Ouviam-se amplamente os
acordes do hino pátrio com a banda desfasada da voz de Elizabete Matos, das
grandes sopranos do mundo. Acontece. Sobreposto a este evento nobre o repórter televisivo,
com uma falsa postura de menino de coro, falava alto e bom som num direto.
Estupidez mesmo, não é?
Vi condecorado o senhor
Mexia – não lhe invejo o ordenado, a emparceirar com o de Jorge Jesus – e apenas
me lembro, governa um monopólio onde se praticam preços descomunais, e, ao
cliente, invariavelmente maltratado, retira toda a razão. Estas distrações, por
parte de quem condecora ou é assim alvo de homenagem, têm um significado
político muito feio.
Disse-me um dia um bom
amigo, gestor dum dos melhores Lares de Seniores do país, de preços acessíveis,
«dou instruções para os técnicos tratarem cada um dos residentes pelo seu título
académico». Inteligência e bom senso. Sabe ser o contrário uma despersonalização,
e no caso vertente, a não menorização do utente com uma vida longa.
Ouvi a um ilustre
magistrado português ser típico da magistratura em geral suprimir a todos os
cidadãos arguidos (incluindo quantos nem culpa formada têm) o tratamento por senhor
juiz, senhor doutor, senhor padre. Ou seja, nem Orwell foi tão longe! Deixa de
haver pessoas concretas.
Claro, isto também é moda.
E não me refiro à tipificação pós-moderna para não ouvir a risada amiga do
Joaquim Vieira. Embora o seja. Este estalinismo rejuvenescido é originário dos
cursos de gestão de recursos humanos daquele instituto superior cujo diretor se
arvora em escriba ultraliberal. De lá se podem ler também das piores teses de
mestrado do mundo cosmopolita. Veja-se bem quanto tais polos opostos se
assemelham.
O reflexo está no
comportamento dos trabalhadores mais novos duma enorme panóplia das grandes
empresas portuguesas, privadas ou ainda não, de suposto serviço público.
O rapaz que muito prometeu
e a tudo faltou, uma questão de mito urbano como refere (tão arrependido está a
ponto de só ver dependurados em braços alheios «sacos de promessas», afligido
com o cheiro de «bacalhau a pataco» da Rua do Arsenal), enveredou por uma rota
ultraliberal. Fruto disso privatizou a esmo, à custa do meu e doutros bolsos,
para, no limite, lograrmos tão péssimo tratamento como utilizadores.
Volto a Orwell, «todos são
iguais», não é? «Mas há uns mais iguais que outros». O ultraliberalismo sempre
conduziu os países, com prazos diferentes, a populações de apenas dois patamares,
muitos pobres e não muito ricos. Um dos líderes chineses de há uma década dizia
mesmo dentro do partido, «deixem enriquecer uns tantos».
Leiria, Junho de 2015
Henrique Pinto
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