segunda-feira, 2 de março de 2015

JOGO DE ALTO RISCO

Ficará sempre a opção de cada um, acreditar em jornais estrangeiros não tabloides, e destaco aqui o periódico britânico The Guardian, independente, ou na verve incomodada dos «primeiros» ibéricos. A pose duma ministra portuguesa ao lado de Wolfgang Schäuble, a declaração aos berros em pleno conselho Europeu, contra os gregos, por parte do ministro das finanças espanhol, candidato para a ser o próximo presidente do Ecofin, são posturas egoístas na defesa de interesses pessoais e de casta.
Tem a a sua graça, tanto o nosso «primeiro» como o «primeiro» vizinho, este por interposta pessoa, vêm neste fim de semana falar num Bloco Central alargado (provavelmente à dita extrema esquerda). Um deles já fala em maioria absoluta. Ora, queiram ou não isto é mérito do voto grego de cidadania e desconforto. E, provavelmente, do sucesso mitigado do «financeiro» helénico.
Sabe-se que, países onde nunca se conseguiu aproximar o nível de vida de todos os cidadãos, têm normalmente populações menos letradas, com um grau menor de cidadania assumida, e, diga-se sem medo, um patamar mais baixo de respeito pelos outros. E os maus exemplos partem quase sempre de cima. Refletem-se do púlpito à estrada.
Daí nada estranhar se esta «gentinha» de poder voltar a ganhar eleições.
O ministro das finanças helénico já ensinou na universidade do Texas e era até há um mês docente universitário em Atenas. São lugares de peso enquanto intelectual. Mas em quinze dias viu-se projetado para uma ribalta mundial ao mais alto nível, difícil até de imaginar. E logo teve de dialogar com um monte de sumidades, incluindo Wolfgang Schäuble.
Lembram-se do filme «12 homens e uma sentença», de Sidney Lumet (1958),com Henry Fonda, onde este representava o 12º Jurado a opor-se ao consenso entre os outros onze? Pois no final da reunião, era tal a força dos seus argumentos, os doze comungaram duma opinião unânime, a dele mesmo, o minoritário acossado. Na verdade, o ministro grego levou para casa o que, estrategicamente, o seu governo pediu (mais coisa menos coisa). Mas qual foi a onda varredoura da tal imprensa imberbe, dos «comentadores» e dos «primeiros»? Não tenho o à vontade para lhes chamar ignorante.
Eu adoro a Grécia como país, como história, como património, como saga de sofrimento. Já lá discursei várias vezes com muito agrado. Mas detesto os gregos em geral. Embora eles mais não sejam que o reflexo contextualizado da história político-social dos últimos cem anos. Ainda hoje há o complexo luso com os espanhóis, aliás 
sem qualquer razão. Imagine-se que ainda em vida de muitos de nós eles nos tinham invadido, mutilado e humilhado? Não o fizeram. Mas os alemães afrontaram desse modo os gregos, continuadamente. Leiam, pá, não custa assim tanto!
O oposicionista mor tem apostado numa estratégia de não comprometimento. Na verdade faltam muitos meses para o ato eleitoral. Bem tem sido espicaçado pelo situacionismo, pela imprensa imberbe e mesmo por alguns intelectuais. Eu compreendo-o. Ele sabe que tudo o que disser com alguma diferenciação será motivo para desgaste rápido, pouco aconselhável a quem quer almejar a vitória. Ele tem noção da ignorância reinante, do peso do Estado na informação, etc. Mas não deixa de ser um jogo de risco.
Março 2015

Henrique Pinto

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