quarta-feira, 4 de março de 2015

AI JUDITE, JUDITE!

«José Carlos Malato, 50 anos, submeteu-se recentemente a uma cirurgia para conseguir perder peso. O que o levou a tomar essa decisão arriscada, pois poderia correr risco de vida durante a operação, foram as dietas fracassadas e os dois enfartes sofridos», lê-se na folha de rosto MSN.
Conheci Malato quando ele era magro. Na altura teve a gentileza de, graciosamente, ter feito a voz para um spot sobre a coleta de fundos para a erradicação da poliomielite. A meu pedido (recusam-se todas as colagens) a administração da RTP presidida por Almerindo Marques, com Luís Andrade a diretor (obrigado ainda a ambos os amigos), fez esse pequeno filme de 20 segundos. De hora a hora passou nos quatro canais da estação televisiva durante uns meses e foi visto por milhões de pessoas mundo inteiro, quando replicado. Lembro-me de ter sido reconhecido num aeroporto africano quando o anúncio estava no ar.
Gostei sempre muito da cidade de Chicago. Num domingo de 2005 em que se fez a minimaratona do centenário Rotary, vi milhares de pessoas fazendo desporto fora do trajeto oficial. Há imensos parques e circuitos desportivos, nomeadamente o da Marinha onde Obama proferiu o primeiro discurso de presidente. As televisões emitem spots sobre desporto, qualidade de vida e alimentação saudável, pagos pelo município. E ao invés do resto da América, as pessoas são magras e elegantes.
Em Portugal a Nutrição é um mundo de tubarões e de concorrência pouco ilustrada. Judite de Sousa como pivô dá-nos conta doutro pretenso estudo de Cambridge a dizer que «o sedentarismo mata mais que a obesidade». Como se o excesso de peso fosse despiciendo! Ora, o primeiro está a montante da segunda como uma das suas causas. Combater um e minorar a outra. Todavia, pedagogia não há nenhuma. Olhamos do ponto de vista clínico para as perdas de peso rápidas e acentuadas, para as dietas da moda, equilíbrio de calorias e de exotismo, e entorpece-nos o olhar. Aos que nadam em tais águas é como fazer trapézio sem rede. Na ausência duma educação alimentar, sem seguimento de manutenção, tanto dietético como espiritual, o retorno ao gólgota do peso é inevitável e mais gravoso.
Segundo a observação de tais notícias, pode bem ter sido o sucedido com Malato Correia. Assim os portugueses possam fruir da sua experiência negativa. Com os votos pessoais de toda a sorte do mundo.
Março 2015
Henrique Pinto

In Diário de Leiria e Distrito Online

Sem comentários:

Enviar um comentário