Há um certo patamar entre o impacto sociológico e a formação ideológica dos votantes comunistas em Portugal, porventura devida à debilidade económica crónica do país. Juntos ultrapassam os 20% de eleitores, um fenómeno singular na Europa.
Por influência de Álvaro Cunhal o PCP continuou fiel ao ideário soviético de antes do 20º Congresso do Partido Comunista da URSS, de Krutchev. Hoje quase ninguém equaciona com convicção o problema das ideologias no sentido clássico. Todavia, o arquétipo mental dos comunistas continua a ser reproduzido por Jerónimo de Sousa, inspirado pelo seu mentor. Tem como apoios chegados pessoas inteligentes e dialogantes.
O Bloco de Esquerda influencia um número apreciável de cidadãos sem pensamento ideológico apurado. Como estrutura política, agrupa algumas pessoas de concepções semelhantes, dada a irreverência e uma suposta «boa alma» na política. A sua constituição, de grande oportunidade no tempo em face da desintegração dos PC(s) mundiais tradicionais, juntou os núcleos duros dos comunistas trotskistas e maoístas, em ambos os casos depois dum longo período de depuração.
Apesar de agora alinhados com o que sempre consideraram a tendência centrista, menos radical, os seguidores de Louça estão absolutamente desinteressados do exercício do poder executivo. A eles, imaginativos e humorados fica-lhes melhor a figura de quem «aproveita» o descontentamento para crescer, de contestatários do governo «burguês». O fim do apoio a Sá Fernandes veste um pouco desta roupagem.
Os apoiantes de Fazenda serão mais ortodoxos, disponíveis para a hipótese de partilha do exercício do poder com os partidos democráticos, se a oportunidade surgir. Pelo meio há figuras não alinhadas mas mais próximas desta corrente, que é maioritária, e que em pouco se diferencia do pensamento de Jerónimo de Sousa.
Neste equilíbrio instável, até quando a popularidade e a excelente qualidade intelectual de Louça será suficiente para manter a unidade, o Bloco? A coincidência dos opostos no seu interior permitir-lhes-á «dormir com o inimigo»? Tal como em relação ao eventual «aumento de peso» do PCP, terá francas hipóteses enquanto o nível de vida e as aspirações de muitos portugueses não melhorar visivelmente e os partidos tradicionais mantiverem o objectivo quase único de ganhar eleições. Até lá, o «quanto pior melhor» a todas as oposições nutrirá.
HpintoAgosto 09
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