Está a
comemorar-se o 25º aniversário de derrube de Berlim. Terá sido também o
desmoronar dessa fase dura da Guerra Fria. Não fora a Perestroika, fruto da
determinação e clarividência do dirigente soviético, Gorbachev, e tal teria
tido outros contornos. É ele mesmo quem agora diz, nas celebrações da efeméride
na Unter den Linden, «a guerra fria está aí de novo». É algo desconsolador o
que se espera.
A Portugal
aflorou então a nata dos músicos e mestres desses países do Pacto de Varsóvia,
abertos ao ocidente pela ânsia das populações. Países onde a educação musical
era de excelência.
As nossas
orquestras, e particularmente a da Gulbenkian, tiveram contributos fabulosos. E
o ensino também. Depois foram abrindo concursos para instrumentistas um pouco
por todo o mundo. E de Portugal foi saindo esse escol único, transitório, de
grandes intérpretes, para satisfação dos dirigentes e maestros nas grandes
orquestras mundiais.
Outros foram
ficando, apaixonados pelo sol, a paisagem, a comida, presos pelo amor. Muitos
estão por aí. Alguns são meus amigos. Mas se os músicos tinham lugar em
qualquer lugar as barreiras de anquilose do ministério da educação, e a
diferença de perspetivas, às vezes nos antípodas, das suas direções regionais, dificultava
aqui as colocações, facilitava-as ali por falta de mestres. Foi assim que nos
Açores e na Madeira surgiu algum do melhor ensino musical vindo do leste.
Colónia,
bela cidade alemã à beira do Reno e do seu trânsito náutico infernal, cidade
musical por excelência, aloja o Centro para a Música Contemporânea, com a sua
belíssima catedral, faz parte do meu roteiro de eleição. Foi dali que a RTP2 e
a Antena 2 transmitiram na última semana o 17º Festival Eurovisão para Jovens
Músicos. A Orquestra Filarmónica de Viena acompanhou os intérpretes, tanto nas
provas individuais como na peça magistral, Fantasia para Colónia, obra encomendada
ao maestro Mark Addam, a dirigir a orquestra.
Lá estava o
candidato de Portugal, André Gunko, um violoncelista primoroso, adolescente, já vencedor do
Prémio Jovens Músicos da RDP, nascido no Faial, Açores, um desses briosos
filhos da diáspora de mestres do leste. Em Leiria, tivemos há dois anos a
violinista Tamila Kalambura, filha de mestres da Ucrânia e igualmente nascida
nos Açores, outra das nossas grandes intérpretes. Este é o melhor contraponto
ao que Gorbachev, e muito bem, anuncia como espectável.
Venceu o
certame um adolescente chinês, Ziyu He, a estudar em Salzburgo, e que já por
duas vezes participou no Concerto de Abertura do imenso Festival Local. HP
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