É óbvio o genocídio social
das classes médias…
Os comentadores do futebol
vertical ou em altitude (que ignorância!) pressagiam algo de acrobático e uma
bola a passar-se muito acima das suas cabeças. Talvez por isso mesmo, ao referirem-se
ao «famosíssimo» Estádio Nacional de Santiago do Chile, a propósito do jogo
entre a seleção deste país e a do Equador (Copa América), tão pouco soubessem a
razão para tal renome. E no entanto foi ali que na segunda metade de Setembro
de 1973 foram mortos e estropiados milhares de cidadãos em nome do dinheiro. O
derrube do governo socialista de Salvador Allende pelas tropas dum ditador burlesco
e enfadonho, com o apoio da CIA, reinstalou no país na forma mais contra social
um mando de capitalismo extremo, fero e vil. Os povos têm dificuldade em
aprender quando tolhidos pelo gládio ou a verborreia dos incumpridores de
promessas, transfigurados ou não em «santinhos» dos arrabaldes «lupenados».
Os mesmos messias
encontraram eco na gestão Reagan para uma experiência económica mais canibalesca.
Este novo modelo económico hoje proeminente da Europa à China é tão injusto
para o grosso da humanidade como as heranças de Estaline a Hitler. Evaporam-se
as pessoas concretas, as classes médias empobrecidas, dominam os «empresários»
herdeiros dos resquícios públicos e sociais.
No final dos anos trinta
do século passado a família do médico Segismundo Freud emigra para Inglaterra,
onde já se encontrava parte da descendência, perseguida pelo regime do
«sargento austríaco». Vamos encontrar na pintura do neto Lucian, artista
sensível, carnal - treze filhos de quatro mulheres -, retratos expurgados da
expressão de sentimentos, não raro personagens duma carnalidade viva esboçados
sob uma luz forte. Os seus temas são as pessoas com as suas vidas distintas –
amizades, família, colegas, amantes e crianças -, gente retratada «não pelo que
quer ser mas pelo que é», relacionadas com a «esperança e a memória, a
sensualidade e a participação, a verdade...». Salta da psicanálise dos estudos
do avô, vertida no seu surrealismo de juventude, para a mais alta expressão do
figurativo, quase premonitória duma certa sociedade hodierna, de irrequietude
consciente e descrente, ou de vagas de desesperados, todos não mais que números.
É a singularidade a
massificar-se por força dessa ideologia económica livresca, em muitos casos
genuína, a lembrar aos portugueses o frémito igualitário de todos os leitores
apressados de 1974, prenhes de soluções de governança para o mundo.
Para a emersão desse mundo
privado de sentimentos resta-nos a tal irrequietude consciente que atemoriza o
amplo espetro político do Eurogrupo, da aliança comercial Europa-América e
quejandos ou os raros diretórios estalinistas, residuais, como em Portugal.
Henrique Pinto
Junho 2015
Sem comentários:
Enviar um comentário