Em Portugal
os poderes autárquicos (quaisquer que sejam, à direita e à esquerda) nunca
admitirão que lhes digam «estão errados», quando se trata de questões
eminentemente ambientais e de saúde. Começam logo a defender-se com os «exames
autónomos». Quantas vezes os «políticos» regionais da saúde (é sempre o
problema partidário ou o conluio da alternância) não acabam a sancionar com uma
reverência estas atitudes sobranceiras? Constatei tais chapeladas no passado. Combati-as
com firmeza. Adivinho-as em muitos gestos do presente.
Estou seguro
que Paulo Macedo e Francisco George tudo farão para tornear estes empecilhos na
difícil avaliação epidemiológica a correr, a propósito dum surto grave e muito
localizado de infeção por Legionella, em Vila Franca.
A fonte da
infeção está seguramente num local fora de «toda a suspeita» para alguns
responsáveis. Pessoas cuja boa vontade não é de excluir conquanto que se não
tome por um diktat.
Dou um
exemplo. Cheguei a confrontar-me com surtos de gastroenterite significativos
com origem na rede pública de água que se sabia tratada. Todavia, ou porque um
jeitoso qualquer (certa vez um autarca) fez um bypass na rede ligando-a a fontes conspurcadas (para poupar!), ou
porque a rede era extensa e elevados consumos a montante ditavam baixas na
cloragem a jusante, ou ainda porque certos empreendimentos de pessoas muito
respeitáveis poupavam na água recorrendo a perfurações superficiais.
A uma
investigação epidemiológica desta natureza é necessária franca autoridade
respeitada e diplomacia. A «boa vontade» oficial não deve fazer ninguém abdicar
de ir até ao fundo das questões.
Henrique
Pinto
Novembro 2014
Sem comentários:
Enviar um comentário