segunda-feira, 6 de outubro de 2014

MAS OLHA, ÉS MAIS DO QUE EU!


Quase já só aprecio a crítica política se envolver o humor. Aí, por vezes, aceito até alguma arrogância, mas só aí. Na verdade, não me esqueço de ainda há pouco tempo ouvir dizer dos governadores civis serem uma inutilidade (hoje só chega à fala com os governos os do costume) e das reformas duma boa parte dos portugueses, mesmo se tendo trabalhado para elas, constituírem um roubo. Os deputados eram todos uns lãzudos a viverem do orçamento, impunha-se reduzir o seu número. Tínhamos excesso de entidades administrativas e funcionários a mais, autoestradas inúteis, etc. Hoje temos pouca gente competente. Era premente fazerem-se reformas estruturais… Ora, tudo o visto nos últimos tempos tem sido circunstancial e (estrutural? Onde), nem sempre fruto da deriva
europeia ou do ascendente alemão. Quando ocorre um debate de personalidades todos querem programas de governo. Se há alguém a aceitar um sistema eleitoral assente em primárias e por círculos uninominais, respeitador dos pequenos partido, e esse fulano se torna um putativo governante, impera o silêncio. Prefere-se titular o sujeito de arrogante por não ter saudado o adversário. Mesmo quando toda a gente sabe ser esse gesto de ostentação, mor das vezes, nada mais que uma falsa tolerância (para um tolo que um dia me ofendeu houve quem me instasse para lhe apertar a mão, porque isso era tolerância, o dar a outra face!). Que disparate! Ainda há quem censure as alianças para uma vitória como um indicador de pacificação. Será viável governar sem elas? Opina-se a uma voz pelo sim e seu contrário. Existe praticamente um concurso permanente na mira de se ver quem é mais populista. E estes, por sua vez, acusam-se mutuamente com tal epíteto. Curiosamente, não são os partidários do mais à esquerda ou mais à direita os únicos paladinos desta verve impúdica. Ela serve-se mais condimentada, ao centro, e quantas vezes entre correligionários. Não há soluções ideais, assépticas. E pior, parece não subsistir bom senso para as que são assim assim.
Henrique Pinto

Outubro 2014 

Sem comentários:

Enviar um comentário