Depois duma decisão muito amadurecida e apoiada e dum período de
transição previsto por mim desde esse instante, a 30 de Junho deixei finalmente
a presidência do Orfeão de Leiria/Conservatório de Artes.
Foram trinta anos e
seis meses de muito ardor, de alguma dor, mas sobretudo de grande felicidade.
Foi praticamente metade da minha vida. De tal modo que, mesmo sendo reconhecido
pelo trabalho a outros níveis, e
designadamente como responsável pela Saúde em
Leiria, muita gente terá pensado que o Orfeão era a minha profissão, e
seguramente bem remunerada, tal a forma como em mil ocasiões as pessoas se me
dirigiram.
E no entanto, durante todo este período, voluntário como em tantos
outros empenhos, todos os meus dias foram diferentes, eu sempre estive em
várias latitudes e em diversas funções simultaneamente, e particularmente
naquelas que me asseguraram o sustento.
E fui assim no liceu, na universidade,
na vida. Muito antes de existirem os marcos atribuídos ao evoluir do pós-modernismo,
que hoje aqui confrontamos através do meu livro, e de que a diversidade é um
dos condimentos, eu já trilhava dessa forma o meu caminho.
Fosse no estudo e
como jornalista, fossem ambas as coisas e também desportista ou um amante do
mar, fosse estudante ou profissional, cantor em corais e dirigente associativo,
ou professor e médico, investigador e médico, médico em não sei quantas terras
por vezes a um só tempo, no
horror das urgências ou no carinho das consultas,
na grande paixão como é a da epidemiologia ou nos estudos de nutrição clínica,
anos de ser procurado por mais de vinte mil doentes, leitor inveterado de
milhares de
livros e revistas, cinéfilo por excelência, espetador de concertos,
de Tóquio a Joanesburgo, concertos de todos os géneros, de Peter Gabriel e Paul
Simon a Miles Davis, Benny Goodman, John Coltrane, Thelonious Monk ou Duke
Ellington (em boa parte privilégio de ter morado por longo tempo em Cascais,
outra paixão), e destes à Orquestra e Bailado Gulbenkian ou à
London Simphony, tantas
vezes revisitada no Royal Albert Hall Auditorium em Londres.
Henrique Pinto
2 de Dezembro de 2013
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