Tenho 64 anos vividos com satisfação. Só as tristezas comuns
a todos os que amam os seus e os veem partir me têm incomodado. Mas vivi anos
duros como todos os que cedo se deslumbraram com as blandícias duma democracia.
Sempre escrevi. Atestam-no os nove livros e mais de três mil artigos. E,
escriba do social, sempre toquei a política como o seu lado mais lúdico, às
claras, sem alguma vez hipotecar a minha consciência. Mesmo se o situacionismo
e os opostos coniventes me invejassem os passos e os procurassem tolher. Mas
deixei de o fazer. Estou farto de falar de incompetência e de propósitos
encobertos. Vou privilegiando as pessoas e a cultura no sentido amplo. Está tudo plasmado em Dias de Construção, aqui vertidos. É uma área
onde desde os 18 anos produzi algo que se vê. Sem nunca ser manga de alpaca em
qualquer estaleiro nem muleta coxa de partido algum. E sempre identifiquei estratégica
e
claramente o futuro. Lembro-me de a vida estar difícil e todo o bicho careta
(com exceções, claro está) rumar a Macau. Há sempre quem precise de caminho
feito para trilhar. Fazê-lo dá trabalho. Já corri o mundo, certo, mas não para
fugir, antes para o afrontar a favor de muitos. Talvez porque nunca me faltou um
regaço quente para colher afagos. E continue a crer que todos os dias podemos
ter Natal.
Henrique Pinto
Dezembro 2013
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