Está nas mãos dos professores e da escola acabar com os casos de indisciplina. Ambos são responsáveis por boa parte dos maus comportamentos que os alunos têm dentro da sala de aula. Esta é uma das principais conclusões do estudo «A Indisciplina em Sala de Aula: Uma Abordagem Comportamental e Cognitiva», do coordenador do Instituto Superior de Ciências Educativas. Luís Picado, especialista em psicologia da educação, defende no seu ensaio que muitos dos problemas têm por base a incapacidade da classe docente de encontrar novos modelos de convivência escolar: «Os professores são os responsáveis pelos problemas de indisciplina em sala de aula, mas não são os culpados por todas as situações de indisciplina em sala de aula. Pode parecer uma imagem demasiado forte, mas não me importo de a usar se isso contribuir para alertar para este fenómeno», esclarece o investigador e autor de vários estudos sobre psicologia escolar.
Muitas das dificuldades que surgem na sala de aula relacionam-se directamente com a autoridade do professor e com a relação que mantém com o aluno. No estudo, Luís Picado alerta para o facto de boa parte dos conflitos resultar da incapacidade que o professor tem de ouvir os pontos de vista dos seus alunos. Definir um conceito de indisciplina que seja comum para todos os docentes é outro embaraço que propicia um terreno fértil para comportamentos problemáticos dos alunos. É essa falta de coerência, diz o psicólogo, que leva as crianças e os adolescentes a testarem diferentes comportamentos em cada sala de aula para ver os que são ou não tolerados.
Tudo isso acaba por ser uma consequência dos tempos que correm. As relações na escola tornaram-se mais conflituosas e os professores não souberam adaptar-se às novas realidades: «Refiro--me a novas exigências, como a alteração constante de saberes e metodologias, a perda de valores de referência, as mudanças nas estruturas familiares, a massificação do ensino ou a multiculturalidade e a exigência de inclusão». A sobrecarga de trabalho, a desvalorização social do estatuto do professor ou as características pessoais são algumas das razões que explicam igualmente o comportamento dos alunos e até a noção que as crianças têm hoje da figura do professor.
A própria organização e as práticas das escolas são determinantes para o sucesso ou insucesso no combate à indisciplina, esclarece o psicólogo: «Currículos considerados pelos alunos pouco importantes para as suas vidas, horários desajustados, deficientes condições das salas, mau planeamento das aulas, marcam todo o processo de ensino e são responsáveis por problemas comportamentais». Os professores não estão preparados para gerir esses conflitos, alerta o coordenador do ISCE: «Os cursos de formação deveriam ensinar os futuros docentes a serem professores, explicando como funcionam as escolas, ajudando a compreender o que é a infância e a adolescência, ensinando a falar para a turma ou para um aluno em particular, a resolver conflitos e a pensar soluções».
O ensaio de Luís Picado é incómodo para os docentes, que alertam para as condicionantes da profissão. «É preciso ver que cada professor chega a ter quatro e cinco turmas e é muito difícil estabelecer uma relação individual com cada um deles», avisa Paulo Guinote, autor do blogue «A Educação do Meu Umbigo». Lidar com os casos de indisciplina depende sobretudo das características individuais dos professores: «Nem todos têm capacidade de liderança», esclarece o professor do ensino básico, acrescentando que as condições físicas são determinantes: «Muitas vezes é só uma questão de tom de voz, de carisma. Às vezes basta ser mulher para se ter dificuldade em mediar os conflitos entre alunos», esclarece Paulo Guinote.
António Couto dos Santos, ex-ministro da Educação no governo de Cavaco Silva, aponta outros factores que contribuem para a indisciplina na escola: «A primeira razão são os pais que se demitem do seu papel, estando os professores pressionados a colmatar essa lacuna». As políticas e a organização escolar são outros aspectos que facilitam os maus comportamentos dos alunos: «Os professores são confrontados com dezenas de circulares contendo orientações contraditórias que tanto chegam do ministério como das direcções regionais ou da própria escola e isso faz com que se sintam completamente perdidos», remata.
Kátia CatuloIn Jornal I
Dezembro de 2009
FOTOS: sala de aula, algures; Luís Picado
Caro Henrique Pinto
ResponderEliminarSó hoje li este post, que apareceu em blogues sobre Educação e como professor admiro-me de teres "adoptado" a conclusão de um técnico, que nunca deu aulas, fala de barato e NUNCA colocou a palavra FAMÍLIA no processo. Esquisito!!!
Se a conclusão é:
PROFESSORES SÃO OS RESPONSÁVEIS PELA INDISCIPLINA DOS ALUNOS
Com as premissas de que partiu e se registam neste artigo, de que fiz copy e se seguem, como se pode chegar à TESE? São só falácias e a prova da gratuitidade do trabalho do dito senhor, que tanto quanto sei, vagueou por uma Escola Profissional.
Assim, não vamos a lado nenhum, apenas imputando responsabilidades a quem não as tem (ou tem parte) sendo o maior quinhão das FAMÍLIAS e dos nossos GOVERNANTES, que têm mostrado mais incompetências em todas as áreas, que só não vê quem não quer ver...
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"A sobrecarga de trabalho, a desvalorização social do estatuto do professor ou as características pessoais são algumas das razões que explicam igualmente o comportamento dos alunos e até a noção que as crianças têm hoje da figura do professor."
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"Currículos considerados pelos alunos pouco importantes para as suas vidas, horários desajustados, deficientes condições das salas, mau planeamento das aulas, marcam todo o processo de ensino e são responsáveis por problemas comportamentais"
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António Couto dos Santos, ex-ministro da Educação no governo de Cavaco Silva, aponta outros factores que contribuem para a indisciplina na escola: «A primeira razão são os pais que se demitem do seu papel, estando os professores pressionados a colmatar essa lacuna». As políticas e a organização escolar são outros aspectos que facilitam os maus comportamentos dos alunos: «Os professores são confrontados com dezenas de circulares contendo orientações contraditórias que tanto chegam do ministério como das direcções regionais ou da própria escola e isso faz com que se sintam completamente perdidos.
Abraço
Querido amigo Miguel Loureiro,
ResponderEliminarQue bom ter controvérsia no meu blogue!
A minha amizade de longa data com Couto dos Santos não me impede, todavia, de manifestar o meu inteiro apoio à tua opinião.
Aliás, nunca concebi a história como sendo «one way». E a escola de massas tem de ser olhada num contexto social mais alargado, com mais variáveis de «outcome» e menos variáveis «confundentes».
Como sabes um dos meus hobbies é exactamente dirigir uma instituição cultural que tem várias escolas e, se excluirmos o ensino superior, constitui no seu conjunto a maior escola da Europa, no seu género. Sabemo-lo porquanto a instituição é a única em Portugal, fora do ensino superior, a ser membro da Associação Europeia de congéneres, que agrupa até muitas universidades famosas.
Temos professores de primeira água, duma dedicação à prova de fogo e sem quaisquer problemas de relevo no que respeita à gestão de recursos humanos. Há um processo suave de avaliação de desempenho. E os resultados em termos de «produto social» são excelentes.
Mas não veio cá nenhum investigador científico saber o porquê.
Um abração. Um destes dias retribuirei no Blogue a gentileza dos teus presentes. Obrigado.
Henrique Pinto
Caro Henrique Pinto
ResponderEliminarEu não diria CONTROVÉRSIAS, antes CONTRA VERSO, ou melhor CONTRA POETAS Psicólogos, que conhecem a "realidade" dos livros, que nem de poesia!
Eu estive até há poucos dias como editor convidado do Profblog, numa luta contra esta mentira do "desastre" da Educação e ficam-me os cabelos em pé(cada vez menos, cabelos) quando ouço o eco desta mentira da MLR e deste modernaço ps.
Desculpa o desabafo e BOM ANO!!!