1 Kill me later(1)
«Ainda sou do tempo em que
você era bestial…». É o bom amigo que, abraçando-me, mo diz ao ouvido. E
saiu-me, por brincadeira: «… e agora sou uma besta, não é?».
A empatia tem destas
coisas, sorrimos francamente, ambos sabendo que a maledicência paira sempre no
ar por mais impoluto ele possa ser.
Sempre saí pelo meu pé
donde quer que fosse. Fui invariavelmente louvado pelos meus mestres por estar
uns passos adiante dos meus pares. Lembro-me bem de, ao apresentar a minha
renúncia, aliás, por demais anunciada e preparada, da liderança cultural, ter
deixado escrito «sei com absoluta certeza, mal vire as costas começam a tosar-me
à grande e à francesa, em Portugal somos assim, a inveja é consolo da
inanição».
Emociona-me o apontar os
heróis, os que trabalham, as pessoas de sucesso a expensas suas, pensadores
livres, os construtores de catedrais. E faço-o amiúde como dever cívico. Quanto
a vilões, desses fale quem quiser!
É, hoje como ontem, algo
que me não perturba. É assim mesmo. «Kill me later!».
2 Nóvoa, Castro, coragem
Devem-se a Sampaio da Nóvoa, reitor honorário da universidade de
Lisboa, um intelectual do dito centro esquerda, homem da cidadania, a melhor
forma de representatividade, palavras corajosas, não circulares, como «Devo a
Abril tudo o que sou», (…) «Chegou o tempo da coragem e ação», (…) «esta
Europa» quer «esta União
Económica e Monetária, já não nos servem», (…) a
mudança depende de «nós». «Assim como em Abril, temos que ser nós a contribuir
para mudar o panorama europeu», sublinhando, «É na Europa que podemos vincar a
nossa posição». Os tempos de austeridade são um «desastre», urge acabar com
«esta política antes que ela acabe connosco». Proferiu-as há dias num debate
sobre a cidadania quando o seu nome é insistentemente referido como possível putativo
presidente da República. Tal como o são outros amigos meus, de Oliveira Martins
e Paulo Morais a Henrique Neto. Têm fracas sondagens? Que importa isso agora?
Fui mandatário distrital duma candidatura independente de quem à partida teve
má imprensa e pouco se esperava. Dos 630 mil votos obtidos 100 mil deles foram-no
no distrito de Leiria. O bom nome de quantos o emprestaram foi assaz
significativo nesse florescimento.
Não se pode ostracizar quem muito fez de boa-fé sem que o
dinheiro, por qualquer razão, lhe chegasse para tudo, nem incensar
definitivamente quem muito poupou nas finanças desgastadas. Raúl Castro está
entre estes últimos num patamar bem elevado de respeitabilidade. Economista de
formação, com mais de 25 anos de gestão autárquica, conhecedor, conseguiu esse
feito notável dum saneamento financeiro bem custoso. Honra lhe seja feita.
3 Mulher de charme
Por bem conhecida que seja entre o público C e D, e embora o seu
charme toque igualmente as elites do social, uma mulher, sobretudo neste país, a
lançar uma Revista com o seu próprio nome e lograr vender nas primeiras horas
mais de 150 mil exemplares, estando de momento entre as divas de mais forte
intervenção, não o
consegue só pelo seu belo «look». Cristina Ferreira,
apresentadora, atingiu cedo esse Olimpo. Bonita, sim, mas inteligente, de
personalidade vincada e, num relance breve sem equívocos, agradável, workaholic,
imparável, perseverante, é, sem a menor dúvida, uma senhora de grande valor.
Claro, detesto aqueles produtos que anuncia, sobretudo os horrores alimentares,
no programa com o Goucha. Mas não se pode exigir aos sérios e interessantes que
sejam igualmente sábios.
(1)
«Matem-me mais tarde», do filme Focus
Henrique Pinto
Março 2015
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