quinta-feira, 27 de novembro de 2014

FARPAS INÚTEIS

Tive desde sempre a convicção de o respeito pelas instituições ser apanágio dos países mais democráticos, com melhor qualidade de vida e maior rendimento por cabeça.
Em Portugal está a perder-se substantivamente este respeito. Talvez nunca tenha sido grande coisa. Porventura por razões várias. Mas muito provavelmente por causas de sentido oposto às que sempre considerei favoráveis.
Também não deixa de ser verdade, quem não se dá ao respeito seguramente não pode esperar tão dócil apreço.
A desvalorização de todos os valores do iluminismo francês oitocentista tem-se agudizado, inevitavelmente, na pós-modernidade. Daí que a «separação de poderes», criação de Montesquieu – ele também escreveu «causas da grandeza dos romanos e sua decadência» -, não escape a semelhante desgaste.
Quando nenhum indício sugere que tal apartar de águas seja hoje tido em conta – e pouco ou nenhum interesse resida nas farpas enviadas a este ou aquele cidadão «bem» colocado, por parecer espúrio e inútil julgamento -, não deixa de estranhar-se, ao invés, a avidez e o ar pio com que outros tantos usam a expressão.
Henrique Pinto
Novembro 2014



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