quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

UMA BOA SAÍDA


A frase tão incisiva de Marguerite Yourcenar, «o tempo, esse grande escultor», continua sendo um apelo troante à tolerância, assumida como um desígnio. Mesmo se implorada sobreponhamo-nos sempre à que é fingida. Sobretudo se forçada, mesmo por gente de bem, aos apertos de mão de circunstância. Coisa a que a própria diplomacia já virou as costas há muito.
Houve tempo suficiente nas últimas semanas para a assumpção por parte dos altos responsáveis do país sobre particularidade de a nenhum ou ninguém interessar a intolerância e crispação pretéritas.
Acho que se votamos por sufrágio universal um presidente, e não tendo o regime o modelo francês ou norte-americano, nem tão pouco a composição parlamentar em duas câmaras, o Presidente da República poderá mesmo assim usar poderes como a recomendação à Assembleia – quando o tem feito é quase sempre em conflitos estéreis - para que este órgão trate de alterar as mais que passadistas e insignificantes leis eleitorais que temos. A democracia representativa é o melhor dos sistemas políticos. Mas este parlamento representa quem?
A discussão dos temas gay não impede o governar bem e sem ferroadas constantes do vespeiro. O pensar a viabilidade económica também não é oponente do repensar o esqueleto das grandes leis do país. Na constituinte não havia maiorias de partido.
Na cerimónia de boas festas em Belém lobriguei essa saída. Não me quero enganar.
Henrique Pinto
Dezembro 09
FOTO: Cavaco e Sócrates em Belém

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