Na Régua e em Vilar Real,
primeiro, e segundos depois por todas as terras ao longo do Douro português, decorreram
manifestações violentas contra a não privatização daquela estrada náutica,
quando o maioral já vendera o Tejo a empresários chineses. Os modernos e
luxuosos overcrafts, comprados com o remanescente das reservas suficientes, dos
cofres cheios, ligavam agora Cacilhas ao Cais das Colunas. As pontes haviam
deixado de funcionar por falência da Lusoponte, face ao baixíssimo custo dos
bilhetes.
Todavia, este figurante mandão,
por quem se não daria um chavo enquanto angariador de fundos para formar
trabalhadores inexistentes, o trabalho que lhe é conhecido, resgatado pelo pai
aos comunistas e aos elencos La Féria para liderar um team ultraliberal (coisa fácil por não serem necessárias grandes
derivas ideológicas, foram mesmo os investidores chineses e alguns maoistas da
sua equipa a recordar-lho), andava agora com pesadelos.
A colónia sueca atraída
pelos vistos Gold tomara o Estoril. Habituada aos transportes públicos não
queria os comboios geridos por privados, quem sabe se por orientais. E logo
agora quando apenas deixaria a TV na esfera pública. Não nos podemos esquecer, motivações
estritamente ideológicas à parte, nem sempre se pode contar com os tabloides, a
imagem dá muito jeito.
Pesadelos só por isto?
Vejamos.
A nostalgia da Baía de
Luanda atormentava-o, mesmo com a restauração de monopólios da luz, e outros,
não lograra ainda fazer de Lisboa uma cidade tão barata como a sua capital africana.
E esses chatos dos investidores frustrados do Santíssima Trindade, galera
inconsolável e barulhenta, esperava-o com espavento em todas as esquinas. Já
reconduzira o chefe da capela-mor gerador indireto deste problema não fosse ele
começar a sacudir a caspa do casaco (leia-se responsabilidades) agora que vêm
aí eleições. Até lhe apontavam um aparte deliberado dizendo que elas se podiam
lixar. Mas tal era uma imensa provocação da gentalha oportunista, um mito
urbano mais.
Bom, mandou arrestar tudo,
pertença do pessoal da Santíssima (deixou de fora o amigo troca tintas,
porquanto ele está a tratar da recuperação financeira dum clube desportivo e
com essa gente nada quer), mesmo se ninguém dentre eles está constituído arguido.
E logo os média pressurosos e bem municiados dos régios segredos fundamentaram
tal decisão: assim haverá dinheiro para ressarcir os tais investidores frustrados.
Brilhante, não é?
Essas recordações da terra
açafrão, onde enquanto jovem lhe chegavam rumores das sargenteadas a ganharem
poder, eliminando ou segregando os ocupantes dos cargos apetecíveis até aí, levara-o
a congeminar o engavetamento do seu antecessor, pouco importa se culpado ou não
de algum encosto, e assim induzir o desvario nas hostes que se lhe opunham.
Amante do teatro, mas não
de tragédias gregas, arrepiara-o até ler doze páginas de Kazantzakis, falava grosso sobre os
viventes para os lados do Adriático. Vocês querem ameaçar o liberalismo extremo
protetor dos bons alunos na Europa? Pois vão-se embora, morram à fome e sem
luz, lixem-se para lá…
Um dos seus homens de mão,
duma boçalidade néscia de difícil contágio, em plena Dome, apelidara a clique helénica
no governo, de cirrose. Logo o maioral se lembrou, ufano, cirrose pois…, eles
vão precisar de fígados para transplante, pois nem um levam daqui, importa-me
lá o default, vão-se lixar!
Henrique Pinto
Junho 2015
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