A ninguém deve alegrar o
mal de alguém, quem quer que seja. E se o bem de outrem é matéria para inveja
ou insídia, estamos na mesma. Muito para lá da moral cristã, e sobretudo do
cristianismo moderno – embebe-nos, mesmo se não partilhado nos seus rituais -,
a formação vivencial e intelectual do humanismo, ilumina-me nestes
pressupostos.
Ora, para mal do sentir de
muitos, o humanismo, é estado de alma em queda na pós-modernidade.
A situação do nosso país
incomoda-me dolorosamente. Em 2008-2010, depois da eclosão da crise mundial e
antes de me ter resguardado um pouco ao cansaço das viagens, cheguei a
sentir-me envergonhado quando me faziam perguntas embaraçosas lá fora. Mas
depois, e até há meses, a coisa tornou-se pior, quando nos chamavam de «lazy»
(preguiçosos) e gastadores. Em certos meios cultos e técnicos fica mal
desculparmo-nos com «a tristeza das governações», mais uma lição cruel para
quem não pode mostrar-se intelectual e animicamente chocado. Imagino o que não
me diriam agora com este volume de disfunções, um aparato desmedido e
desproporcionado, tanto sonso a tomar-se por puro e a tirar proveito duma comunicação
ignorante,
competitiva nas esferas do económico e do político, quando o país
foi ideologicamente empobrecido (e por via disso enfraquecido em todas as
perspetivas possíveis de ser encarado), com ganhos para um número crescente de
iluminados, conhecedores bem colocados e os já possuidores, para, imagine-se, se
tornar mais competitivo. É tal a lógica dos neoliberais. Uma lógica com traços
comuns à da China moderna, mesmo se com diferenças substantivas. Por isso eu
considero o novo liberalismo semelhante nos seus efeitos aos «ismos» mais antagonistas
dos anos trinta do século passado. Tem prevalecido, num silogismo de
apaziguamento e distanciação, a consigna feliz da oposição justiça/política,
mau grado o estar-se seguro, entra pelo olhar adentro, que esta contradição dificilmente
existirá nos tempos correntes.
Henrique Pinto
Novembro 2014
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