Há dez anos estive na FIL
no jantar do seu octogésimo aniversário. Conheci-o no estrangeiro há décadas, a
filha Isabel – de parabéns pelo segundo lugar conquistado este ano pelo Colégio
Moderno no ranking nacional das escolas –, foi minha colega de Faculdade,
damo-nos bem. À Dra. Maria de Jesus, sua esposa – não esqueço a memorável
intervenção no Congresso da Oposição Democrática em Aveiro,
educadíssima mas
vibrante, à qual a polícia de choque de Marcelo Caetano deu uma resposta
impiedosa -, liga-me uma amizade vincada. Juntos calcorreámos musseques de
Luanda, com Vítor Ramalho, procurando hipóteses de ajuda para debelar a pobreza
e miséria extremas. Juntos falámos na Assembleia da República para todos os
deputados sobre as necessidades para o apoio a África.
Concorde-se ou não com Mário
Soares ele é uma personalidade singular da vida do Portugal contemporâneo. Tenho
por ele uma grande estima. Resistiu sempre à baixeza de quantos o quiseram
humilhar e vilipendiar. Foi invariavelmente duma coragem à prova de bala. É um
homem culto, zelador dos princípios da social-democracia/socialismo
democrático, seguramente imparável até morrer. Faz domingo noventa anos. Bastante
lúcido, como Adriano Moreira, um homem a passar incólume pela história. E tal como
meus saudosos pais ao passaram pela sua idade, um estádio de não submissão de
todo raro, está pouco dócil quanto ao que toma por injustiça. Fala sobre isso como
o sente dizendo a «verdade de muitos».
Devemos-lhe todos muitíssimo
pela sua bravura, inteligência e empenho, mesmo quantos ora não toleram o estilo,
o espírito livre ou a solidez do seu apego à democracia. Vale a pena ler a este
respeito o último escrito de Henrique Monteiro no semanário Expresso. É absolutamente
notável e insuspeito. Parabéns Dr. Mário Soares.
Henrique Pinto
Dezembro 2014
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