Há pessoas que viram a casaca frequentemente ao longo da
vida. Algumas, até, fazem-no várias vezes ao dia.
Os vírus também são assim. Evocam-nos o mimetismo da fala,
das ideias, como o dos efeitos letais, de certas figuras de suposta responsabilidade
social.
Podem ser (ou parecer) inofensivos. Mas se por qualquer
razão química ou ambiental mudam a sua camada de genes exterior, podem adquirir
uma capacidade mortífera suscetível de descontrolo de escala planetária. E o
contrário também é verdade.
Acontece assim, seja o vírus da gripe (todos os anos), do
sarampo ou do Ébola.
Razão porque se pode dizer sem errar, bastantes pessoas,
técnicos e intelectuais, um pouco por todo o mundo, ao reagirem contra a vacina
para a gripe A (era imperioso os países estarem preparados para o comportamento
viral tipo catavento), prestaram um mau serviço à Humanidade. Esta beneficiou,
felizmente, do turn over na virulência.
Sei que Francisco George conhece tudo isto como poucos
dirigentes no mundo. Sei que o ministro Paulo Macedo se informou
substantivamente com ele antes de poder intervir amanhã na Assembleia de
Ministros da Saúde na Organização Mundial de Saúde, em Genebra.
Assisti a alguns destes eventos durante mais duma década.
Conheci muitos homólogos do nosso diretor geral da saúde. Sei do que falo.
Provavelmente amanhã haverá um olhar mais fino sobre o
controlo do Ébola. E pode mesmo ter um raio de luz português.
Já tivemos alguma influência na política de controlo
aeroportuário. Mesmo se os dirigentes locais e institucionais se esquecem de
informar o seu pessoal. Mesmo se parte deste por vezes nem esconde a sua
ignorância e incomoda quem sabe!
Mas, a uma escala mais ampla, não basta evitar que o vírus
galgue fronteiras. É premente o auxílio organizado do mundo possidente (e não
me refiro apenas aos governos, falo sobretudo das corporações da indústria, do
mecenato financeiro, etc.), no plano técnico e no financeiro. Importa
estabelecer medidas de contenção no interior da Guiné Conakri, da Libéria e da
Nigéria. É de relevar, particularmente, o empenho na investigação científica, a
nível público (claro!), mas particularmente na indústria. Ninguém investe em
vacinas ou retrovirais!
Outubro 2014
Henrique Pinto
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