domingo, 1 de dezembro de 2013

MEU PAI, MARIA CALLAS E HOLLYWOOD

A minha amiga de Faculdade, a Mariana Oliveira, faz hoje 22 anos lindos. Minha filhota querida acabou de fazer 29 anos. Meu saudoso pai faria hoje 94, se fosse vivo. Gostava muito de dizer que nascera no dia de Maria Callas, a diva que sempre admirou e hoje completaria 90 anos.
Claro, a vida é mesmo assim, nós como nossos amores, crescemos sempre em ritmos e tempos desemparelhados, convergentes aqui ou ali. Garboso e dado pelo sorriso cândido como o seu nome, estou a vê-o com o braço de Zza Gabor enfiado no seu, amparando-a, e uma das manas Kennedy, à altura casada com Peter Lawford, ainda a Maria Shriver não nascera, quase encavalitada das suas costas, para descer do iate Santa Marta na Baía de Cascais. Tempos em que o Algarve era algo longínquo e de pouco interesse. E uma meca tal Hollywood, no auge, vinha por aí abaixo e pousava exatamente em Cascais.
Quando uns dez anos depois, fins da década de setenta, estive pela primeira vez em Hollywood, vivia-se já a sua curva descendente. Os cenários vivos de filmes como Rocco e Seus Irmãos, de Luchino Visconti, Os Dez Mandamentos, de Cecil B. DeMille (logo desaparecido para sempre) ou o Tubarão, de Spilberg, sinais de épocas bem diferentes, eram ainda o atrativo mor dos estúdios da Universal.
Meu pai já estava francamente doente nessa altura, alheado da curiosidade viva e do sorriso franco que o estigmatizara. Maria Callas remetia-se ao desgosto, a voz embargara-se-lhe, ainda esteve por cá mas já não era a mesma.
Fica-nos a saudade imensa (e a sua presença sempre viva), adoçada pela juventude que nos acompanha e continua. Os tempos são hoje menos descompassados. Ficou-nos a genica e o sorriso, mesmo nas pequenas adversidades.
Henrique Pinto
2 de Dezembro de 2013



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