Ficará sempre a opção de
cada um, acreditar em jornais estrangeiros não tabloides, e destaco aqui o
periódico britânico The Guardian, independente, ou na verve incomodada dos «primeiros»
ibéricos. A pose duma ministra portuguesa ao lado de Wolfgang
Schäuble, a declaração aos berros em
pleno conselho Europeu, contra os gregos, por parte do ministro das finanças
espanhol, candidato para a ser o próximo presidente do Ecofin, são posturas egoístas
na defesa de interesses pessoais e de casta.
Tem a a sua graça, tanto o
nosso «primeiro» como o «primeiro» vizinho, este por interposta pessoa, vêm
neste fim de semana falar num Bloco Central alargado (provavelmente à dita extrema
esquerda). Um deles já fala em maioria absoluta. Ora, queiram ou não isto é
mérito do voto grego de cidadania e desconforto. E, provavelmente, do sucesso
mitigado do «financeiro» helénico.
Sabe-se que, países onde
nunca se conseguiu aproximar o nível de vida de todos os cidadãos, têm
normalmente populações menos letradas, com um grau menor de cidadania assumida,
e, diga-se sem medo, um patamar mais baixo de respeito pelos outros. E os maus
exemplos partem quase sempre de cima. Refletem-se do púlpito à estrada.
Daí nada estranhar se esta «gentinha» de poder voltar a ganhar eleições.
O ministro das finanças
helénico já ensinou na universidade do Texas e era até há um mês docente
universitário em Atenas. São lugares de peso enquanto intelectual. Mas em quinze
dias viu-se projetado para uma ribalta mundial ao mais alto nível, difícil até
de imaginar. E logo teve de dialogar com um monte de sumidades, incluindo Wolfgang
Schäuble.
Lembram-se do filme «12
homens e uma sentença», de Sidney Lumet (1958),com Henry Fonda, onde este
representava o 12º Jurado a opor-se ao consenso entre os outros onze? Pois no
final da reunião, era tal a força dos seus argumentos, os doze comungaram duma
opinião unânime, a dele mesmo, o minoritário acossado. Na verdade, o ministro
grego levou para casa o que, estrategicamente, o seu governo pediu (mais coisa
menos coisa). Mas qual foi a onda varredoura da tal imprensa imberbe, dos
«comentadores» e dos «primeiros»? Não tenho o à vontade para lhes chamar
ignorante.
Eu adoro a Grécia como
país, como história, como património, como saga de sofrimento. Já lá discursei
várias vezes com muito agrado. Mas detesto os gregos em geral. Embora eles mais
não sejam que o reflexo contextualizado da história político-social dos últimos
cem anos. Ainda hoje há o complexo luso com os espanhóis, aliás
sem qualquer
razão. Imagine-se que ainda em vida de muitos de nós eles nos tinham invadido,
mutilado e humilhado? Não o fizeram. Mas os alemães afrontaram desse modo os
gregos, continuadamente. Leiam, pá, não custa assim tanto!
O oposicionista mor tem
apostado numa estratégia de não comprometimento. Na verdade faltam muitos meses
para o ato eleitoral. Bem tem sido espicaçado pelo situacionismo, pela imprensa
imberbe e mesmo por alguns intelectuais. Eu compreendo-o. Ele sabe que tudo o
que disser com alguma diferenciação será motivo para desgaste rápido, pouco
aconselhável a quem quer almejar a vitória. Ele tem noção da ignorância
reinante, do peso do Estado na informação, etc. Mas não deixa de ser um jogo de
risco.
Março 2015
Henrique Pinto
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