segunda-feira, 10 de novembro de 2014

50 ANOS EM FORMA DE CORAL

No pós imediato 25 de Abril não tínhamos maestro no CELUC, Coral dos Estudantes de Letras da universidade de Coimbra. A Isabel Cristina Pires ia fazendo o que podia. Até que, inquirindo aqui e ali, o mestre Fernando Lopes-Graça nos disse, «estuda no Técnico um jovem muito promissor…». Procurámo-lo e aceitou de imediato ir duas vezes por semana a Coimbra e dormir num colchão assente no pavimento do meu quarto. 
 Hoje o maestro Jorge Matta, diretor do Coro Gulbenkian, é professor doutor na universidade nova de Lisboa no Departamento de Ciências Musicais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, dirigiu vários programas televisivos, orquestras e coros (trabalhou dois anos no Orfeão de Leiria, tal como muitos dos seus discípulos), esteve à frente do Teatro Nacional de São Carlos a instâncias da nossa querida amiga comum, Tereza Vaz Pinto, e é das figuras dominantes da musicologia portuguesa.
Escrevi em Do Estado Novo ao Pós-modernismo Cultural, o meu último ensaio, «Conhecera Madalena Perdigão em Coimbra numa visita ao Conservatório da cidade. Ela dirigia o Serviço de Música da Fundação Calouste Gulbenkian. Quando cedo se aprende que a diplomacia da cultura é absolutamente fundamental (o trajeto como diretor do CELUC, enquanto estudante universitário, fora bem elucidativo), para o seu sucesso institucional (os exemplos de carácter irascível que em muito contribuíram para o êxito das artes são idiossincrasias muito pessoais), a responsabilidade não permite que se deixe tal mister perdido em mãos alheias.
Apresentado o Programa de Trabalho aos membros da direção do Orfeão de Leiria, a que presidia há poucos dias, logo em Fevereiro 1983 se contactou aquela líder da Gulbenkian, que, de pronto remeteu a entrevista para Maria Fernanda Cidrais Rodrigues, sua subdiretora. Foram breves momentos encantatórios que desembocaram no grande acontecimento de hoje, «Música em Leiria».
Jorge Matta foi das personalidades musicais mais assíduas deste certame.
Pois Madalena Perdigão (que antes casara com o patriarca da Fundação, Dr. Azeredo Perdigão) foi diretora do seu Serviço de Música, tendo criado a orquestra, o coro e o bailado desta prestigiada instituição.
Realizou-se agora um espetáculo coral, enorme em beleza e intervenientes de qualidade, o culminar duma semana de trabalho intenso, centrado no aniversariante Coro Gulbenkian, organizado por Jorge Matta. Tratou-se duma efeméride relevantíssima, 50 Anos de Coro Gulbenkian. Congregou o trabalho de boa parte dos maestros da Fundação a trabalharem pelo país, nomeadamente em Leiria. A não intervenção do Orfeão de Leiria neste momento chave da música coral em Portugal foi assaz notada (embora alguns dos seus membros tenham integrado a título individual um outro grupo participante!). Tem, com certeza, alguma razão forte, porventura incontornável. Mas é pena!
Henrique Pinto

Novembro 2014

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