No pós imediato 25 de Abril não tínhamos maestro no CELUC, Coral dos
Estudantes de Letras da universidade de Coimbra. A Isabel Cristina Pires ia
fazendo o que podia. Até que, inquirindo aqui e ali, o mestre Fernando
Lopes-Graça nos disse, «estuda no Técnico um jovem muito promissor…». Procurámo-lo
e aceitou de imediato ir duas vezes por semana a Coimbra e dormir num colchão assente
no pavimento do meu quarto.
Hoje o maestro Jorge Matta, diretor do Coro
Gulbenkian, é professor doutor na universidade nova de Lisboa no Departamento
de Ciências Musicais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, dirigiu vários programas televisivos, orquestras e
coros (trabalhou dois anos no Orfeão de Leiria, tal como muitos dos seus
discípulos), esteve à frente do Teatro Nacional de São Carlos a instâncias da nossa
querida amiga comum, Tereza Vaz Pinto, e é das figuras dominantes da
musicologia portuguesa.Escrevi em Do Estado Novo ao Pós-modernismo Cultural, o meu último ensaio, «Conhecera Madalena Perdigão em Coimbra numa visita ao Conservatório da cidade. Ela dirigia o Serviço de Música da Fundação Calouste Gulbenkian. Quando cedo se aprende que a diplomacia da cultura é absolutamente fundamental (o trajeto como diretor do CELUC, enquanto estudante universitário, fora bem elucidativo), para o seu sucesso institucional (os exemplos de carácter irascível que em muito contribuíram para o êxito das artes são idiossincrasias muito pessoais), a responsabilidade não permite que se deixe tal mister perdido em mãos alheias.
Apresentado o Programa de Trabalho aos membros da direção do Orfeão de Leiria, a que presidia há poucos dias, logo em Fevereiro 1983 se contactou aquela líder da Gulbenkian, que, de pronto remeteu a entrevista para Maria Fernanda Cidrais Rodrigues, sua subdiretora. Foram breves momentos encantatórios que desembocaram no grande acontecimento de hoje, «Música em Leiria».
Jorge Matta foi das personalidades musicais mais assíduas deste certame.
Pois Madalena Perdigão
(que antes casara com o patriarca da Fundação, Dr. Azeredo Perdigão) foi diretora
do seu Serviço de Música, tendo criado a orquestra, o coro e o bailado desta prestigiada
instituição.
Realizou-se agora um
espetáculo coral, enorme em beleza e intervenientes de qualidade, o culminar
duma semana de trabalho intenso, centrado no aniversariante Coro Gulbenkian,
organizado por Jorge Matta. Tratou-se duma efeméride relevantíssima, 50 Anos de
Coro Gulbenkian. Congregou o trabalho de boa parte dos maestros da Fundação a
trabalharem pelo país, nomeadamente em Leiria. A não intervenção do Orfeão de
Leiria neste momento chave da música coral em Portugal foi assaz notada (embora
alguns dos seus membros tenham integrado a título individual um outro grupo
participante!). Tem, com certeza, alguma razão forte, porventura incontornável.
Mas é pena!
Henrique Pinto
Novembro 2014
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