário-geral das
Nações Unidas? Políticos europeus, pois claro, e alguns jornalistas como ainda fazedores
de opinião em Portugal, não podia deixar de ser. Pois, ao invés, eu creio ser essa
uma possibilidade muito concreta.
Há sempre um grande
cinismo por parte de políticos e dos gabinetes comunitários, a espelharem
conjuntos de interesses. Um bom exemplo é o de Yves Horent, representante do
gabinete da Comissão de Ajuda Humanitária, da EU. Admitia em Junho último que, tanto
António Guterres, atualmente Alto Comissário das NU para os Refugiados, como Louis
Michel, Comissário Europeu para o Desenvolvimento e Ajuda Humanitária,
acreditavam ser Khurshid Mehmood Kasuri, o ministro dos negócios estrangeiros
do Paquistão, o próximo Secretário Geral. Atente-se bem na subtileza da
declaração, toda repleta de grande sentido de putativos consensos subterrâneos,
dispersante da passarada miúda.
Não tendo acesso direto a
tais corredores da intriga internacional temos os nossos amigos bem colocados
nalgumas dessas varandas onde se fuma sem que os interesses forçosamente se
esfumem. A próxima eleição deverá contemplar um candidato da zona de influência
do leste europeu. Cabe-lhe por direito. É por demais conhecida a imensa interatividade
do presente em hostilidades de praticamente todos os países desta área. Que
capacidade negocial conseguiria hoje ou dentro de alguns meses um secretário
geral russo, ucraniano, uzbeque, etc. ?
A alternativa estará no
espaço europeu. Os últimos eleitos partiram sempre de dentro do aparelho. Guterres
é um comissário das NU com origem na Europa, homem da engrenagem, de low profile, ideal para não assustar, fez
um excelente currículo, mormente ao granjear apoios sólidos para a causa a cuja
defesa preside, é cidadão dum país dependente, fator nunca desprezível. Moderado,
excelente negociador, vem arregimentando mais e mais apoios substantivos. Bem
pode Durão Barroso espernear nos maples
de Davos. O cargo antecedente queimou-o. David Cameron também envia a Guterres umas
farpas envenenadas, em brasa. Os europeus em geral ser-lhe-ão sempre pouco corteses,
dado o tom político e o antieuropeísmo. Isso, a meu ver, só favorecerá o homem
do sistema, António Guterres.
Dezembro 2014
Henrique Pinto
Os "corredores" tenebrosos da politica e diplomacia!!!
ResponderEliminarPois seja...
ResponderEliminarQuase dois anos depois deste escrito sinto-me feliz por ter acertado
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