Qualquer dos feriados
surripiados numa manobra de pura demagogia neoliberal, nada acrescentou à «riqueza»
ou à moralidade do país. Acabe-se, já é tempo, com os hossanas a uma suposta única
forma de suster o endividamento, um floreado mais desta cegueira. Afinal, por
culpa lusa, por culpa da estranja, por culpa de muitos, a via única veio a desembocar
num fiasco. Acabe-se com este espírito mesquinho que abocanhou a social-democracia/socialismo
democrático, e, num ímpeto autoritário, nos recusou alguma simbologia e algum
ócio.
Esta é uma olhadela
global.
Se ao invés do Dia da
Restauração da Independência o feriado invalidado tivesse calhado ao 5 de
Outubro, não seria menor a contestação, nem maior ou menor o espetro de razões.
Vejamos pois em particular,
Filipe II de Espanha, o rei Filipe I de Portugal, teve acesso legítimo à Coroa
portuguesa. Tal ficou a dever-se, não apenas à criancice dum rei imberbe,
criado pela avó, mas sobretudo ao papel nefasto dos Jesuítas portugueses,
sempre sequiosos de poder, no aconselhamento régio ao infeliz monarca, a
queimarem soluções. A dinastia espanhola trouxe a esta terra alguma
prosperidade. Tal como à Madrid da época, a dos austríacos, como é conhecida. A
1 de Dezembro de 1640 imperou a concretização da aspiração nacionalista e
patriótica dum amplo setor nacional, um golpe revolucionário a dar outra alma
ao país.
A queda da monarquia em
Portugal em 1910 resulta dum movimento um tanto semelhante ao daquela mudança
política de quase três séculos antes. Nada tem a ver em extensão e significado
com os ganhos sociais e políticos, por exemplo, dum 25 de Abril. Muito embora
também tenha posto fim aos efeitos duma ditadura, mas neste caso já moribunda.
Exceto nas eleições presidenciais de resto pouco mudou estruturalmente. Havia
até grande similitude de pensamento nas elites monárquicas e republicanas. E
deu-se mesmo certo retrocesso nalguns aspetos políticos importantes, como o
processo eleitoral (António Costa pretende agora, e bem, recentrar as eleições
em primárias e círculos uninominais, estes últimos abolidos em 1911), ou o
prometido e não concretizado voto feminino.
Portanto, ao contrário do
que diz Ribeiro e Castro, o Dia da Restauração é apenas mais uma das datas
ilustres e simbólicas do país (como o 5 de Outubro ou o 25 de Abril), cuja
celebração foi sonegada pela ignorância e subserviência do neoliberalismo
reinante.
Henrique Pinto
Dezembro 2014
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