terça-feira, 1 de dezembro de 2009

CELEBRAR A AMIZADE


Exactamente 682 pessoas conviveram directamente no Jantar de Reconhecimento ao amigo José Miguel Medeiros, deputado ao Parlamento, antigo governador civil de Leiria e ex secretário de Estado da protecção civil. Quase pode dizer-se, outros tantos estariam no restaurante da Quinta de Santo Antão, à Batalha, se o espaço o permitisse.
Licenciado em geográficas, filho de republicanos convictos por herança familiar, a ternura da mãe Alice é imensurável, o José Miguel cresceu embebido na política e nesse espírito nobre e ético dos homens de oitocentos. Não que a história republicana seja impoluta, isenta de derivas na promoção de políticas individualistas. Todavia, a essência republicana filtrada em famílias como a Medeiros, instruiu alguns dos nossos melhores personagens de apego à «rés pública», ao bem comum, no esculpir de oportunidades iguais para um mundo diverso.
Pouco tempo depois de assentar como secretário de Estado assisti a uma palestra sua em Alvaiázere com o mote da protecção civil. O Dr. José Miguel Medeiros discorreu, enciclopédia viva, sobre toda a praxis portuguesa na matéria, e esboçou o planeado, em função dos recursos e da formação, com um forte sentido estratégico de político encorpado.
Em várias alturas difíceis da vida política portuguesa teve a gentileza de convidar-me, partidariamente independente que sou (não o independente dum partido como às vezes se lê por aí a propósito deste ou daquele cidadão), a trabalhar com ele em tomadas de posição, eleições ou referendos, com outros amigos. Tive a oportunidade de vê-lo a escalpelizar à exaustão todos os momentos decisivos a ponderar, e, qual general, perito em estratégia militar, inventariar situações, argumentos e tácticas sem deixar inobservado o mais ínfimo dos detalhes.
Nem sempre os aforismos populares são tão objectivos quanto parecem. Dizer-se «quem corre por gosto não se cansa» é assaz redutor, ingrato mesmo. Quantas vezes o gosto não é trucidado pelo esgotamento físico e psíquico, ou mesmo financeiro, tal o grau de dedicação e empenho na causa. Sem esquecer que males ancestrais do país, inveja e maledicência, são bem mais vorazes a carcomerem obras e reputações que o cansaço ou qualquer visão política menos clara. José Miguel Medeiros teve sempre essa postura de envolvimento qualitativo total, ético, conhecedor das pessoas como poucos. O trajecto de décadas no dirigismo associativo, um caldo de saber pilar de muitas democracias, enriqueceu-o como sabedor e ouvinte dos homens bem formados, ungindo-se na mescla da cultura e dos valores.
Deixou há pouco a secretaria de Estado da administração interna. No ministério mais mutilante dos seus mentores dentre todos (em grau superior à saúde e educação), porquanto as pressões externas de interesses acumulados são devoradoras, se o ministro prosseguiu no cargo alguém teria de sair, mesmo que sem qualquer sombra ou mau motivo. É sempre necessário que algo mude para que se mantenha um pouco da essência.
Há muito que alguns dos seus amigos lhe queriam proporcionar um momento assim. Pessoalmente, sempre escolhi os supostamente melhores para trabalharem comigo, sem receio algum do fazer sombra, independentemente de não raro, poder estar em desacordo pleno com alguns dos eleitos por mim. Por isso mesmo compreendo mal que certas pessoas não tenham marcado presença – mesmo quando enviaram mensagens, uma boa forma de dar nas vistas, pois são lidas -, porquanto isso, em um ou outro caso, em nada as torna superiores ou tão descomprometidas como se julgam. Bem vistas as circunstâncias, não se tratando da homenagem duma vida, sempre mobilizadora de boas vontades, o volume de participação neste Jantar é suficientemente ilustrativo do carinho dirigido à figura da noite, e, bem assim, do mérito que lhe é reconhecido.
Disse na minha intervenção como organizador do evento que estávamos ali a «celebrar a amizade». Tal como os caminhantes que se dirigiam a Santiago, a exultarem a sua vocação, as gentes amigas, em posições bem diversas, percorreram os caminhos de Portugal para sancionar, na pessoa do Dr. José Miguel Medeiros, o preito ao amigo, ao mérito – prática que infelizmente não é tradição no país -, ao líder democrático e à sua empatia fácil (coisas menos assíduas quando juntas), ao homem bom e afável. Uma confluência de pessoas de bem a deixarem-lhe vincado um voto de felicidades pessoais, de sucesso e longa vida ao serviço da causa pública.
Henrique Pinto
Dezembro 09
FOTOS: José Lamego, meu contemporâneo de Coimbra, Rui Vieira, Edite Estrela, Alberto Costa e Mário Soares ; Mário Soares, José Miguel Medeiros e Dra. Alice Medeiros; o Dr. Mário Soares, em cujas campanhas nos empenhámos, foi um dos muitos ilustres convivas em Santo Antão e grande referência de todas as intervenções

1 comentário:

  1. Meu caro José Miguel
    O senhor está magnífico nestas fotos. Não tive oportunidade de lhe dizer mas o seu discurso foi muito apreciado.
    Estou certo que tem pela frente um futuro bonito, pleno de responsabilidade no nosso crescimento democrático.
    A democracia foi o seu berço e o seu néctar desde menino. Lembro-me de o Dr. Moreira de Figueiredo falar das pessoas que se reuniam na sua casa de Calvos, nomeadamente Aquilino Ribeiro, cujas palavras ele sorvia com deleite, menino sedento de saber.
    Há uns 20 anos estive nessa aldeia linda de granito numa festa que ele deu. Lá encontrei personalidades que foram como ele meninos que ali ouviram as conversas de seus pais sobre a cultura , o salazarismo que tardava em caír, a democracia. Fiquei amigo do Comandante Gomes Mota e de Aquilino Ribeiro filho que encontrei muitas outras vezes, de Fernanda Mota Pinto - eu dava-me bem com o marido, um bolseiro ilustre de Rotary.
    Ao ouvi-lo a si lembrei-me de todos eles. E fiquei com a certeza que o senhor fará muito por este país.
    Um abraço.
    Henrique Pinto

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