sexta-feira, 17 de outubro de 2014

FEIOS, GORDOS E RIDÍCULOS

A descriminação em relação aos gordos é um fator histórico e conjuntural. Todavia, ao invés do que aprendi enquanto estudante de medicina, a obesidade é agora tida não como puro desleixo mas eminentemente como um fenómeno inflamatório – mediado exatamente pelos mesmos fatores químicos da inflamação já conhecida -, embora sem a tríade de sinais rubor, calor e dor.
E mais, há uma certa dependência do organismo em relação ao seu estado de gordo. A obesidade, mais do que causada por um regime alimentar com uma elevada carga energética, uma verdade indiscutível, é-o sobremaneira pelo hábito de ingestão de comida com um conteúdo errado em macronutrientes. Bastará então aprender a comer bem para emagrecer? É importante, sim, mas não suficiente. Porquanto é por igual relevante a vontade de mudar, o adquirir um novo estilo de vida, na convicção que o retorno ao regime anteriormente praticado conduzirá inexoravelmente ao ganho do peso entretanto perdido. Ora essa mudança não toca só a pessoa gorda em si mesma mas também a sua envolvência.
Imagine-se aquele padrão muito clássico de má educação – verificável transversalmente -, em que este ou aquele sujeito próximo não abdica da piada ou do ridicularizar e diminuir quem tem peso a mais. Isto é um exemplo de ambiente como o são os hábitos de convivência, o jantar fora por sistema, tarde, à pressa, vendo televisão ou a ler o jornal, abusar dos snacks todo o santo dia, deixar-se ir na publicidade, na moda, nas propostas fáceis e rápidas de cura, e por aí adiante. Ora a obesidade é o resultado da interação entre um indivíduo que tem algumas caraterísticas favorecedoras da suscetibilidade para a obesidade, e o ambiente, por sua vez indutor de suscetibilidade para produzir obesidade.  
Outubro 2014

Henrique Pinto

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