A minha amiga de Faculdade, a Mariana Oliveira, faz hoje 22 anos
lindos. Minha filhota querida acabou de fazer 29 anos. Meu saudoso pai faria
hoje 94, se fosse vivo. Gostava muito de dizer que nascera no dia de Maria
Callas, a diva que sempre admirou e hoje completaria 90 anos.
Claro, a vida é mesmo assim, nós como nossos amores, crescemos sempre
em ritmos e tempos desemparelhados, convergentes aqui ou ali. Garboso e dado
pelo sorriso cândido como o seu nome, estou a vê-o com o braço de Zza Gabor
enfiado no seu, amparando-a, e uma das manas Kennedy, à altura casada com Peter
Lawford, ainda a Maria Shriver não nascera, quase encavalitada das suas costas,
para descer do iate Santa Marta na Baía de Cascais. Tempos em que o Algarve era
algo longínquo e de pouco interesse. E uma meca tal Hollywood, no auge, vinha
por aí abaixo e pousava exatamente em Cascais.
Quando uns dez anos depois, fins da década de setenta, estive pela
primeira vez em Hollywood, vivia-se já a sua curva descendente. Os cenários
vivos de filmes como Rocco e Seus Irmãos, de Luchino Visconti, Os Dez
Mandamentos, de Cecil B. DeMille (logo desaparecido para sempre) ou o Tubarão,
de Spilberg, sinais de épocas bem diferentes, eram ainda o atrativo mor dos
estúdios da Universal.
Meu pai já estava francamente doente nessa altura, alheado da
curiosidade viva e do sorriso franco que o estigmatizara. Maria Callas
remetia-se ao desgosto, a voz embargara-se-lhe, ainda esteve por cá mas já não
era a mesma.
Fica-nos a saudade imensa (e a sua presença sempre viva), adoçada
pela juventude que nos acompanha e continua. Os tempos são hoje menos
descompassados. Ficou-nos a genica e o sorriso, mesmo nas pequenas
adversidades.
Henrique Pinto
2 de Dezembro de 2013
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