Foram
colegas e amigos de liceu nos anos sessenta. Ao ouvi-lo naquele programa de TV,
uma fastidiosa algaraviada da bola, sentiu o estômago a dar-lhe uma volta. Como
era possível aquele tipo sensível, tão bem dedilhava a guitarra em The rising
sun, dos Animal, aí pelos 14 anos, quando influenciava a malta a ler A Relíquia
de Eça de Queiroz, e citava aos quatro ventos a frase de abertura «Meu avô foi
o Padre Benoliel da Fonseca», estar para ali a polvilhar o ar, como se fora
Belzebu, do fanatismo mais iníquo. Uma relação de trabalho terminou. Renová-la
implicaria para o empregador gastar menos dinheiro quando o putativo empregado
tinha propósitos mais ousados. Pois bem, há ofertas boas, muda-se de ares.
Empresarialmente parece ser excelente aposta da nova casa.
Se há
feridas morais de permeio a TV é pouco indicada para se fazerem julgamentos de
carater justapostos sobre interesses negociais aparentemente de contornos
desconhecidos, mas legítimos. Já o ridículo duma nota de culpa assente na
indumentária dum protagonista desta história ou a incrível desmarcação dum
encontro para se acusar alguém de faltoso à mesma, atitude tão estalinista como
a provinda da gerência dum megastore apagando a imagem do primeiro ator numa foto de grupo,
comportamentos morais tão repelentes, quase passavam inapercebidos, coisa de
segunda linha.
Quanto ao
resto, se há ofertas de redução de «cachets» para metade ou aumento dos mesmos
para o dobro, mesmo se na primeira hipótese tal possa semelhar-se a um convite
à saída, legítimo também, trata-se do vultuoso mercado da bola a funcionar, no
rescaldo da derrocada do BES e no assomar de novos financiadores.
Tão importante
quanto esta faceta poderia ser o questionar-se, tanto a origem destes
financiamentos estapafúrdios, como a razão do CEO da empresa mais monopolista
do país ganhar praticamente o mesmo ordenado do desportista ora transferido (
«sempre gostara do trabalho e seriedade deste e continuaria a gostar»), esfolando
vivos os consumidores dos produtos que comercializa.
Henrique
Pinto
Junho 2015
Sem comentários:
Enviar um comentário