A Embaixadora de Israel em Portugal Tzipora Rimon e Acácio de Sousa no encerramento do 2º Concerto de Música Judaica, Igreja da Misericórdia, Leiria
1 Tudo conforme o previsto
Desengane-se quem pensar o liberalismo económico europeu como o
dito de Sibila, de Ovídeo, «viverá por mil anos». O resultado das últimas
eleições gregas traduz o vivo descontentamento das pessoas com a austeridade
que estropia (veja-se o exemplo brasileiro, da revolta entre a classe média).
Mesmo se o fato é exorcizado por alguma suposta intelectualidade portuguesa,
xenófoba (não Le Pen, obviamente) e ignorante. O grau de iliteracia, condicionante
da cidadania, é na Grécia de mais de sessenta por cento e em Portugal de 42% (1).
Não sei bem se os homens cultos e social-democratas do PSD terão lido o
livrinho do chefe mor, «Um Homem Invulgar», ou se foram condicionados. Dizer-se
que não havia outro caminho além do da
Adriano Francisco (já falecido), Waldemar de Sá (Governador em Rotary), Vitor Gonçalves, Henrique Pinto e David Gomes (Rotary Club de Leiria, VOG 1997/98
austeridade é um disparate perfeito.
Manuela Ferreira Leite, outra presidenciável de respeito, apontada para esse
pedestal por Adão e Silva, já plasmou e vituperou tal contradição na TV. Como é
um equívoco seguir o caminho do «fizeram muita asneira, incompetência…» ainda
que a tenha havido. Na verdade, na campanha eleitoral disse-se uma coisa e a
prática ditou o contrário. Mas tal prática estava previamente escarrapachada no
livrinho. Tudo se tem feito conforme o previsto.
2 A devedora
Ouvir-se depois desta
trapalhada que Tsipras está a torpedear a EU (2) é negar o poderem-se usar numa
discussão todos os argumentos legítimos na retórica. Tsipras venceu
legitimamente as eleições com grande dignidade e ascendente. Não é um
Tsipras de visita a Berlim (março 2015)
extremista. «Todos expressámos o desejo de ter uma solução proveitosa para toda
a Zona Euro. Respeitamos os Tratados, mesmo quando discordamos, mas falando
verdade e admitindo que há divergências», disse há dias, antevendo a que (…)
«em breve possa haver um acordo com as instituições». (…) «Somos nós que
pedimos as reformas, e não queremos que sejam outros a implementá-las», disse.
E, infelizmente, algumas
das subtilezas ou asperezas colocadas por si no diálogo de alto nível, deveriam
envergonhar muitos dos líderes europeus, sejam politicamente o que forem, e
particularmente a «devedora» Alemanha. Se houver confiança em Churchill ou
Gilbert, consultemo-los. Os «se tivesse sido assim» em história pouco valem. Só
os fatos são passíveis de interpretação.
3 Apoiar com denodo
A gestão presente do OLCA (3) herdou um aparelho cultural singular
no país num momento em que Portugal passa por uma crise de valores sem
paralelo. Se o
Henrique Pinto com Juíza Cacilda Sena e D. Antonieta Brito
exemplo não vem de cima, e de baixo é demolidor o peso da
iliteracia para a cidadania, donde para a cultura, pelo meio não há regulação
do que quer que seja nem a menor consideração por obras feitas e a fazer. Ora,
a virtude não deverá estar entre quem advoga «todos os direitos para todos» nem
entre os paladinos do «todos os direitos só para uns tantos». Poderá residir
algures na equidistância destes polos. Uma organização cultural como o OLCA, a
tocar o brilho cimeiro, escrevi nos últimos anos, sendo insustentável «tout
court» em liberalismo económico como o é qualquer uma similar não abençoada por
fundações de mecenas, tanto aqui como em Londres ou na Polinésia, precisa
entrar na era da produção artística, «ganhar o dinheiro para jantar». Apontei
na altura própria para a criação de produtos vendáveis construindo-se Obras
artísticas integradas, com a intrusão de todas as suas componentes (os
Rodrigo Queirós e Orquestra Luís de Freitas Branco (OLCA), Concerto Música Judaica, Igreja da Misericórdia, Leiria
bonitinhos de cada um são importantes mas só por si não significam avanços,
organizativos ou civilizacionais). Mesmo sabendo do «Yes but not in my
backyard» (4). Na maioria das circunstâncias os criadores/artistas/docentes,
até pela sua sensibilidade, compreensivelmente, refugiam-se na «quinta», sabe-o
Deus, quantas vezes legitimamente. Há muito patrãozinho país fora a abusar do
trabalho criador.
Maestro do Coro Orfeão de Leiria, João Branco
Tem de ser ganha a sua confiança, numa base de parceria. De
molde a instituir um clima saudável tipo AutoEuropa da cultura. Um ambiente
favorável a que, amadores e profissionais, dentro do universo artístico/pedagógico,
possam animar o sustento institucional. Se a ideia é valorar a cultura, o individualismo,
pessoal ou de grupos, na perspetiva que defendo há anos fundamentado na leitura
e na vivência, é o caminho menos indicado na atmosfera do novo liberalismo. Se tal
não for viável pode mesmo arruinar-se a Obra. Acácio de Sousa e David Gomes são
pessoas incontornáveis no OLCA de hoje, têm feito um bom trabalho, devem, a meu
ver, preparar-se para mais mandatos do que apenas o atual, assumindo-o desde
já. Uma catedral àquela dimensão requer imenso esforço, sensibilidade,
dedicação e imaginação mas, sobretudo, continuidade. Se a gestão é boa
apoiemo-la com denodo.
(1) Dados do Relatório UNESCO 2014
(2) União Europeia
(3) Orfeão de Leiria Conservatório de Artes
(4) «Não no meu quintal», em português
Henrique Pinto
Março 2015
Henrique Pinto, Bar Restaurante Pé do Rio, Leiria
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