Reprodução
Assexuada (1)
O continuar do apoio do empreendedorismo empresarial, agora
consubstanciado num Protocolo de interesse mútuo firmado com a NERLEI,
através
do nosso querido amigo Dr. Jorge Santos aqui presente, abre mais horizontes de
esperança para a cultura. A cultura nunca foi autossuficiente nem de
autorreprodução ou reprodução assexuada. Mas agigantou-se quase sempre em
períodos de crise.
Os tempos mudaram radicalmente como o país. Mesmo tendo a região
de Leiria uma tradição musical forte desde o final do século XIX como é
possível que o atraso fosse tão profundo há trinta anos atrás? Sem vereações
culturais dignas desse nome, com poucas infraestruturas formais, sem alguém que
escrevesse uma linha nos jornais para além do professor Matias Crespo, do Dr.
Francisco Santos ou do João Guerreiro.
É por tudo isto que há agradecimentos de pura gratidão que levarão
uma vida a fazer.
Vós pudestes ouvir duas mensagens de grande profundidade e enlevo
e que me tocaram de modo intenso, proferidas por dois ilustres governantes, um
do passado, o Dr. Oliveira Martins, e outro do presente, o Dr. Jorge Barreto
Xavier. Todas as palavras serão escassas para lhes demonstrar o meu
reconhecimento.
Estou grato a todas as pessoas que desde menino me acompanharam,
me ensinaram, aos meus professores primários Amável e Elizabete, e a todos os
outros, aos amigões Sousa Ribeiro e João Ramos na Academia Coimbrã, às
primas
Zúquete e à Teresa Galo na Liga dos Amigos do Hospital de Santo André, aos
professores Ramos Lopes, J. Logan, Serafin Abajo Olea, Sampaio Faria e Arnaldo
Sampaio nas minhas quatro universidades
como estudante,
à minha ministra Maria de Belém Roseira. Estou grato, e
para me ater apenas ao OLCA, a todas as pessoas que desde Janeiro de 1983, me
ampararam nos corpos sociais do Orfeão, bem como a todos os maestros e às
direções artísticas e pedagógicas que se seguiram. Estou grato ao corpo de
professores, técnicos e trabalhadores doutra natureza, e à sua estima quase
omnipresente.
Os
protagonistas (2)
Mas há pessoas incontornáveis nas nossas vidas.
Desde logo a minha família direta, que em muito contribuiu para
que esta minha colaboração fosse viável, tranquila e estável. Bem hajam. Desde
logo também todos os ministros e secretários de Estado da Cultura (todos nos
visitaram) e os autarcas da região, de qualquer partido, meus amigos, pelo seu
extraordinário apoio, fãs incontornáveis do OLCA, que reputo de
marcantes para
a sua história pregressa. Mas relevo o saudoso senhor Joaquim Marques
Confraria, que rompeu com o passado autárquico a nosso favor na utilização da
logística pública, e depois Victor Lourenço, na gestão amiga da Dra. Isabel
Damasceno, com quem foi possível estabelecer um Contrato Programa
Câmara-Orfeão, singular para Leiria e paradigmático para o país. Relevo também
os amigos António Lucas – a Batalha tornou-se um polo musical tão importante
como Bath, em Inglaterra -, e Narciso Mota, extraordinários.
Na praxis interna, o Dr.
António Moreira de Figueiredo, que me antecedeu neste labor e me trouxe para
esta casa, tem lugar cimeiro. Acompanhou-me a par e passo nos 18 anos seguintes
enquanto amigo e presidente da Assembleia geral. Foi, como a esposa Maria
Helena, alguém muito especial. Na direção, que chegou a ter onze elementos,
três ultrapassaram de longe o imaginável, a ponto de poder dizer hoje, sem
hesitações, sem eles jamais teria sido possível sairmos da baixa mediania em
que antes se navegava, por maior que fosse o meu esforço.
O Engenheiro José Ferreira Neto, sempre disponível, sempre arguto,
moderado e engenhoso, mormente a lidar com o coro tradicional (a alma da casa),
quase sempre a remar em contrário. Ele e o «Quiné» foram os sustentáculos do
Orfeão na década 1973-83 quando algum setor desfalecia. Foram-no depois também
comigo como vice-presidentes. O «Quiné» dirigia o GTOL, Grupo de Teatro que
criou no Orfeão com maestria. É em sentido filosófico, um pós-moderno precoce.
Depois,
a D. Antonieta Brito, ao pegar o testemunho do seu sogro, Eduardo de Brito, o
esteio do Orfeão nos anos 40 e 50. Foi desde sempre a mais importante e
bem-sucedida das relações públicas do OL. Dirigiu como poucas vezes vi a outro
nível o voluntariado na casa, responsável por muitos milhares de refeições e
centenas de receções. Temos todos e teremos a sorte e o privilégio de a ter
junto de nós por muito, muito tempo.
Muito especial (3)
E entre os colaboradores há também alguém que é único. A Gracinda Moniz
entrou para o Orfeão uns meses antes de mim, pela mão do primo José Ferreira
Neto, para ser a secretária (a única), entre outras funções, tudo junto e a
meio tempo. Foi a pessoa que na minha gestão esteve em todos os programas, em
todas as realizações, que apoiou lealmente todos os elencos diretivos, e que
nunca reivindicou uma única hora extraordinária de trabalho dos milhares que,
no seu ministério, terá dado ao OLCA até hoje.
Sem tais amigos não teríamos chegado onde chegámos. Sem eles eu não estaria
aqui a ser preiteado pelo OLCA, por vós meus amigos, e, sobretudo, tão
orgulhoso do que me foi possível fazer.
Caríssimas amigas, caríssimos amigos, companheiras e companheiros, muito
obrigado pela vossa presença, pelo vosso trabalho, pela vossa dedicação e
amizade, pela vossa tolerância.
Desejo-lhes pessoalmente o maior sucesso do mundo. Bem hajam.
Henrique Pinto
29 de Novembro de 2013
(Discurso no Jantar Homenagem)