segunda-feira, 30 de novembro de 2009

PARA UMA LEITURA GEOGRÁFICA DAS TERRAS DO REI TROVADOR

Apresentação
Testemunhos diversos atestam uma presença humana antiga em diversos locais do território entre as bacias hidrográficas do Tejo e do Mondego. Factores de natureza geográfica e sobretudo de natureza histórica, relacionados com a ocupação humana desta faixa litoral, identificam-na como uma área de transição entre civilizações distintas: a atlântica, mais setentrional e a mediterrânica, a sul, separadas por traços climáticos e culturais diferenciados. A área do Pinhal Litoral, dominada pelo centro urbano de Leiria, encontra-se nos limites setentrionais deste vasto território que podemos identificar com a Estremadura Setentrional. No seu conjunto esta apresenta algumas singularidades que resultam, quer do processo histórico do povoamento desde a época da Reconquista quer de processos modernos e contemporâneos relacionados com o desenvolvimento local e regional, que ditaram a construção de uma rede de povoamento rural e urbano, alicerçada em actividades diferenciadas da sua população.
Esta a vasta região da Estremadura, que mereceu a atenção de outros poetas e prosadores, tais como Miguel Torga (“Portugal”), que sobre ela escreveu:
Terra onde a História não quis morrer, a Estremadura é no corpo de Portugal a figuração da sua própria alma. Na ondulação do grande Pinhal do Rei, no marulhar das ondas da Nazaré, na ressonância dos passos que percorrem a nave de Alcobaça, no silêncio contido da batalha, na intimidade do baixo-relevo de Atouguia, na melancolia castelã de Porto de Mós, na graça triangular e cintada de Óbidos ou no sorriso aberto dos horizontes de Palmela, há qualquer coisa de imponderável e profundo que está para além da simples corografia orgânica. Um ázimo pão sobrenatural mora nesses sacrários que a Charola de Tomar sintetiza. E porque foram os artistas os concretizadores e os teólogos da transcendência, é que o jardim nacional dos criadores deveria estender-se do Mondego até ao Sado”.
Esta descrição é justificada pela persistência de diversas marcas humanas, fruto das relações entre o homem e o seu meio ambiente, ainda visíveis na “expressão das relações entre o homem e a terra, resultante, por um lado, das condições naturais e por outro, da forma de colonização, modos de vida, sistema de exploração
(…) (Ribeiro, “Portugal”, 1955, 194), e traduzidas no crescimento, distribuição e actividades dos seus habitantes.
De facto, o conhecimento dos processos de ocupação do espaço pela população e das características da repartição e da ocupação do território pelos seus habitantes, ao longo da história e no tempo actual, é um processo complexo, designado por “povoamento”, tal foi anteriormente assinalado. Trata-se de um conceito já defendido por L. Vasconcelos que na sua “Etnografia Portuguesa” (1980.II, 256) define “povoamento”, como sendo o “estudo da origem remota ou recente das povoações que constituem Portugal (Continente, e Ilhas Adjacentes)”. Note-se que a própria designação do território evoca esse processo histórico de ocupação humana e a acção de diferentes agentes que contribuíram para o arroteamento da terra e para a fixação da actividade humana a sul da linha do Mondego.

Sobre o Rei Trovador
Vejamos alguns aspectos que permitem a caracterização desta terra habitada por D. Dinis, o rei Lavrador. A sua evocação tem em conta duas razões, ambas de incidência regional:
- a primeira, ditada por razões históricas e geográficas relacionadas com a actividade de povoamento, de fomento económico, de criação literária e de desenvolvimento cultural levadas a cabo por este monarca na área geográfica de Leiria;
- a segunda, a associação deste monarca à vida, à obra e aos valores cultivados pela Rainha D. Isabel de Aragão, cujos feitos em prol da paz e do bem ao próximo perduram no imaginário colectivo dos habitantes desta região. Uma memória alargada aos feitos do seu esposo expressa, por exemplo, na seguinte máxima popular: “El Rei D. Dinis, fez tudo quanto quiz”. Assim se refere ao monarca, o poeta Luís de Camões:

Eis despois vem Dinis, que bem parece
Do bravo Afonso estirpe nobre e digna,
Com quem a fama grande se escurece
Da liberalidade Alexandrina.
Com este o Reino próspero florece
(Alcançada já a paz áurea, divina)
Em constituições, leis e costumes,
Na terra já tranquila claros lumes.

Fez primeiro em Coimbra exercitar-se
O valeroso ofício de Minerva;
E de Helicona as Musas fez passar-se
A pisar de Mondego a fértil erva
(…)

Nobres vilas de novo edificou,
Fortalezas, castelos mui seguros,
E quasi o Reino todo reformou
Com edifícios grandes e altos muros;
Mas, despois que a dura Átropos cortou
O fio dos seus dias já maduros
Ficou-lhe o filho, pouco obediente
Quarto Afonso, mas forte e excelente”

“Os Lusíadas”, Canto III

Não se pretende construir uma biografia do monarca D. Dinis. Assinalamos apenas os aspectos mais relevantes da sua vida. Nascido em Santarém, filho de D. Afonso II e de D. Beatriz de Castela, em 1261, D. Dinis subiu ao trono em 1279, que ocupou até à sua morte, em 1325. Do seu longo reinado, de 46 anos, sobressai a assinatura do Tratado de Alcanizes, com Castela, em 1297, que fixou os limites definitivos da fronteira entre Portugal e este Reino. Realça-se ainda a actividade desenvolvida em prol do reforço da sua autoridade régia e a sua acção, junto da Santa Sé, conseguindo que a Ordem dos Templários viesse a dar lugar à Ordem de Cristo (1315), cuja acção se veio a fazer sentir por alguns séculos.
Quanto à sua vasta acção governativa, destaca-se o fomento que deu ao povoamento do reino através da fundação de povoas marítimas e da criação de feiras; o incentivo ao desenvolvimento da marinha, ao comércio marítimo e à exportação de produtos agrícolas para o norte da Europa; o fomento à agricultura e à florestação do território. A drenagem da bacia do Lis (paul de Ulmar) e a plantação do pinhal de Leiria foram obras incentivadas pelo “Rei Lavrador” (que fez longas permanências nesta cidade), cujos reflexos na economia regional ainda hoje perduram. Da mesma forma persistem vestígios das obras realizadas no castelo de Leiria com particular destaque para a sua torre de menagem e para o paço da Rainha Santa, na sequência da doação que D. Dinis fez de Leiria a sua mulher.
A sua intervenção nos domínios cultural e literário ficou assinalada pela criação da primeira Universidade em Portugal, o “General Studium”, em diploma assinado na cidade de Leiria, em 1 de Março de 1290. Igualmente conhecida é a sua actividade literária testemunhada pela diversidade das composições poéticas, sobretudo cantigas de amor e cantigas de amigo, que nos deixou. Destas, destacamos a que enleva as belezas da região:

“Ai flores, ai flores do verde pinho
se sabedes novas do meu amigo,
ai deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
Se sabedes novas do meu amado,
ai deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
Aquele que mentiu do que pôs comigo,
ai deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
Aquele que mentiu do que me há jurado
ai deus, e u é?
(…)

Nota final
Os aspectos evocados são alguns dos que permitem analisar esta área como o legado de um “complexo histórico-geográfico” no sentido em que V. Magalhães Godinho (1976) definiu ou seja, como um “um apetrechamento técnico determinado; (…) um conjunto de relações sociais (…); um espírito que norteia e motiva o comportamento dos membros dessa sociedade”. Bom seria que as condições ideais que identificam os sistemas sociais e humanos e o legado histórico desse monarca que hoje evocamos, pudessem servir de mote para uma acção mais profunda e envolvente que nos ajudasse a fortalecer e desenvolver nas suas múltiplas facetas, este complexo territorial e cultural, que hoje nos honramos de habitar. Nesse sentido são bem-vindas as iniciativas desenvolvidas por todas as entidades, tais como o Orfeão de Leiria, com a sua já centenária tradição em prol da cultura, da música e das letras, já glosadas pelo nosso rei Trovador e assim evocadas por Fernando Pessoa (Mensagem):

“Sexto Castelo – D. Dinis
Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
O plantador de naus a haver,
E ouve um silêncio murmuro consigo:
É o rumor dos pinhais que, como um trigo
De Império, ondulam sem se poder ver.
Arroio, esse cantar, jovem, e puro,
Busca o Oceano por achar:
E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar”.

Jorge Carvalho Arroteia
21 de Novembro 09
Oração de Sapiência na Abertura Solene do Ano Lectivo do Orfeão de Leiria Conservatório de Artes, pelo Professor Doutor Jorge Carvalho Arroteia, catedrático da Universidade de Aveiro, transcrita com a devida vénia

FOTOS:Gonçalo Lopes; Adelaide Pinho; Henrique Pinto e Jorge Arroteia; Gonçalo Lopes; Jorge Arroteia e Henrique Pinto (autor Sérgio Claro)

«ALL OF US CAN UNDERTAKE SMALL WORKS WITH GREAT LOVE»

This week we have four topics to discuss – use of the monthly newsletter, the Mother Theresa vision of what we are about; creative ways to find out what clubs are doing with literacy; and standards of literacy project excellence at the club level.
I. Use of the Monthly Literacy Newsletter – A Planning Tool for Clubs
Roger Hayward has just mailed the December-January literacy newsletter to the area coordinators and they will distribute it to their zone coordinators. The goal is to get the newsletter into the hands of the district literacy leaders and the clubs. Once that is accomplished the RI Literacy Resource Group hopes that someone in each club will take the time to read the newsletter articles with the intent of identifying possible new literacy projects for the club. Clubs whose districts fail to forward the newsletter to them can also access it at our secondary web site, http://www.rizones30-31.net/.
II. The Mother Teresa Vision of Rotary’s Literacy Projects – With application to the vision of a Rotary-led campaign to wipe out illiteracy - Provided by ZC Paulo Eduardo de B. Fonseca
(Brazil)
1. ZC Paulo Eduardo began a recent message to his zones with this quotation from Mother Teresa, «Few of us can undertake great works, but all of us can undertake small works with great love».
2. Paulo Eduardo then said, «The innumerable examples of projects which Rotary clubs in Zone 22A are undertaking…show not only great love, but, however small those actions may seem (individually), they do make a difference ( collectively) in the lives of thousands of individuals».
3. The Mother Teresa vision applies to all three categories of Rotary literacy projects – Basic Literacy, Functional Literacy and Character Literacy. But of particular interest to our RI Literacy Resource Group team is the application of this vision to basic
literacy and the goal of achieving universal basic literacy.
4. Paulo Eduardo’s vision of the “big picture” suggests a strategy whereby Rotary can become one of the most important unofficial partners in UNESCO’s campaign to eliminate illiteracy, worldwide, by 2015 (or a somewhat later date if 2015 turns out to be a bit premature). What is that strategy? For every club the strategy is to sponsor projects which eliminate illiteracy locally. For every district the strategy is to “sell” the vision to every club in the district. For every zone coordinator the strategy is to keep “knocking on the district governors’ doors” until the DGs open their doors, receive the message, and embrace the vision. For the area and general coordinators (also RI staff in Evanston and the RI president-elect), the strategy is to recruit zone coordinators who are up to the task and then provide them with the tools they need to get the job done.
5. There has been much talk about “literacy” becoming the next big worldwide RI project once we have eliminated polio. That, of course, is something the RI and the TRF boards wisely decided not to discuss until after we succeed in our polio campaign. But in the case of eliminating illiteracy it is not necessary for the boards to take the lead. A global Rotary campaign to eliminate illiteracy is something that can be done through a grass roots effort. Paulo Eduardo’s vision shows how and why that could happen.
III. This Week’s Inspiring Example of How a Zone Coordinator Might Deal with Non-Responding Districts – Maria C. Cisneros de Marsiglia
1. Like virtually every other zone literacy coordinator, ZC 23B (Argentina) Maria has been disappointed by the frequency with which district governors fail to respond to her request for reports of successful literacy projects.
2. Last year she managed, nevertheless, to get some great reports….. but not nearly as many as she wanted.
3. So this year she became more proactive. In addition to regularly asking for reports she also went to district newsletters and web sites as well as Google.
As a result she picked up a number of good reports which otherwise would have been withheld from her.
4. Note that the census now being conducted by zone coordinators is another way to proactively get information which districts and their clubs would otherwise not provide.
IV. This Week’s Example of One Answer to the Question, «Should a Rotary Club Focus on doing one BIG project or should the Club Focus on Five or More Less Ambitious Projects?». – The Rotary Club of Bedfordview (South Africa)
There was a time when the emphasis was on doing one major literacy project – the bigger the better. That is a goal which a majority of Rotary clubs do not yet have the capacity to achieve.
So, three years ago, the RILRG added a more modest goal of every Rotary club undertaking at least one literacy project. We also created the district literacy award to recognize what we expected would be the relatively small number of clubs which had the capacity to do five or more literacy projects.
Much to our surprise two districts showed that the goal of five literacy projects was something that all clubs in a given district could achieve. For the past two years all of the clubs in D5000 (Hawaii) and D6900 (Georgia) have earned the district literacy award. Some of those clubs completed one or more major projects as part of their menus of five or more projects. Other clubs did a number of relatively small, yet very important, literacy projects. But all completed at least five projects.
That kind of awesome performance requires a strong and passionate district literacy chair (Gloria King in D5000 and Brenda Erickson in D6000). So we will probably always have numerous districts unable to motivate 100 percent of their clubs to achieve the 5 project goal in any given year.
Nevertheless, the emerging standard of excellence for all clubs in the world is five or more literacy projects. Including a major project in the club’s menu of literacy projects is probably still beyond the reach of a large percentage of clubs. But all clubs should have a long run goal of building the club’s service capabilities to the point where a major project can be added to the list of five.
Zone Coordinator Chris Pretorius recently provided an example of a club which illustrates one of the many ways this can be done --- the RC of Bedfordview (South Africa). Here is what that club reported to ZC Chris in response to the literacy project census being undertaken by him:
1. Celebrated literacy day with a club program on the perilous state of education and why Rotary should support literacy projects.
2. Started a dictionary project
3. Observed literacy month by delivering dictionaries to three schools
4 Gave books to local schools
5 Started a library project in a local school
6 Presented a vocational award to a teacher
7 Did a Four-Way Test project – Put 4-Way Test stickers in dictionaries
8. The club’s major project --- Setshabelo AIDS Orphans Project
«This project is aimed at keeping orphans in their homes. Otherwise someone will ‘highjack’ the dwelling. The project is multifaceted in line with our belief that any literacy project needs to be holistic --- Teach but also feed and provide a variety of support and life skills. There is an aftercare center where we have
provided the kitchen and counseling room, as well as books, dictionaries and provided the electrical and sewerage reticulation».
9. Presented a PHF award to the community person spearheading the orphans project
There are thousands of other good examples among Rotary’s 33,790 clubs. The job of the RI Literacy Resource group is to find those examples, make the rest of the world’s clubs aware of a representative sample of them, and do so in a way which motivates lagging clubs to set a goal of five or more meaningful literacy projects.
Clearly the above comments raise a question about the Zone Literacy Award. For the last three years the criteria for the zone award included doing ten literacy projects. Would a better approach, starting next year, be to make the requirements for a zone award consist of (1) earning the District Literacy Award, and (2) completing one “major” literacy project?
The Future of Rotary Is in Your Hands
Richard Hattwick
November 09
PHOTOS: John Kenny visiting Pune Project in India; Henrique Pinto and long time friends Elsiane and Peter Thomas

«PEQUENAS OBRAS COM GRANDE AMOR»


A visão de Madre Teresa quanto aos Projectos de Literacia de Rotary – com aplicação à visão duma campanha de Rotary para pontapear a iliteracia – fornecida pelo Coordenador de Zona (CZ) Paulo Eduardo de B. Fonseca.
1 O CZ Paulo Eduardo começou uma mensagem para as suas zonas com a citação de Madre Teresa, «Poucos de nós conseguimos levar a cabo grandes obras, mas todos nós podemos encarregar-nos de pequenas obras com grande amor».
2 Então Paulo Eduardo disse, «os exemplos inumeráveis de projectos que os Clubes na Zona 22ª estão promovendo…denotam não apenas grande amor, mas, ainda que possam parecer obras pequenas (individualmente), fazem realmente a diferença (colectivamente) nas vidas de milhares de indivíduos.
3 A visão de Madre Teresa aplica-se a todas as categorias de Projectos de Literacia em Rotary. Mas é de particular interesse para a nossa equipa do Grupo de Recursos em Literacia de RI a aplicação desta visão à literacia básica e o objectivo de atingir a literacia básica universal.
4 A visão de Paulo Eduardo de um «grande retrato» sugere uma estratégia por onde Rotary se pode tornar um dos mais importantes parceiros não oficiais da campanha da UNESCO para eliminar a iliteracia do mundo inteiro no ano 2015 (ou talvez um pouco mais tarde se 2015 se mostrar um pouco prematuro). Qual é essa estratégia? Para todos os clubes a estratégia é patrocinar projectos que eliminem a iliteracia localmente. Para todos os distritos a estratégia é «vender» esta visão a todos os clubes do distrito. Para todos os CZ a estratégia é continuar a «bater à porta dos governadores» até que eles lha abram, recebam a mensagem e abracem a visão. Para os coordenadores de área e geral (e também o staff de RI em Evanston e o Presidente Eleito), a estratégia é recrutar coordenadores de zona que estejam à altura da tarefa, e depois adestrá-los com as ferramentas de que necessitam para fazerem o trabalho.
5 Tem havido muita conversa sobre a possibilidade da «Literacia» se tornar o próximo grande programa mundial de RI uma vez que tenhamos erradicado a polio. Isso, com certeza, algo que os executivos de RI e da Rotary Foundation sabiamente decidiram não discutir até depois de termos sucesso pleno na nossa campanha da polio. Mas no caso de eliminar a iliteracia não é necessário que os executivos tomem a liderança. Uma campanha global de Rotary para eliminar a iliteracia é algo que pode ser feito através dum esforço nas bases. A visão de Paulo Eduardo mostra como e porquê tal pode acontecer.
Richard Hattwick
Novembro 09
FOTO: Madre Teresa de Calcutá; Instituto Rotário do Brasil, à esquerda Luís Coelho de Oliveira e Gerson, à direita o saudoso Archimedes Theodoro e Luís Giay

PROTÉGEONS DU SIDA LES MÈRES ET LES ENFANTS

La Journée mondiale de lutte contre le sida est le seul jour de l'année où le VIH et le sida ne sont pas relégués au second plan par des problèmes apparemment plus importants ou plus urgents. Je tiens, en écrivant ce texte, à exprimer ma profonde préoccupation, particulièrement à l'égard des femmes et des enfants touchés par le VIH et le sida, car ce sont encore ces catégories qui sont les plus affectées par cette maladie et les plus vulnérables face à elle.
Il importe de rappeler qu'en 2008, 430 000 enfants sont nés porteurs du VIH, pour la plupart dans les pays sous-développés ou en développement. Dans leur quasi-totalité, ils sont voués à une mort prématurée et douloureuse. C'est là un fait qui donne à réfléchir, surtout si l'on considère que la transmission du VIH de mère à enfant a été pratiquement éliminée en Europe et en Amérique du Nord.
Nous devons faire en sorte qu'il soit mis fin à ces disparités. Aucune mère ne devrait mourir du sida ni aucun enfant naître porteur du VIH, où que ce soit dans le monde. En septembre, aux Nations unies, j'ai proposé que nous nous joignions tous à l'Onusida pour appeler à la quasi-élimination de la transmission de mère à enfant d'ici à 2015, mesure essentielle en vue de la réalisation des Objectifs du Millénaire pour le développement : cela, nous pouvons effectivement le faire.
Il s'agit d'objectifs qui sont réalisables, qui accélèrent le rythme de notre action et qui non seulement nous permettront de sauver des vies humaines face au sida, mais encore, nous le voyons de plus en plus, profiteront plus largement à la santé maternelle et infantile.
Il y a peu d'années encore, c'était davantage un rêve qu'un but réaliste. A l'époque, moins d'une femme sur dix recevait les médicaments dont elle avait besoin pour éviter à son enfant d'être infecté par le VIH.
Cependant, grâce aux importants investissements qui ont été réalisés dans le cadre du Fonds mondial de lutte contre le sida, la tuberculose et le paludisme, grâce aux efforts considérables consentis par l'Unicef, l'Onusida et d'autres organisations, grâce encore à l'action de milliers de professionnels de la santé dans le monde entier, les estimations les plus récentes de l'Organisation mondiale de la santé montrent qu'en 2008 le pourcentage global de femmes enceintes séropositives qui ont bénéficié du traitement nécessaire pour empêcher la transmission du VIH à leur bébé s'est élevé à 45 %.
Les programmes financés par le Fonds mondial pourront porter ce chiffre à 60 % en l'espace d'un peu plus d'un an, ce qui nous permettra d'accomplir un dernier effort pour traiter toutes les femmes porteuses du VIH d'ici à 2015.
L'exemple du Burkina Faso, pays où je me suis rendue voici quelque temps, nous montre ce que l'on peut faire. Dans ce pays qui est l'un des plus pauvres du monde en développement, j'ai rencontré des mères séropositives dont les bébés étaient en bonne santé ; des femmes enceintes en attente des résultats de leur test de séropositivité ou encore d'un traitement préventif contre le sida ; des médecins et des infirmières qui ne se sentaient plus impuissants face à l'épidémie de sida, mais qui étaient en mesure de guérir leurs patients car ils disposaient désormais des moyens nécessaires.
Si on peut le faire à Ouagadougou, rien n'empêche d'obtenir le même résultat à Nairobi ou à Lima, à Phnom Penh ou à Bangalore. Nous pouvons bel et bien mettre fin à la transmission du VIH entre les mères et leurs enfants.
Je ne suis ni médecin, ni chercheur, ni responsable politique. Je suis juste une femme émue par l'injustice d'un monde où l'on dispose des connaissances et des médicaments qui peuvent empêcher de transmettre le VIH et de mourir du sida, mais où des millions de personnes en sont encore infectées et en meurent encore.
Ce que je souhaite, c'est que nous puissions dire à nos petits-enfants que nous avons fait tout ce que nous pouvions pour que, partout dans le monde, des enfants ne naissent plus porteurs du VIH.
Montrons-nous capables de dire que justice aura été faite. Montrons-nous capables de dire que des millions d'enfants auront grandi entourés de l'affection de leurs parents parce que ceux-ci auront bénéficié de traitements contre le sida, et que cela aura pu se produire parce que nous aurons enfin décidé de donner à notre action l'ampleur et l'urgence que chaque mère et chaque enfant méritent.
Carla Bruni-Sarkozy
(Ambassadrice du Fonds mondial de lutte contre le sida, la tuberculose et le paludisme, chargée de la protection des mères et des enfants face au sida)
In Le Monde
Novembre 09
PHOTO: Carla Bruni-Sarkozy et Michelle Obama

DOING GOOD IN THE WORLD

My Amigos:
As The Rotary Foundation month comes to a close and we enter the celebratory holiday season, I would like to share some thoughts on why I am thankful to be a Rotarian.
I am thankful for the many good works of The Rotary Foundation that each and every day changes lives around the world.
I am thankful for and proud of Rotary's extraordinary effort to eradicate polio worldwide and know that we will soon see the end to this crippling disease.
I am thankful for the countless water projects that are being completed. Water is the source of life and bringing clean water to every corner of the globe will do more to eradicate hunger, disease, and death than anything else.
I am thankful that in spite of the world economic crisis, Rotarians continue to support The Rotary Foundation and its programs with their time, their talent, and their treasure.
I am thankful that we understand the importance of bringing literacy to every child in order that they may not just survive but thrive and have a real chance at a life worth living.
I am thankful for the many Rotarians who respond at a moment’s notice to help those who have been impacted by disasters. They are on the front lines and their actions save countless lives.
I am thankful for our Ambassadorial Scholars and Peace Scholars who are helping to change the world and bring about peace. Their contributions to humanity and the peace building process are immeasurable.
I am thankful for the countless young professionals who participate in our Group Study Exchange program and help build relationships between countries of different cultures. They, too, are peace builders.
I'm thankful for the tens of thousands of Rotary volunteers who work tirelessly on projects to make this a better world for everyone. They, too, are peace builders.
There is much more I am thankful for but most of all I am thankful for the fellowship and many friendships that I have made because of Rotary.
In the coming weeks as you celebrate the holidays in your own way, keep the work of The Rotary Foundation and Rotary International in your hearts and minds and recommit to give it your full support so we can continue to change the world. In this way, one person at a time, one project at a time, one day at a time, working together we will eventually bring about peace.
Your is Service to Rotary,
Frank J. Devlyn
November 09
PHOTO: Frank Devlyn with Henrique Pinto, Manuel João and Ruth Madureira Pires in Nairobi

domingo, 29 de novembro de 2009

«À BEIRA DA IRRELEVÂNCIA»

Dedica hoje o melhor de si mesmo à Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), cujo grande objectivo é «pensar, estudar e contribuir para o melhor conhecimento da realidade portuguesa», como se lê na sua carta de princípios. Mas não é de agora que António Barreto, 67 anos, gosta de números, factos, dados. À excelência com que tem vindo a desenvolver e profissionalizar esse gosto não foi certamente alheio o convite de Alexandre Soares dos Santos para presidir ao conselho de administração da FFMS. Foi nessa pele que, com sedutora fluidez e um grande conhecimento de causa, este ex-ministro, ex-deputado e ex-dirigente partidário viajou comigo pelo país. Os resultados são ácidos, a radiografia má, embora - surpreendentemente? - não concorde que o país esteja doente: «O nosso problema não é doença nem asfixia, mas sim dependência, o que é muito mais grave». Com brilho, sabedoria e substância, explica porquê.(…)

Dirige uma fundação que não só é totalmente portuguesa como é a primeira a visar exclusivamente esses objectivos...

Fazer estudos sobre a realidade nacional, torná-los públicos e organizar projectos à roda deles, sim, é caso único português. Os think thank que conheço são organizações para pensar, promover e publicitar ideias, mas são organizações programáticas, têm um programa político. Como nos Estados Unidos, onde grande parte destas fundações servem para organizar a discussão pública promovendo as ideias dos partidos republicano e democrático. Portugal é uma sociedade diferente e nem foi essa a vontade do fundador nem a minha. Não somos um think thank, na medida em que não temos um programa político. Temos uma carta de princípios. (…)

O que pode já anunciar?

Até à Primavera de 2010, creio poder ter já concretizados dois projectos a que chamamos, em linguagem interna, "permanentes" - durarão sempre. O primeiro - e digo-lhe o nome em primeira mão - chama-se Pordata, nome já registado, que serve para o mundo inteiro e para a net, sem acentos circunflexos, nem til, nem cedilhas... Por baixo há um subtítulo, "Base de Dados Portugal Contemporâneo": é a tentativa de agregar, organizar e homogeneizar os dados existentes sobre Portugal desde 1960 até hoje, em todos os domínios: demográfico, sanitário, educativo, populacional, emprego, desemprego, salários, vencimentos, justiça, cultura... Houve rupturas estatísticas nos últimos 20, 30 ou 40 anos que fazem com que muitas delas sejam deficientes e exista um enorme défice de informação pública. Não podemos obviamente produzir estatísticas - só as instituições oficiais o podem fazer -, mas estamos a coligi-las com uma fantástica colaboração do Instituto Nacional de Estatística - principal fonte de estudo - e ainda do Banco de Portugal, dos organismos da saúde e da educação, com as Ordens, por exemplo, que têm dados interessantes sobre as profissões. Harmonizaremos depois tudo isto de modo a estar disponível para todos. É de graça e será feito de modo tão moderno quanto possível, como as melhores coisas que se fazem no mundo!

Mais?

A segunda iniciativa é uma espécie de contraponto desta. Os números - tenho uma grande atracção pessoal por eles - têm uma grande vantagem: sugerem factos. E não há boas opiniões sem bons factos por trás. Em paralelo vamos lançar - talvez na Primavera de 2010 - uma colecção de ensaios, no verdadeiro sentido da palavra. Contactámos dezenas de pessoas, algumas delas têm prazos já marcados. E todas vão ser surpresas. Quais os temas?Os que são relevantes na vida nacional: saúde, envelhecimento da população, natalidade, mortalidade infantil. Mas também a propriedade, o ensino do Português, a corrupção, a organização de certos aspectos da justiça processual. A ideia é organizarmos 10 ou 12 por ano com 60 a 100 páginas, no máximo. Não produzirão factos ou estatísticas, não terão uma linguagem hermética. Queremos que sejam acessíveis a todos, para que todos fiquem informados. Não ambiciono concorrer com as telenovelas ou o futebol, mas muitas das pessoas que vêem telenovelas ou futebol poderão estar interessadas em lê-los. Aliás, os termos de referência com os autores são sempre os mesmos: não se trata de um livro de um jurista para juristas, de um economista para economistas. Destinam-se a especular sobre ideias, e por isso lhe disse que eram o contraponto dos factos. Quero discutir como se nasce e morre em Portugal, discutir os pobres e os ricos, a liberdade das empresas, a dependência do Estado. Quero uma opinião fundamentada e uma discussão informada.
É como se estivesse debruçado sobre a sociedade portuguesa. Como é a nossa sociedade?

É muito antiga, o que deixa marcas e faz dela uma sociedade complexa. E preocupada com a sua memória. Eduardo Lourenço diz que os portugueses sofrem por ter identidade a mais e eu concordo. Habituámo-nos a viver da memória, o que cria frustração. É também uma sociedade que vive obnubilada, obcecada com o seu atraso. A ideia de que há um problema de subdesenvolvimento e sociedades que se desenvolvem menos que as outras deve ter começado cá há 200 ou 250 anos! Havia a memória da grandeza, mas quando a seguir vem a pobreza ou o atraso é pior, funciona como mito. E há a ideia da periferia. Ainda hoje os portugueses pensam que não estão no centro do mundo e das coisas. Há uma invenção de que Portugal estava no centro do Atlântico e fazia a charneira, mas não é a mesma coisa que estar no centro. É o facto de estar num canto da Europa não sendo bem Europa, não sendo bem África, não sendo bem Mediterrâneo, não sendo bem Atlântico. Os portugueses há 500 anos que vão para qualquer sítio, para a emigração, para África, para as conquistas, para o Oriente, para o Brasil ou para o Atlântico... e agora não sabem para onde ir. Não podem ir para a Europa porque já lá estão. Há quem diga que Angola é novamente uma oportunidade. É uma relação interessante, mas é preciso reconstruir, sarar feridas, fechar cicatrizes. Não faço a mínima ideia se vamos conseguir e se os angolanos vão conseguir...
Mas houve mudanças e aberturas...

Sim, décadas de abertura com a emigração, a televisão, o turismo e, depois do 25 de Abril, as liberdades, as viagens, a integração europeia, a adesão, a liberdade do comércio. Os portugueses ficaram a conhecer o que há de melhor no mundo e portanto a ambicionar o que há de melhor no mundo. As pessoas querem ter o sistema médico sueco, o escolar dos noruegueses, as estradas dos alemães, os automóveis dos ingleses. Ambicionar uma coisa medíocre é em si mesmo um sinal de mediocridade. Os portugueses querem o máximo, simplesmente não são capazes de fazer o máximo: não têm organização, nem capital, nem empresas, nem experiência, nem treino.
E porquê, justamente?

Porque já estamos atrasados há 250 anos, porque perdemos 15 ou 20 anos com a guerra colonial, com uma ditadura que durou, durou, com uma Revolução que fez disparates, disparates. Tivemos de revolucionar e fazer a contra-revolução, nacionalizámos e privatizámos. Foi uma perda de tempo, de recursos, de energia e abriu feridas. Ainda hoje noto que Portugal tem uma maneira de fazer política mais crispada que muitos países da Europa. O primeiro-ministro, o chefe da oposição, os partidos da oposição falam uns com os outros no Parlamento aos gritos, evocando problemas de honra, evocando a mentira, a coragem, a vigarice. Nos debates parlamentares de Madrid, de Paris, dos Estados Unidos, ou até de Itália vemos que as pessoas são capazes de falar racionalmente, com bons modos e educação, sem que lhes falte energia ou têmpera. Mas nunca com esta crispação portuguesa, que se vem mantendo ao longo dos últimos 20 ou 30 anos. No fundo, o facto de os portugueses serem os mais pobres dos mais ricos cria uma terrível frustração... Fazendo parte dos ricos - parece paradoxal mas é verdade, há 150 países mais pobres que nós -, somos o último deles, e isso aumenta - nos a frustração. A distância entre o que temos e o que gostaríamos de ter é muito maior que noutros casos.
No início dos anos 70 a nossa situação era boa...

Continuo a pensar isso. Mas comparando com países que tiveram recentemente de fazer profundíssimas reformas, como a República Checa, a Polónia, a Hungria, a Eslovénia, dou-me conta de que estão a ir mais depressa e melhor que nós. Estão mais consolidados e, tendo menos anos de democracia, parece que têm mais. Têm melhor cultura, melhor formação e usam muito melhor que nós os meios que têm.
Qual a falta mais gritante?

Parece-me óbvio que há uma falta de empresários, de capitalistas. Será um problema ancestral? Vem da nossa maneira passada de viver e de gastar? Dos desperdícios? Do facto de os ricos portugueses terem vivido à sombra do Estado durante 200, 300 ou 400 anos? De o Estado ter ocupado tudo desde os Descobrimentos? Não quero ir por aí, mas o resultado é este. Há poucos empresários, poucos capitalistas com capitais, as elites são fracas e têm uma noção medíocre do serviço público. É raríssimo encontrar ricos, poderosos, famílias antigas, com um sentimento forte do contributo que podem dar à sociedade.

Que mais falta?

Falta literacia. Tínhamos há 30 anos a mesma taxa de analfabetismo que a Inglaterra de 1800. Em matéria de alfabetização havia 150 anos de atraso. Porque é que os portugueses não lêem jornais? A falta de hábito de ler os jornais é muito importante, porque o jornal é a fonte de informação que mais está virada para o raciocínio, o pensamento, a participação. Quem vê televisão está geralmente em posição passiva. Mas hoje a imagem é rainha. O apetite por um jornal nunca igualará o da televisão...Mas quem tem como informação exclusiva a televisão subordina o raciocínio, o pensamento, o estudo, o lápis que toma as notas, às emoções. É mais fácil ser livre e independente com um papel na frente do que diante de uma imagem que é fabricada com som e se dirige às emoções e aos sentimentos e não à razão - ou pouco à razão. Sou consumidor de televisão e da net, mas o que quero dizer é que, ao contrário de todos os países europeus, quando os portugueses começaram a aceder à escola e a aprender a ler, nos anos 50 e 60, já havia televisão. Não se fez o caminho que todos os outros países da Europa fizeram, que foi dois séculos a lerem jornais e só depois com uma passagem gradual para a rádio e para a televisão. (…)
Quando se debruça especificamente sobre o mapa político e social o que o aflige mais é a justiça?

É. Há muito que falo disso e todos os anos com mais razão que no anterior. Não há alternativa para a justiça, como na saúde, em que se pode escolher o privado, ou na educação, onde se vai para outra escola. Na justiça não há alternativa e ainda bem, não deve haver. Mas a nossa justiça está hoje refém, capturada...
Por quem?

Pelos grandes grupos profissionais: o dos magistrados, dos procuradores e dos advogados, que são quem ordena e quem comanda a justiça, os operativos, os agentes. Não sei como lhes chame, mas qualquer nome é bom. Agora até já há sindicatos, que são uma espécie de infantaria avançada de cada um destes grupos. Há evidentemente centenas de juízes fantásticos. Sei que há, e é possível hoje fazer a diferença entre os 100 ou 200 tribunais que funcionam muitíssimo bem e os outros. Só que a sociedade portuguesa contemporânea está essencialmente nas grandes áreas metropolitanas, o resto é paisagem. Não é bem, mas conta muito menos. E o que se passa é que a sua vida privada, familiar, as sucessões, as heranças, os despejos, os contratos de trabalho, os requerimentos... tudo está hoje em causa porque não há justiça, não há recurso para nada nem para ninguém. Se quiser resolver um problema, recorre a quem? À justiça. Há 20 anos os magistrados vinham em primeiro lugar, era o grupo profissional que mais confiança merecia dos portugueses. Estão hoje em penúltimo lugar; abaixo só os deputados. É o grupo mais destituído da confiança dos portugueses. Os portugueses não confiam nos tribunais nem nos magistrados e isto é terrível, mina a alma, mina os sentimentos, mina o coração.
Como se inverte tal estado de coisas?

O poder legislativo e o poder executivo. Não há outra maneira. Em Portugal há uma confusão profunda entre independência e autogestão. A independência dos juízes é aquela com que, no tribunal, diante das partes, julgam e ditam a sentença, e não pode haver a menor beliscadura a essa independência. No entanto, isso não quer dizer autogestão, que significa organizar as carreiras, os dinheiros, as comarcas, as promoções, fazer nomeações e avaliações. Ora isso está totalmente em autogestão. Enquanto o poder executivo, através do poder legislativo - porque ambos representam o povo -, não tomar a iniciativa, a justiça piorará. Há meses que assistimos a ela estar cada vez pior, cada vez pior...
Tem a tentação de fazer comparações negativas entre a classe política de hoje e a gente do seu tempo, quando foi ministro, deputado, dirigente partidário, fundador dos Reformadores, o movimento político criado em 79?

Isso é ingrato, as circunstâncias eram tão diferentes... Eram tempos de grande empenho, grandes causas, quase de vida ou de morte. Hoje estamos na «vida normalizada», em que os políticos fazem carreira e ela pode produzir pessoas interessantes, ou não. Não é uma vocação, é uma carreira. Diz-se que muitas pessoas competentes saíram da política mas fizeram-no porque dantes ela era uma vocação que se confundia com uma causa. Hoje há certamente pessoas capazes, o que têm é uma maneira muito diferente de fazer política. (…)
Daí à tal "asfixia" vai - ou não vai - um passo?

O problema é a dependência, não a asfixia...
Prefere chamar-lhe "dependência"?

Prefiro, acho que é mais grave. Em Portugal quase toda a gente depende do Estado, do governo, das instituições públicas oficiais, dos superiores, dos empregadores. Não há verdadeiros focos de independência. Depende-se de muita coisa: do alvará, de ter autorização, de ser aceite, da boa palavrinha do bom secretário de Estado que diz ao bom banqueiro que arranje uns bons dinheirinhos para fazer o investimento. A dependência é enorme. Não é asfixia, uma vez mais, é dependência. As pessoas têm receio pelo seu emprego, pelo seu trabalho, pelo trabalho da família. Conheço algumas que até têm receio de falar...
Já fomos mais independentes?

Há 20 anos havia mais independência em Portugal, nas associações, nas empresas... Durante o marcelismo, por exemplo, não havia mais independência mas as pessoas estavam mais dispostas a correr riscos e nessa altura eles eram bem mais pesados: metia deportação, cadeia, polícia. Hoje há muito menos disponibilidade para o risco porque a dependência é muito, muito forte.
O país está muito doente?

Está dependente, doente não. Há um fenómeno de esgotamento, de cansaço. Entre 1960 e 1995 houve uma verdadeira cavalgada: fomos o país que mais cresceu e se desenvolveu na Europa, com uma mudança demográfica completa, outra nos costumes, algo de absolutamente fantástico! De repente chegámos a 90 ou 95 e percebemos que não tínhamos inovado nem criado muito... Fizemos auto-estradas - qualquer país com um cheque na mão as faz -, mas não fizemos novas empresas, novos projectos, novos produtos. E perdemos muito do que tínhamos: demos cabo da floresta, demos cabo da agricultura, demos cabo do mar. Três coisas imperdoáveis, três erros históricos. E não sei se ainda é possível voltar a prestar atenção à floresta, à agricultura, ao mar...
No Portugal de hoje que há que valha a pena?

Há coisas que se conseguiram: nas telecomunicações, na organização da banca, um bocadinho na universidade, outro bocadinho na ciência, numa ou outra indústria, na distribuição dos produtos de consumo diário (que está muito bem organizada). Mas são as excepções. No resto, importamos 4/5 do que comemos. Hoje, no produto nacional, 3% ou 4% são agricultura e alimentação, 20% ou 25% são indústria. Ou seja, produtos novos, feitos em Portugal, são 30%, menos de um terço. Que vamos exportar daqui a dez anos? E daqui a 20? Serviços? Quais? Financeiros, bancários, serviços de informações, serviços de quê? Estamos a quilómetros e quilómetros de distância da capacidade de exportação de serviços da Espanha, de Inglaterra, da França, dos Estados Unidos... Novas coisas, novas indústrias, novos projectos, novos planos, novas ideias, fizemos muito pouco. Chegados a 95, 96 ou 97, começaram a aparecer os países de Leste, apareceu a China, apareceram os grandes concorrentes. No fim da década de 90 já a Irlanda estava à nossa frente com inúmeras reformas feitas - embora hoje se encontre em dificuldades -, a Espanha também, e até a Grécia já nos estava a ultrapassar...
Que conclusão se impõe tirar? E isto para não lhe perguntar que caminho pisar...

Se não houvesse a Europa e se ainda houvesse Forças Armadas, já teríamos tido golpes de Estado. Estamos à beira de iniciar um percurso para a irrelevância, talvez o desaparecimento, a pobreza certamente. Duas coisas são necessárias para evitar isso. Por um lado, a consciência clara das dificuldades, a noção do endividamento e a certeza de que este caminho está errado. Por outro, a opinião pública consciente. Os poderes só receiam uma coisa: a opinião dos homens livres.
Poderemos estar à beira de uma crise institucional?

Com a justiça que temos, sim! Com a cultura dominante nos partidos, sim! (…)

Jornal I
Novembro 2009
Extractos da entrevista a António Barreto por Maria João Avillez
FOTOS; Jornal I; António Barreto

GIAN-PAOLO MARELLO NOS HA DEJADO


Con grandísima tristeza aprendo la desagradable noticia por Daniel Navarro que mi gran Amigo Rotario Gian-Paolo Marelo, nos ha dejado.
Otro gran Amigo y mejor Rotario se nos va este año.
Su último e-mail fue para confirmarme su deseo de asistir a nuestra II Conferencia del Distrito de Mayo 2010 en Alcoy.
Desconocía que estuviera enfermo. Sí sabía que marchó a su Italia natal porque su señor padre estaba muy enfermo.
Desconozco el motivo de su fallecimiento, que no nos ha sido comunicado.
Poco importa ya. Importaba y mucho, tenerle como verdadero Amigo. Y nos ha dejado.
Conocí a Gian-Paolo por fax en Agosto de 2000. Solicité ayuda a varios rotarios rusos para facilitar a amigos sacerdotes españoles dos invitaciones para el acto de la Canonización del último Zar de las Rucias. Gian-Paolo fue el único en atender mi llamada y las consiguió para ellos tras muchas gestiones con el Patriarcado de Moscú.
Sólo los Rotarios atienden a otros Rotarios, de cualquier lugar del mundo que provenga la petición de ayuda y sin conocerse.
El lugar de encuentro, donde nos conoceríamos personalmente, fue delante del Museo de los Iconos, de Moscú:
«Te estaré esperando sentado en la cafetería que hay junto al museo, seguro que me reconocerás».
Fueron sus palabras, tras la confirmación de haber podido obtener las invitaciones que mis amigos españoles deseaban.
Allí encontré, encontramos, Jeremías y yo, a quien veréis con nosotros en las fotos adjuntas: Gian-Paolo Marello.
Y entonces dio inicio una sana y muy buena Amistad Rotaria. Siempre fue persona de sonrisa fácil y amistosa.
Asistimos juntos al Instituto de Lille (Ver Carta del Gobernador nº 3, de Septiembre 2009, http://www.rotaryspain2203.org/ ).
Nos invitó y asistimos a la Convención «Rotary in Rusia» (Ver Carta del Gobernador nº 5, de Noviembre 2009).
Me ilusionó en la creación de un CIP (Comité Inter Países) España-Rusia, gestiones que inicié junto a él y que traspasé a Jaime Torrabadella, del RC Marbella, quien las está llevando a cabo. Asistí, invitado por él, a la reunión en Moscú de los diferentes CIPs Europeos con Rusia.
Su mayor alegría fue el haber conseguido, a través de una SC entre los CIPs de Francia-Italia-Rusia, la compra de un caballo, para las prácticas de Hipoterapia de Niños Diferentes de Moscú, que nos enseñó con todo orgullo y alegría.
Tras haber sido Secretario del RC Moscú, fue el Presidente Fundador del RC Moscú-Rennaissance.
Fue nombrado Presidente del Comité Inter Países del Distrito 2220, Rusia.
Sus e-mails casi mensuales me ponían al corriente de todas sus actividades rotarias, que no cesaban nunca.
Creo que estaba próximo a presentarse a Gobernador por su Distrito 2220.
Me dijo que no nos veríamos en la Asamblea de los CIP de Túnez de Octubre 2009,
pero que ya tenía reservadas las fechas de nuestra Conferencia en Alcoy, para Mayo 2010.
Fueron sus últimas palabras escritas....
Me queda su imagen de Rotario convencido y dedicado: su ejemplar comportamiento siempre colaborando en todos los proyectos de Rotary.
Nos quedan, a Eva y a mí, un montón de fotos con él.
Guardaremos, siempre, a nuestro buen Amigo Gian-Paolo en nuestro corazón.
Y rogaremos al Señor que le haya acogido en el seno de los Justos, porque él era, uno de ellos.
Hasta siempre, querido Amigo Gian-Paolo Marelo.
Te has ido sin poder visitar la tumba de aquél otro italiano, el que reposa en la Iglesia de San Jorge de Alcoy, Casimiro Barello Morelo, que debía haber sido familiar lejano tuyo, éste vino desde Italia a descansar para siempre en Alcoy. Tu camino te llevó desde Italia a Moscú, donde creaste tu familia con Tatiana.
Te tendremos siempre como modelo de buen Rotario y de mejor Amigo.
Descansa en la Paz del Señor y busca por allá arriba a Carlos Canseco, al Tío Edy Fernández de Caleya, y a tantos otros amigos buenos Rotarios, como tú, que este año, nos habéis dejado.
Vicente J. Juan y Verdú
(España)

Dear Friends
We are very sad to learn of the death of Gian Paolo Marello, National Coordinateur for Russia from 2004 – 2009.
He had a huge impact on the development of ICCs in the Russian Federation.
We offer his wife Tatiana, and all Russian and Italian Rotarians, our most sincere sympathy.

Nous apprenons avec tristesse le décès de Gian Paolo Marello coordinateur national en Russie de 2004 à 2009
Son action a été déterminante car il a contribué grandement au développement des CIP en Fédération de Russie
Nous présentons à Tatiana son épouse, à tous les rotariens de Russie et d’Italie nos condoléances les plus sincères
Serge Gouteyron
(France)
November 2009
FOTOS: Serge Gouteyron; Vicente Verdú, Gian-Paolo Marello y Jeremías en Moscú

BILL CLINTON, PARIS HILTON E O SÍMBOLO NA LAPELA

«Cidinha, tudo bem?
Só para você ver a força do Rotary.Ano retrasado estava com minha filha em NY, passeando.Ao subir o Empire States, logo chegando no terraço, vi um grupinho que estava vindo para ir embora.Quando reparei era o Bill Clinton. Quando ele me viu, e reparou no meu "pin" do Rotary, veio falar comigo, se eu era Rotariano, de que país eu era e ficou conversando a respeito do Brasil e do Rotary. Estava fazendo a promoção da mulher dele para a Presidência naquela época.Mas veja que, o interessante é que ele veio falar comigo por que viu o "pin" do Rotary! (anexo)Abraços»

Luiz Carlos Lenza
RCSP Brooklin D.4610Co Chairman YEP
lclenza@terra.com.br

Amigos, Cidinha e Lenza
A sua história comove-me. De certo modo tem proximidade com a do amigo e companheiro Vicente, quando se encontrou com Gian-Paolo Marello em Moscovo, a ícone rotário na lapela como passaporte.
Estar em NY com um neófito e não subir o Empire é como ir ao Rio e não ver o Corcovado. Mas olhe só, da última vez que estive em NY vi no mesmo local a Paris Hilton, numa sessão fotográfica. Mas, pena minha, o meu símbolo não produziu o mesmo efeito do seu!
Henrique Pinto
Novembro 09
FOTO: Luiz Carlos Lenza com Bill Clinton
Com a colaboração de Cidinha (Brasil)

EL GOBIERNO LE HARIA UN FAVOR TAN SUCIO A MARRUECOS


Desde que el día 14 comenzó su huelga de hambre en el aeropuerto de Lanzarote, el cuerpo de Aminetu Haidar se ha ido doblando como una alcayata. Sin embargo, la debilidad física no ha mermado la determinación de esta activista de los derechos humanos para denunciar su expulsión por Marruecos del Sáhara Occidental y su traslado a España en contra de su voluntad. Haidar ha puesto contra las cuerdas al Gobierno español: contempla la muerte como una alternativa plausible a su vuelta a El Aaiún. Ayer, la vicepresidenta María Teresa Fernández de la Vega le pidió «desde el afecto y la comprensión» que «reconsidere su posición».
Pregunta. ¿Cómo decidió iniciar esta huelga de hambre?
Respuesta. Desde el primer momento observé que había una complicidad de los Gobiernos español y marroquí, y que mi traslado a España era un tema político. El Gobierno español tiene que rectificar esta violación flagrante de los derechos humanos, de la ley española y de los convenios internacionales. Soy una militante de los derechos humanos pacífica y sólo puedo protestar por métodos pacíficos y el más fuerte que tengo es la huelga de hambre.
P. Usted padece graves secuelas físicas de los años que pasó en las cárceles marroquíes y de otras huelgas de hambre. ¿No tiene miedo de que esta protesta la lleve a una situación irreversible?
R. Sí, tengo muchos problemas de salud, pero debo sacrificarme por un derecho individual: el regreso al Sáhara Occidental.
P. Al iniciar la huelga de hambre, ¿esperaba que España la devolviera al Sáhara rápidamente?
R. Para mí, hoy el Gobierno español y el Gobierno marroquí son iguales. Nunca pensé que el Gobierno español podría jugar este papel tan sucio, hacerle un favor como éste a Marruecos. No me extraña que Marruecos viole los derechos humanos, pero que el Gobierno español, un país democrático, viole de forma tan clara y con complicidad el derecho internacional, los pactos y los convenios internacionales, nunca lo había pensado. No tengo confianza en el Gobierno español.
P. ¿Por qué está tan segura de que Marruecos y España acordaron su traslado a Canarias?
R. El piloto del avión español que me trajo desde El Aaiún a Lanzarote recibió una orden por teléfono para embarcarme sin pasaporte y en contra de mi voluntad. Ya aquí, varios policías subieron al aparato para convencerme de que desembarcara, diciendo que podía entrar en España sin pasaporte. Ni me pidieron el documento de residencia. Pero, una vez en tierra, cuando intenté viajar a El Aaiún esa misma tarde, me dijeron que no podía hacerlo, porque no tenía pasaporte. Respondí que entonces no saldría de la zona internacional de tránsito. Vino otro policía y me prometió que esa tarde podría regresar en el vuelo que salía para El Aaiún. En cuanto logró que abandonara la zona internacional, me dijo que había recibido órdenes de no dejarme salir de España. Por todo esto yo tengo la convicción de que ha habido una complicidad entre España y Marruecos.
P. ¿Qué pide a España?
R. Es posible que el Gobierno español no me conociera y no esperara mi respuesta ni su repercusión. Se ha equivocado. Ahora está en una situación delicada y debe buscar una salida que no sea el asilo político, sino devolverme al Sáhara Occidental. Tiene que buscar una solución con Marruecos.
P. Miguel Ángel Moratinos dice que debe usted elegir entre pedir un nuevo pasaporte marroquí o aceptar el estatuto de refugiado.
R. Doy las gracias al ministro de Asuntos Exteriores por esta oferta, pero nunca la aceptaré. Yo tengo mi patria, que es el Sáhara Occidental, a pesar de que está ocupada ilegalmente por Marruecos. Allí está mi lucha. Además, esa propuesta del Gobierno español me produce indignación, porque después de 34 años niega la existencia del pueblo saharaui, niega la patria que es el Sáhara Occidental. España, más que ningún otro país, conoce la situación jurídica del Sáhara Occidental.
P. ¿Y en cuanto a solicitar un nuevo pasaporte marroquí?
R. Esa oferta tiene que hacerla Marruecos. Yo no voy a solicitar un pasaporte nuevo, porque tengo el mío en vigor. Pedir otro iría contra la ley marroquí. Ninguna persona puede tener dos pasaportes. Mi pasaporte está confiscado por Marruecos de forma ilegal, su número es R559514 y caduca el 2 de mayo de 2010, y tengo derecho a prorrogarlo otros cinco años y después a renovarlo. La propuesta de solicitar otro es una trampa.
P. El embajador de Marruecos en España, Omar Azziman, ha declarado que usted es miembro del Frente Polisario. ¿Es cierto?
R. No, soy una militante de los derechos humanos que vive en la zona ocupada [del Sáhara Occidental por Marruecos], pero el Polisario es el único representante del pueblo saharaui.
P. Moratinos dijo en el Congreso que ha defendido los derechos de los saharauis «como nadie».
R. Nunca he visto un hecho concreto de Moratinos a favor de la causa saharaui. Siempre he reprochado al Gobierno español su silencio con el tema de las violaciones de los derechos humanos en el Sáhara Occidental cometidas por Marruecos contra una población civil que, además, está compuesta por españoles o por hijos de españoles.
P. ¿Cree que el trato del Gobierno de Zapatero hacia los saharauis es mejor o peor que el de los Gobiernos españoles anteriores?
R. Sé que el Gobierno español actual ayuda a los refugiados saharauis en Tinduf (Argelia), pero a nivel humanitario. Lo que necesitamos como pueblo es un apoyo político claro. No pedimos que reconozca la independencia del Sáhara, pero sí que respete el derecho fundamental del pueblo saharaui a la autodeterminación y que asuma sus responsabilidades jurídicas e históricas. Este Gobierno es peor que el Gobierno de Aznar.
P. ¿Hasta dónde piensa llegar con esta huelga?
R. Tengo una determinación firme, que el Gobierno marroquí conoce más que el español. O el Gobierno español busca una solución para devolverme a mi país, el Sáhara Occidental, o seguiré hasta la muerte.
P. Usted tiene dos hijos pequeños. ¿Ha pensado en qué sería de ellos si usted muriese?
R. Tengo dos hijos, pero también tengo mi dignidad, que está por encima de mis hijos. Lo que ha sucedido es un ataque a mi dignidad que no puedo aceptar. Entre mis hijos y mi dignidad, prefiero mi dignidad. Ellos vivirán sin madre, pero con dignidad.
Tomás Bárbulo
Lanzarote - 28/11/2009
En El País (España)
Noviembre 09
FOTOS: El País; Aminetu Haidar en el aeropuerto de Lanzarote; Aminetu Haidar en el carcel de Nelson Mandela

CONTRA A INDIFERENÇA

A Fundação AMI completa agora as bodas de prata. Inicialmente dedicou-se sobremaneira à assistência médica internacional. Ao longo dos anos a área de intervenção foi-se tornando mais abrangente. Não só por ter alargado o seu campo de acção a Portugal, hoje com 11 estruturas de apoio social em pleno funcionamento e duas em fase de construção. Mas também por actuar noutros campos, todos eles directamente relacionadas com a saúde do seres humanos numa perspectiva holística.
Fundada em 1984 pelo médico, cirurgião geral e urologista Fernando Nobre, esta instituição de voluntários exclusivamente portuguesa, tem como preocupação central defender o ser humano contra a intolerância e a indiferença, duas doenças entre as mais graves da humanidade. Na AMI crê-se que cada vida humana é única, insubstituível, digna de atenção e cuidado!
Quando a situação da pobreza em Portugal é bem preocupante e o número de pessoas a recorrer aos equipamentos sociais da AMI aumenta dramaticamente, a organização entendeu assinalar o 25º aniversário de forma a melhor simbolizar a solidariedade entre os seres humanos, o ideal que persegue. A força dos símbolos, como a do amor, pode mover montanhas.
Tenho profunda admiração e estima pelo meu colega Fernando Nobre. Um respeito que vai muito para além do que me merece o inspirado voluntarismo que o levou a fundar a AMI, depois de conhecer de perto as necessidades em apoio sanitário, tanto nas calamidades naturais como nas que são obra dos homens, nos 2/3 do mundo onde se vive mal. Homem profundamente democrata, Fernando Nobre é um líder respeitado em muitos enclaves do mundo. Sobretudo naqueles infernos onde tal atributo é palavra-chave para passar incólume e com êxito entre contendores ferinos e levar o pão da vida aos carentes. Desde o mais recôndito aeroporto nas savanas africana e asiática, ele acompanha a caravana com o arroz e outros cereais, medicamentos e demais suportes da vida, comprados ou doados algures na Bélgica ou na Holanda, e cruza fronteiras de sangue e ódio, sem alma.
A celebrar efeméride tão redonda a AMI promove um concerto na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa a 11 de Dezembro. Chama-lhe Concerto Contra a Indiferença. É um espectáculo da responsabilidade da Orquestra Metropolitana de Lisboa, que prontamente aceitou o desafio, e oferece a receita total aos projectos da AMI em Portugal. Tendo como solista Alexandre da Costa (violino) e a direcção musical de Cesário Costa, a Metropolitana propõe composições de Béla Bartók, Joly Braga Santos e Sergei Prokofiev, entre outros autores.
Henrique Pinto
Novembro 2009
Com a colaboração de Albino Reis
FOTOS: Fernando Nobre

sábado, 28 de novembro de 2009

SÃO FILIPE, EUSÉBIO E VIANNA DA MOTTA



Olá meu caro amigo!
Obrigado pela sua carta a explicar-me o porquê de ainda aqui não chegar a fibra. Até me inspirou. Para além de muito me alegrar
poder ter mais fibra no Natal.
Na verdade, ao seu tempo - e usando as possibilidades que a
estatística hoje nos dá - Vianna da Motta foi, comparativamente, mais famoso no mundo que o Eusébio. E eu gosto muito do Eusébio, da sua arte impar, do seu estoicismo sempre explorado, da sua simplicidade. Vi-o jogar muitas vezes quando o Benfica ia a Coimbra.
Aquando do Europeu 2004 a TAP entendeu dar o nome de Eusébio a um avião que tinha o nome de Vianna da Motta. Perante um coro mínimo de protestos o administrador prometeu, um dos próximos aviões a chegar teria o nome do insigne mestre da cultura musical. Aviões há muitos, glosaria Vasco Santana, o nome retirado é que não voltou.
Estava longe de imaginar os habitantes da minha rua a serem prejudicados por o nome de Vianna da Motta estar registado
incorrectamente. Provavelmente o responsável camarário pela toponímia nem deu pelo lapso que ocasionou.
Numa noite bate-me à porta o vereador a dizer-me, feliz: «A
nossa rua já tem nome, chama-se Cidade de São Filipe! Concorda?». «Então e os vizinhos», perguntei, «também estão de acordo?». «Ah, não é preciso», foi a resposta. «Olhe, então a minha ideia, com franqueza, é que o método da Comissão de Toponímia a ser assim não me agrada. Por isso, seja qual for o nome, desaprovo a escolha». E a coisa ficou por aí.
A nova comissão, na vereação seguinte, entendeu colher um certo número de opiniões, sufragou-as pelo método mais simples - eu tinha proposto Calouste Gulbenkian mas não pegou, seria nome para avenida, disseram-me, mas, apesar do trabalho extraordinário nesta região da Fundação de tão ilustre patrono, tal nome ainda não honra nenhum dos nossos caminhos -, e o bairro ficou com topónimos interessantíssimos. A circunstância de por aqui viver então um escol cultural sonante, excelente tertúlia de amigos, e de o responsável pela toponímia ser pessoa culta, com a noção exacta do quão importante é perpetuar o mérito e o valor do exemplo, fez com que Guilhermina Suggia, Florbela Espanca ou Vianna da Motta, sejam apenas alguns dos nomes escolhidos para o lugar.
Já depois deste processo outra vereação atribuiu designações muito originais a uma bela urbanização próxima, são de se lhe tirar o chapéu, Rua e Largo da Bela Vista, Rua Belo Horizonte, Rua Pôr do Sol, entre outros.
A dada altura eu e amigos criámos um Banco de Famílias na cidade. Os aderentes recebiam em suas casas por alguns dias artistas de coros e orquestras, delegações culturais de todo o mundo, que então actuavam e nos visitavam aqui, no âmbito do programa de intercâmbio cultural Europa das Famílias, que promovi no Orfeão. Daí que, já noite fora, à conversa entre copos, um dos amigos, alemães de Rheine, cidade para cuja geminação contribuíra, me contou em sonora gargalhada, e mal sabia ele a história por inteiro, «sabe, a cerimónia demorou um bocadinho mais, ainda tiveram de tirar a placa Cidade de São Filipe e colocarem a nossa, Cidade de Rheine».
Quando estive pela primeira vez em Cabo Verde, a convite do ministro da educação e cultura do país, a nova e promissora presidente da autarquia, pediu-me para tentar perceber o que se passava com o contentor de bens enviado para a ilha do Fogo, há um ano formalmente no desconhecido absoluto. Com a permissão do protocolo do Estado desembarquei no aeroporto da Cidade de São Filipe e fiquei emocionadíssimo. Terra queimada, árida, a escorrer secura das escarpas, do vulcão até ao mar, gente fantástica, presidente idolatrado, apoio internacional nunca visto, humildade sem subserviência, alegria franca, tudo atributos a interferirem com as minhas recordações.
Numa aldeia pendurada sobre o Atlântico o presidente, cujo carro oficial, uma carrinha aberta, aboletava a todos que esticavam o braço, apresentou-me o médico, um cubano jovem, simpático, muito popular, todas as mulheres a procurarem-no para emparelhar na dança. Perguntei-lhe pelo nome por mal o ter ouvido, acedeu amável e orgulhoso, de supetão, «Fidel, como el Comandante!». «Como tratas os doentes, tens medicamentos?», retorqui-lhe. E as palavras doces feriram-me como estocada de punhal, involuntária, «nada, hablo con ellos».
O mínimo que pude conseguir foi desbloquear o processo alfandegário em São Vicente. Fidel pôde ter as mezinhas para exercer o seu ministério mais tranquilamente.
Os meios dificilmente justificarão os fins se pervertidos pela não
democraticidade. Mas era a gestão de uns anos antes, infelizmente a contagiar alguns dos que era suposto pensarem diferente. Estou seguro que de outra forma a nossa rua se chamaria hoje Cidade de São Filipe. E já teria fibra. Um abraço
Henrique Pinto
Novembro 2009
FOTOS: Vianna da Motta; Arquitecto António Monge Delgado, ex ministro da cultura de Cabo Verde, com Henrique Pinto, no Centro Cultural da Praia, Ilha de Santiago; Eusébio da Silva Ferreira

domingo, 22 de novembro de 2009

O DIA DO FUTURO

Quando frequentei o Liceu Nacional de Oeiras nos anos sessenta éramos para cima de 4000 alunos, raparigas de manhã e rapazes à tarde. Com o passar dos tempos as escolas secundárias passaram a ter à volta dos mil alunos, ou menos.
A Associação Orfeão de Leiria Conservatório de Artes (OL CA) tem hoje responsabilidade educativa sobre mais de 4000 educandos na música e dança, em todas as idades, sem discriminação de sexos.
Todavia, a questão do género não é a mais significativa entre estas duas realidades.
No essencial, dada a obrigatoriedade do ensino e a melhoria substantiva da qualidade de vida, as famílias, normalmente, procuram o ensino regular. As excepções são cada vez menos.
Mas se a prática duma vertente de ensino como a artística não é obrigatória, então a sua procura faz-se por razões culturais e sociais das famílias. Para atingir um gradiente assim expressivo de aprendizes, como o de Leiria, porventura o maior da Europa, significa existirem esses pressupostos, e, cumulativamente, haver um caminho de formação de público, uma postura socialmente proactiva de sedução pela arte, com algum relevo. A escola tradicional não carece desse trabalho de construção social para condicionar a procura.
Um factor comum com significado é do bom ou mau desempenho poderem advir resultados simétricos, internos e externos, em qualquer dos modelos, particularmente se as famílias têm possibilidades de opção para colocar os seus filhos.
O ministério da educação ainda não está em boa posição negocial com as suas escolas. Se o ensino artístico, além das razões citadas, também depende em crescendo da articulação com o ensino regular, não é fácil compaginar estas duas posturas de captação de alunos. Na diplomacia proficiente deste bom entendimento está o futuro da democratização do acesso ao ensino artístico em Portugal no futuro mais chegado. Diplomacia da cultura, bom relacionamento pessoal e institucional, prestígio do ensino e potenciação emergente do interesse autárquico, jogam um papel muito determinante neste sucesso de fazer futuros.
Isso mesmo ficou claríssimo na Abertura Solene do Ano Lectivo no OLCA em dia de Santa Cecília, inspiradora dos músicos. Um concerto de oito horas culminou com o Coro do Jardim Infantil João de Deus, meia centena de radiantes promessas de bons ouvintes e cantores. Desde a manhã um cortejo luminoso, espectro aberto de intervenções, grupos, solistas, coros e orquestras, bailado e música popular, iluminou os espíritos. A anteceder os meninos e meninas convidados, a sessão solene exultou no discurso sócio político pragmático e qualificado, o do novo vereador da cultura e educação de Leiria, Dr. Gonçalo Lopes, e na belíssima Oração de Sapiência, proferida com humor, do Professor Doutor Jorge Arroteia, catedrático da Universidade de Aveiro, alusiva a D. Dinis, rei poeta a exemplo do seu avô, Afonso X. Para exortação da criatividade melhor motivo não é fácil conceber com ascendente sobre a bem elaborada história do semeador! Talvez rarei melhor lição que esta para validar a ideia de a estrutura burocrática e legislativa só arduamente acompanhar o processo voluntarista da sementeira, faltando-lhe pois, em absoluto, o direito de coarctar as colheitas sociais a quem plantou. O que nos remete para uma peroração mais exaustiva e premente.
Bem hajam pois os obreiros deste Dia de Santa Cecília em Leiria.
Henrique Pinto
Novembro 09
FOTO: imagem de Santa Cecília, padroeira dos músicos

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

SOPRAR NO LUME

A indústria do futebol é tremenda em extensão económica e impacto popular, transversal nas sociedades. O transpor para um campo de futebol todo um sentimento «patriótico» Bósnio, como se viu no despique entre selecções, talvez não seja despiciendo para os seus líderes, porquanto lhes falta um sentimento forte de unidade e de educação como país.
O celebrarmos a vitória sobre a Bósnia Herzegovínia com os golos de dois abnegados «portistas», Bruno Alves e Raúl Meireles – longe de poder alimentar aquelas «burradas» do despique norte sul, próprias de certo caudilhismo – deve encher a todos de orgulho. Até jogam em Portugal. Suaram a camisola como muitos portugueses não jogadores, críticos contumazes, jamais farão. A nossa rapaziada de todos os clubes deu uma grande alegria a muitos concidadãos apreciadores do bom futebol, sem clubismos. Também eles procuram o seu Graal. E vão com certeza dar-nos mais motivos de satisfação lá para o inverno setentrional Africano. Num território onde os órfãos da SIDA, por via da ignorância dirigente, são mais que os portugueses residentes em Portugal.
Tamanho êxito materializou-se nos arredores de Sarajevo, terra sofrida, mártir, população dividida, cenário de grandes ódios e maiores paixões, ainda há poucos anos. Evoco sempre a capa da revista Newsweek, uma jovem bela como poucas, blue jeans apertados em pernas elegantes, professora primária, na ombreira da porta, fusíl a tiracolo, sniper Bósnia de vasto currículo. E abjuro também a figura de esbelta cabeleira grisalha, conhecido médico psiquiatra e poeta editado, a comandar as milícias sérvias nos massacres de Srebrenica, só comparáveis ao holocausto. De nome Radovan Karadžic, está agora a julgamento em Haia.
Apraz-me registar com agrado de bolo-rei a circunstância de três dos soberbos lutadores da selecção serem luso-brasileiros, Pepe, Deco e Liedson, a merecerem todo o carinho de quem gosta do jogo, da técnica, do fair play, da coreografia, da estética na dança e das suas emoções, do sentido de entrega às responsabilidades. E de quem gosta do Brasil.
Se Carlos Queirós pareceu sempre acreditar, e isso é muito bom, ele forjou também os melhores jogadores meninos de ouro e continua a valorizar outros, tal como cada vez mais portugueses, na diáspora mundo fora, foi um desses luso-brasileiros, em quem apostou, homem simples, no apogeu como jogador, voluntarioso, bom no que faz, de nome Liedson, «levezinho» de alcunha, quem veio soprar no lume e espevitar a chama.
Henrique Pinto
Novembro 09
FOTOS: Deco e Liedson, jogadores luso-brasileiros responsáveis em boa parte pela participação da selecção portuguesa de futebol na fase final do Campeonato do Mundo; a actriz Teri Hatcher, da série televisiva Donas de Casa Desesperadas, bem podia, pela sua beleza e talento, interpretar a sniper Bósnia divulgada pela revista Newsweek

terça-feira, 17 de novembro de 2009

THE HAPPINESS TO ATTEND A ROTARY INSTITUTE AROUND THE WORLD

The Rotary Institutes around the world – like the annual Conventions – are among the best scientific and social events I’ve ever been. And I was a participant, a speaker, a training leader and an organizer in many of these events from Brazil to Japan.
However, it is also a privilege for me to have particular friends among the conveners and chairmen on the last and the next Institutes in Europe and Africa.
My dear friend Andrzej Ludek was the Warsaw Institute chairman last 23-27 September. In Poland, and in the town of Chopin, with the beautiful sites like old town and the Castle Square, King Sigismund’s Column, St John’s Cathedral, the Market Square and the Barbican, it was a marvelous occasion for about three hundred persons from Scandinavia, Finland, Poland, Baltic countries and Russia, to have an important Rotary Meeting.
My dear and good friend V. G. Patel for a long time, one of the major contributors to the Rotary Foundation, classmate in my first time in Anaheim, was the chairman of Seychelles Rotary Institute last 14 – 18 October, in the beautiful Sainte Anne National Marine Park. The Cerf Island Resort was really something like the Paradise in hearth. People from the whole Oriental African countries were there and benefited from the best themes and speakers.
Next 4-6 December in Paris the Rotary International Director Catherine Noyer-Riveau – my classmate in Anaheim, my dear colleague, gynecologist, my dearest friend -, will have her Rotary Institute. She is the Convener. This one has a particular characteristic which I appreciate too much. It is dedicated to a special theme. And she chose a very special theme as it is Sustainable Development.
From 11 to 13 December Örsçelik Balkan, the dean of Rotary Institutes in the world, will chair another one in Istanbul, Turkey. Örsçelik is also a long time friend, we met in Nairobi some years ago, and he was an important speaker in my District Conference at Coimbra, Portugal, with Carl-Whilhelm Stenhammer. We were also classmates in USA and I could be a speaker in some of his Institutes. Istanbul is one of the most beautiful cities in the world. I´m sure it will be a success and everybody will be happy to go there.
In the seventies I was studying in England, I went so many times to attend concerts here and there. Last year Ulrich Sprandel and his lovely wife Ann Marie visited us in Portugal. When we were lunching in Casarão, at Leiria, we discovered they had been doing the same in England in the same years and we were in the same concerts very often.
Sprandel is also a medicine professor, in Germany, and he chairs the Rotary Doctor’s Bank in the country. We were also classmates in USA. Well, he will be the Munich Rotary Institute chair next year. Congratulations to all, my dear friends.
Henrique Pinto
November 2009
PHOTOS: Haja Sofia, Istanbul, Turkey; Anse La Sourde d'Argent - La Digue, Seychelles Islands

LOS SEIS RAYOS DE MI ENGRANE

Hace unas semanas Mary Carmen y yo estábamos en un aeropuerto esperando nuestro vuelo de conexión a un importante evento Rotario de esa zona, por lo tanto atentos para saludar a las compañeras y compañeros que seguramente estarían en la sala para abordar, sin embargo no vimos a nadie que reconociéramos, por lo que comencé a pasear entre las líneas de asientos de esa última sala de espera tratando de ver si alguien tendría alguna prenda de vestir con el escudo Rotario o si alguna persona tenía colocado su «botón de solapa», al no ver a nadie regresé a donde Mary Carmen estaba sentada y le dije: «yo creo que hoy a todos los Rotarios se les hizo tarde para tomar el avión», pasó el tiempo, y llamaron para abordar nuestro vuelo y como para ese segmento teníamos asientos asignados en las primeras filas, le comenté a Mary Carmen: «ahora si péinate porque seguramente vamos a saludar a todos los Rotarios que pasen a tomar sus lugares» y nos quedamos esperando porque a nadie pudimos distinguir por su «botón Rotario» o porque trajera alguna prenda o artículo con nuestro engrane; Mary Carmen y yo nos volteamos a ver cuando ya estaban cerrando la puerta del avión, y ella me comento: «bueno, lo que pasa es que ahora hay muchos Rotarios Anónimos, que casi nunca usan su insignia de solapa», entonces lo pensé por un momento y era cierto, ya son menos los Rotarios que usan todos los días y con orgullo el engrane de oro y azul, con seis rayos, veinticuatro dientes y una muesca de chaveta, y en ese momento pensé que tendría que escribir el artículo que ahora ustedes están leyendo.Lo primero que me queda claro es que las Rotarias y Rotarios que no usan todos los días, en todas partes y con orgullo el «Botón de Solapa», o sea, a los que Mary Carmen ha bautizado como Rotarios anónimos, en primer lugar no son Rotarios, son socios «transmigrantes» (condición migratoria por la cual una persona puede ingresar a un país, solo por unos días, porque va de paso a otro país, no se quedará, sino que solo cruzará); no saben lo que es Rotary, y por lo tanto no comprenden el significado de pertenecer a esta maravillosa organización, lógicamente ignoran los beneficios que obtiene el socio y su familia; ya he mencionado que este «Anónimo transmigrante» no es del todo responsable de esta ignorancia, sino que él ve a Rotary a través de la reunión semanal de su club, que en ocasiones está en manos de uno o varios «dueños», que se sienten Rotarios sin serlo, y que presumen de saber lo que no saben, «escuchan campanas y no saben ni de qué iglesia vienen». Existe actualmente una corriente en Rotary que quiere atraer socios con verdaderas campañas publicitarias que llaman «Relaciones Públicas» basadas en fotografías conmovedoras de ayuda a los más necesitados y en los lugares más exóticos posibles, y eso aleja a los «potenciales clientes» de la realidad de nuestra organización, cuya base es el Club Rotario y sus reuniones semanales, y el servicio a los demás debe nacer dentro de los Clubes y dentro del corazón de las personas que lo conforman. A los rotarios realmente les gusta participar en proyectos que nacen como producto de su actividad en las 4 avenidas y no que les digan en que proyectos deben participar. Rotary no será mejor si resuelve grandes problemas en el mundo, Rotary será mejor en la medida que esté conformado por Rotarios de alta calidad moral y profesional, lo demás será simplemente una consecuencia.
El Club Rotario de Monterrey, México, en Enero de 1950 ingresó a un socio de calidad y no construyó un hospital para ayudar a los enfermos de poliomielitis, en ese momento de angustia por la epidemia de esa terrible enfermedad; ese joven médico, Carlos Canseco González, creció y se formó en esta organización, Disfrutó enormemente de las reuniones de su Club, al grado que dijo alguna vez que «el día que él ya no sintiera el deseo de asistir semanalmente a su Club se saldría de Rotary», Carlos fue un ejemplo de ética en su profesión y un Maestro Universitario por mas de 50 años, participó en proyectos de servicio en la comunidad y disfrutaba de la inmensa internacionalidad de Rotary; Jugar golf, ver un buen partido de fut-bol y charlar y hacer bromas con los amigos era una parte tan importante de Rotary como todo lo demás; o sea que Carlos vivió las 4 avenidas en su propia persona y en su Club, Polio Plus fue solo una consecuencia. Por eso debemos olvidarnos de tantos adornos que le están colocando a nuestro «árbol Rotario» e igualmente de tantos nuevos conceptos «filosófico-empresariales» que tratan de reinventar a Rotary y que solo están promoviendo partes diferentes y desconectadas de lo que realmente debemos ser. Ser Rotario debe ser tan simple y libre como el vuelo de una gaviota sobre un mar sereno, pero tan profundo como ese mismo mar. Ayer por la tarde fui invitado a una ceremonia en que se daba la bienvenida al círculo Arch Klump a 5 matrimonios de Taiwan, (para ingresar a ese selecto grupo hay que dar al menos 250,000 Dólares a La Fundación Rotaria), después, nos exhibieron un video del servicio tan impresionante que otorgan los Rotarios Taiwaneses en sus comunidades, posteriormente se presentaron los curriculums de los donantes, y después todos tuvieron la oportunidad de hablar, entonces, durante su discurso, uno de ellos dijo: «Yo quiero que Rotary se sienta orgulloso de mi», y esas palabras me atravesaron de lado a lado y de la cabeza a los pies, del alma al corazón y del corazón al cerebro, ¿Cuántos socios que presumen de Rotarios tratan de ver solo defectos que pudieran encontrarle a Rotary, para justificar su falta de coherencia?, ¿Cuántos de ellos quieren «exigirle» a Rotary lo que creen que tienen derecho, para disimular su falta de ética para pertenecer a esta organización?, sin embargo, en ese video que nos exhibieron y que nos mostraba el entusiasmo de los Rotarios de Taiwan (7 distritos con 18,500 Rotarios y 535 clubes, con un promedio de 34 socios por club) había visto varias veces a ese Rotario que acababa de pronunciar tan trascendente frase, trabajando personalmente, participando inclusive en competencias deportivas para recaudar fondos para el desafío de Polio; no se trataba de entrega de “cosas” compradas con dinero de La Fundación Rotaria, eran acciones directas con la sociedad, trabajando juntos.
Y también pasaba por mi cabeza la escena de un Presidente de Club en uno de nuestros países, que le reclamaba al Gobernador de su Distrito el ¿Por qué la Fundación Rotaria ha restringido la subvenciones compartidas? y le decía, en tono de molestia, que los socios de su club ya no querían aportar a La Fundación Rotaria porque ya la fundación no les patrocinaba sus proyectos, cuando ese distrito ha recibido por muchos años millones de Dólares para subvenciones compartidas e inclusive para varios proyectos “3H” de importantes sumas de dinero cada una, esto es, que ya se les olvidó que con 1,000 Dólares hacían proyectos de 20,000, y que dar es darle a otro y no así mismo, entonces, ahora que nuestra fundación, que nos ha dado tanto, tiene problemas económicos «le vamos a voltear la espalda». ¿No que damos mucho de sí antes de pensar en sí?: coherencia, muchachos, coherencia. Pero volvamos a la ceremonia de los Rotarios de Taiwan y a la frase: «Yo quiero que Rotary se sienta orgulloso de mi», para entender que Rotary no es nuestro Club, ni el Gobernador del Distrito, ni el edificio en Evanston, ni el Presidente de Rotary International; Rotary es un ideal, una forma de reaccionar ante la vida, una meta constante, una fuerza que nos hace levantarnos cuando estamos enfermos o subir 100 escalones aunque nos duelan las rodillas, y no es que estemos locos, lo que pasa es que el Rotario siente que lo que hace produce beneficios a los demás, que sus actos son necesarios para que el mundo siga dando vueltas sobre si mismo y se traslade siempre alrededor del sol, sin embargo, para que este milagro suceda, se requiere que el Rotario y su familia se sientan contentos y tengan orgullo de pertenencia a Rotary, que estén enterados de su historia y su filosofía, que caminen constantemente en las 4 Avenidas de Servicio. Sin embargo, ningún Rotario puede serlo realmente si no disfruta y recibe los beneficios que nuestra organización otorga, principalmente el poder relacionarse con personas valiosas y disfrutar con ellas del compañerismo y la amistad Rotaria, la bendición de poder mejorar las condiciones de vida de otras personas, sin embargo, aún sin buscarlo, Rotary es un constante aprendizaje, un constante “subir escalones” como ser humano, una oportunidad permanente para aprovechar una red mundial basada en una confianza pre adquirida, una posibilidad de tener relaciones comerciales basadas en valores fundamentales, un mundo abierto a nosotros y a nuestros hijos, una maestría y doctorado en relaciones humanas, un mejoramiento de nuestras habilidades para hablar en público, organizar eventos, utilizar medios modernos de comunicación y aprendizaje, viajar, aprender otro idioma, en resumen, Rotary nos da una segunda dimensión para adquirir los 4 atributos que debe tener un profesional: valores, conocimientos, habilidades y pro actividad, pero con un propósito diferente, con mas rango de libertad y con un aire más transparente y seguro para extender nuestras alas y volar. Imaginen entonces lo que significa tener el derecho de usar esta insignia, todos los días y a todas horas, quitarla de vez en cuando de nuestro pecho, solo para mirarla en privado por unos segundos, sentirnos orgullosos y volverla a colocar en su lugar.
Si voy a algún evento del Notariado o de mi Universidad o inclusive a algún evento público, en donde debo usar otra insignia de solapa que me identifique como parte de esa organización o del evento, claro que me pongo esa otra insignia, pero jamás me quito mi engrane ni lo cambio de lugar en mi solapa, siempre ha estado y estará en el ojal del lado del corazón, la otra insignia la coloco siempre en la parte de abajo, no porque Rotary sea mas importante que mi trabajo, simplemente porque mi trabajo es solo una parte de mi vida y mi engrane cubre todo: 1.- familia, 2.- trabajo, 3.- compañeros y amigos, 4.- apoyo a los demás y a mí mismo, 5.- mi comprensión por otros credos, razas y nacionalidades y 6.- mis distracciones y pasatiempos, los 6 rayos de mi engrane, y digo mi engrane, porque es mío, nadie me lo puede quitar y me siento orgulloso de tenerlo, poderlo usar y mostrarlo.
Hace algunos años escribí sobre la responsabilidad de ser libre y de aquellos que siempre relacionan a la libertad con lo que no pueden hacer, o sea, que hablan de la libertad que creen que no tienen, mas nunca se refieren a todo lo que pueden hacer y no hacen y entonces concluía ese artículo diciendo «que el tener la posibilidad o sea la libertad, es una gran responsabilidad cuando no se ejerce» Simplemente y claramente «si no usas el botón rotario es que no eres rotarios», por lo tanto, no puedes contestarle a nadie, cuando te mire la insignia, y te pregunte: ¿Qué es ese engrane?, ¿Qué significa?, ¿Por qué lo usas?, salvo que tomes el camino parcial y fácil y contestes: «Rotary es una organización mundial que hace servicio en todo el mundo a quien mas lo necesita». ¿Eso es cierto?, en parte “si” es cierto, pero solo en una cuarta parte, por cierto, ¿En cuantas acciones directas de servicio en la comunidad has participado con tus propias manos?, no es que sea muy malo el que no lo hayas hecho, simplemente porque sería el colmo que se hable de que Rotary es una institución que hace servicio comunitario si quien lo dice nunca ha participado personal y directamente en esas maravillosas oportunidades que también nuestra organización nos otorga. Por lo tanto, ¡deja de ser Rotario anónimo!, si es que lo eres, y si decides dejar de serlo, antes de ponerte todos los días y en todas las ocasiones este bello engrane en oro y azul, tendrás que actuar con coherencia entre lo que piensas, dices y haces, y aplicar el ideal de servicio en tu vida privada, profesional y pública, para que al lucir tu botón Rotario, Rotary se sienta orgulloso de ti.
José António Sepúlveda
(México)
Noviembre 09
Con la colaboración de Cidinha (Brasil)

FOTOS: Ciudad de Monterrey, México; José António Sepúlveda, de Monterrey, director de Rotary International