Na minha primeira
quarta-feira no CDC, Centers for Diseases Control and Prevention, dos Estados
Unidos, o centro de investigação operacional em saúde mais famoso do mundo, o
rosto contraiu-se-me, incrédulo, ao seguir corredores fora. Todo o pessoal da
casa, do empregado da limpeza à diretora, usava a farda da Guarda Costeira.
Pensava eu que trabalhava para o Departamento de Estado da Saúde, e era
verdade. Mas o centro depende operativamente da Navy (que orgânica complicada!),
talvez pela segurança extrema que uma tal organização requere. Não se fardando
todos os dias, os colaboradores acordaram fazê-lo num único período de
trabalho, sempre o mesmo.
Custa pois a crer ser
verdade a notícia amplamente expandida de ter um funcionário qualificado do CDC
dado uma informação, para mais via telefone, a permitir à enfermeira de Dallas,
acometida pelo Ébola, viajar de ida e volta, em avião, antes de os sintomas se
terem manifestado efusivamente. Ver para crer, diria São Tomé, e reitero-o eu
aqui com veemência.
Todavia, mais difícil de
imaginar é ouvir um primeiro ministro daqueles que nega hoje a evidência de
amanhã, numa presença televisiva invejável (talvez pelo seu ar de star La
Feria, pois ninguém a teve antes dele), acusar os jornalistas de vilipendiarem
o seu orçamenteco com o argumento de ser promotor de aumento na carga fiscal, e
dizer-se por isso «rodeado de aldrabões», quando a natureza do documento salta
à vista. É gato escondido com o rabo de fora. Só que estas coisas nos Estados
Unidos seriam publicamente imperdoáveis. E, que eu saiba, ninguém foi despedido
no CDC.
Acontece é não estarem os
americanos preparados para uma ameaça desta natureza. Muito embora, enquanto casos
de uma doença viral de grande letalidade, sejam mesmo assim de fácil controlo,
conquanto que previsto e organizado. Sabem o significado de ameaças singulares
desde a queda das Twinn towers. O pânico é admissível. E se a indústria farmacêutica,
em geral, não investe em investigação no campo viral, «isso é coisa lá para África»,
a posição aberrante da ministra da saúde finlandesa, a propósito do controlo
aeroportuário, revela também esta arrogância pouco cosmopolita, na verdade o
CDC conseguiu produzir os anticorpos tão necessários. Este resultado abre
caminho à cura generalizada e à prevenção do Ébola através da vacina daqui
decorrente. Obviamente, se não for Bill Gates, Marion Bunch ou outros que tais,
levará anos a chegar a África. Mas isso é outra história.
A mesma informação que o
tal primeiro ministro diz mentir, caiu em cima do diplomata mor, e creio que
bem, pela mais que certa condenação capital de ijaidistas lusos se as suas declarações
chegassem a algum lado. Afinal, só no resto da Europa estes regressos de supostos
adoradores do radicalismo islâmico, já ultrapassam as três centenas, segundo
dados das secretas dados a conhecer na imprensa. Fica-se sem saber, por agora,
se são unidades virais de capacidade mortífera superior às do Ébola, ou meros
convertidos a monges. Mas a pena capital não existe, felizmente, na legislação
europeia. Não cabendo assim a qualquer diplomata menos vocacionado fazer uso
dela numa entrevista radiofónica. Antes tivesse dado, tomando o exemplo de
colegas seus, europeus e americanos, uma palavra laudatória ao World Polio Day,
o dia que homenageia a saga por erradicar da terra uma doença pela segunda vez,
mais difícil de controlar e de letalidade superior ao Ébola, cuja eliminação,
esperada para 2018, representará uma das maiores vitórias da Humanidade. Há
voluntários a trabalharem para isso na Síria, Iraque e Jordânia. Contudo, nem
ele sabia e menos ainda o tal chamado de primeiro. Caso contrário poderiam ter
lamentado esta ausência informativa nos noticiários europeus.
Faz mesmo lembrar O
Alfaiate do Panamá!
Henrique Pinto
Outubro 2014
Sem comentários:
Enviar um comentário