sexta-feira, 28 de agosto de 2009

PEQUENAS E GRANDES FRAQUEZAS


Acabara de ouvir o orador Mikhail Gorbachev aplaudido pela classe média americana, europeia e asiática.
Mário serviu-se do seu estatuto para deixar o auditório através dos bastidores de palco. E ei-lo ali erecto, esperando só, aquele que anos antes fora «o homem do século», Prémio Nobel da Paz. Num instante ficaram os melhores amigos.
Por isso mesmo, agora que seguia o destino turístico de milhares de portugueses que demandam as estâncias de esqui, aprazou visitá-lo na Rue de Florissant na Fundação a que preside, a Green Cross International, a dois passos do centro de Genebra.
Evocam uma vez mais a tríade de problemas major que aponta ao mundo. Por eles, tal como o seu vice-presidente Alexander Lichotal, corre seca e meca buscando fundos, juntando apoios. A ignorância, a pobreza e a degradação ambiental são os estigmas dos nossos dias que tem como os mais sérios dos obstáculos à paz.
Esquecidas por instantes as pistas de esqui com o cortejo sui generis de pequenas fraquezas – a exibição chique ou a gabarolice das proezas de cada um nas vermelhas e negras –, e uma paisagem singular de verdes, branco imenso e cobreados, fascinante e calma, Mário visita o avesso do mundo, o das insuficiências da própria economia como disciplina.
A economia tende a considerar-se a si mesma como ciência social sem nunca ter tido em conta a dimensão social da família e as suas relações, tanto ao nível do lar como na dimensão macro económica.
Também o trabalho assalariado foi interminavelmente considerado a única fonte de emprego. O trabalho independente era explicado apenas como sintoma de uma economia pobre.
Todavia, nos tempos que aí vêm, este terá uma franca perspectiva de sustentabilidade colectiva. A exemplo dos investimentos do terceiro sector, o da economia das organizações sociais de que só muito recentemente se começou a falar.
É assim que o micro crédito, solução preconizada por Muhammad Yunnus, tido como o «banqueiro dos pobres», cresce como um dos eixos de intervenção do terceiro sector no atalhar da pobreza, financiando a longo prazo o trabalho independente de pequena dimensão.
Uma grande instituição bancária portuguesa adaptou já esta premissa, ainda que em valores globais inferiores a 2,5 milhões de Euros por ano, um pouco como decalque da expansão do modelo em África, nos EUA e no Japão.
Bill Gates está verdadeiramente obcecado em, através da Fundação a que preside, a «Bill and Melinda Gates Foundation», minorar alguns dos grandes problemas da humanidade, da saúde à pobreza. Acabou de constituir há dias um banco à semelhança do de Yunnus.
E Mário interioriza «se assim é porquê tantos rodeios?» Há saídas expeditas e fáceis capazes de mudarem o curso da vida humana. E no entanto uma economia sem lideranças credíveis, um mal comum à grande política, continua a abster-se de encarar o universo da família com os olhos vidrados na poupança e na produtividade de amplo espectro.

Henrique Pinto
In Até o Diabo Tem as Malas Feitas, edição MinervaCoimbra

FOTO: Bill Gates

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