Entre aqueles ou aquelas
do «eu bem avisei» descobri num destes dias uma senhora da minha idade,
locutora ou talvez nem isso, emplumada pelo botox transfigurado em cirurgias terapêuticas,
alguém a dizer-se empenhada num novo projeto social sem deixar de afirmar-se
«descrer na natureza humana» em absoluto. Ora tal não passa de prosápia
contraditória. É impossível haver um desfecho positivo num tal propósito.
Estava a decorrer o
importante congresso partidário e sucediam-se, intervaladas, entrevistas
televisivas e os discursos mais apelativas do certame.
Perante mais uma
pergunta sobre a putativa influência negativa no congresso e no partido em
apreço das peripécias rocambolescas em torno da detenção do último chefe de
governo, o diretor da TSF retorquiu, «temos de admitir que isso foi mais uma
construção jornalística». Na verdade, sucederá o mesmo com ao apontado desgaste
político do novo secretário-geral socialista. Trabalhe ele bem com o governo a
continuar assim e veremos se o afã jornalístico a criar desgraça o tocará minimamente.
Não estamos perante o sucedido em Atocha, no ataque terrorista, onde a
candidatura mais preferida nas sondagens na véspera do horror foi copiosamente
derrotada, porquanto os seus líderes mentiram com estrondo à população.
Mas pergunto-me frequentemente,
se conhecer a alma humana nos leva tanto tempo de estudo, e estamos ainda assim
em permanente confrontação com o desconhecido, donde chega este conhecimento supostamente
tão elaborado à plêiade de jornalistas novos (e mesmo comentadores),
inexperientes, para lidarem com o social e a influência política a que é
permeável? Contudo, vemo-los continuadamente a tocarem a mesma nota e os
resultados a desembocarem invariavelmente numa péssima sinfonia inacabada, qual
instrumento medieval de tortura. E, vamos lá, não acontece apenas em Portugal.
Mas acontece.
Henrique Pinto
Novembro 2014