Quase já só aprecio a crítica política se envolver o humor.
Aí, por vezes, aceito até alguma arrogância, mas só aí. Na verdade, não me
esqueço de ainda há pouco tempo ouvir dizer dos governadores civis serem uma
inutilidade (hoje só chega à fala com os governos os do costume) e das reformas
duma boa parte dos portugueses, mesmo se tendo trabalhado para elas, constituírem
um roubo. Os deputados eram todos uns lãzudos a viverem do orçamento,
impunha-se reduzir o seu número. Tínhamos excesso de entidades administrativas
e funcionários a mais, autoestradas inúteis, etc. Hoje temos pouca gente
competente. Era premente fazerem-se reformas estruturais… Ora, tudo o visto nos
últimos tempos tem sido circunstancial e (estrutural? Onde), nem sempre fruto da
deriva
europeia ou do ascendente alemão. Quando ocorre um debate de
personalidades todos querem programas de governo. Se há alguém a aceitar um
sistema eleitoral assente em primárias e por círculos uninominais, respeitador
dos pequenos partido, e esse fulano se torna um putativo governante, impera o
silêncio. Prefere-se titular o sujeito de arrogante por não ter saudado o
adversário. Mesmo quando toda a gente sabe ser esse gesto de ostentação, mor
das vezes, nada mais que uma falsa tolerância (para um tolo que um dia me
ofendeu houve quem me instasse para lhe apertar a mão, porque isso era
tolerância, o dar a outra face!). Que disparate! Ainda há quem censure as
alianças para uma vitória como um indicador de pacificação. Será viável
governar sem elas? Opina-se a uma voz pelo sim e seu contrário. Existe
praticamente um concurso permanente na mira de se ver quem é mais populista. E
estes, por sua vez, acusam-se mutuamente com tal epíteto. Curiosamente, não são
os partidários do mais à esquerda ou mais à direita os únicos paladinos desta
verve impúdica. Ela serve-se mais condimentada, ao centro, e quantas vezes entre
correligionários. Não há soluções ideais, assépticas. E pior, parece não
subsistir bom senso para as que são assim assim.
Henrique Pinto
Outubro 2014
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