sábado, 22 de agosto de 2009

NOVE ILHAS, UM PARAÍSO II









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De onde vem nome de Açores? Susana Goulart (1) dá um contributo esclarecedor a tal questão, chamando-nos ao princípio de tudo. Que os portugueses não tenham sido os descobridores das ilhas, parece consensual. Aponta-se a eventual ocupação anterior por outras gentes, de cartagineses a fenícios. As moedas destes, achadas no Corvo em 1746, indiciam a sua estada temporária. A alusão aos Açores no Libro del Conoscimiento, dum franciscano espanhol (1345-48) e a carta do genovês Battista Beccario (1435), reforçam a convicção de a possível chegada de Diogo da Silveira em 1427 aos grupos oriental e central, deduzida apenas de cartas de mareação, ter-se tratado de achamento e não descoberta.
As explicações assentam, umas na multidão, à época, de aves açor, hoje inexistentes nas ilhas (seriam milhafres?!), outras na palavra italiana azurri (azuis), devido à suposta passagem de genoveses, anterior ao achamento, que as viram assim, ou ainda ao nome da imagem de Santa Maria dos Açores, venerada por Gonçalo Velho Cabral, chegado a 1431.
Mais que outras ambiências físicas e do ânimo, as ilhas induzem em regra personalidade, a ego e grupo, muito sui generis. Quantas especulações gerou A Ilha de Arturo, obra singular de Elsa Morante? O paraíso pode afinal ter cadeados!? A heterogeneidade do povoamento acentuou fortemente afortunado património humano ilhéu. O estudo do ADN da população efectuado pela universidade dos Açores prova a origem maioritária dos chegados às ilhas como continentais portugueses. Era gente do Algarve, Alentejo, Beira-Alta, Entre Douro e área de Lisboa. A taxa de população inicial de escravos negros terá sido alta no grupo oriental, Santa Maria e São Miguel (18,2%) e no ocidental, Flores e Corvo (6,3%). Anda nos 10% a razão de genes atribuídos a gentes do médio oriente no grupo central. A diáspora judia forçada por D. Manuel I, degredados, escudeiros (pequena nobreza) e outros, terão contribuído para a transmissão de 51.1 % de genes (cromossoma Y) e 81,2 % (via feminina), de ascendente europeu, Também ajudaram ao povoamento insular flamengos, genoveses (arquitectos italianos desenharam a bela cidade de Angra), franceses e ingleses, entre outros (1).
O arquipélago açoriano é de raiz vulcânica, génese porventura determinante na saga do povo e na história das ilhas, face à ocorrência de erupções, sismos e maremotos, percebidos ou não. Às ilhas Graciosa, Flores, Corvo e Santa Maria não as afectou terramotos desde o século XV. As restantes foram bem fustigadas, em 1522 a de São Miguel, em 1562-64 o Pico, erupção na Prainha do Norte, a escoada a dar corpo ao mistério da Prainha, as de São Jorge e Pico em 1580, a do Pico de novo em 1718-20, as escoadas a formarem os mistérios de Santa Luzia e São João, em 1757 São Jorge, o Faial em 1957, com a erupção dos Capelinhos, a Terceira em 1980, centro histórico de Angra do Heroísmo feito escombros, e novamente o Faial em 1998 (1 e 2).
O frenesim no âmago da terra, os anos de fome, 1588 a 1599 (3), os constantes assaltos dos corsos da pirataria inglesa, francesa, espanhola, norte americana e depois magrebina (1 e 4), entre os séculos XVI e XIX, em 1854 a destruição dos vinhedos pelo oídio e as doenças dos pomares de laranjeiras, no Pico, a arruinarem a economia da ilha, a fuga dos jovens ao serviço militar compulsivo no Brasil, na turbulência da coroa de D. Pedro, torrente de infortúnios aliada à emigração em crescendo desde o século XVII, primeiro, mão de obra dos navios baleeiros americanos, depois para Brasil, numa outra leva Estados Unidos e Havai, Canadá a seguir e finalmente de novo a América, condicionaram o álgico crescer da população nas ilhas de bruma.

Hpinto
Agosto 09

Notas: (1) Susana Goulart Costa, Açores, Nove Ilhas, Uma História, edição do Institute of Governmental Studies Press, University of Califórnia, Berkeley, 2008 (2) Zilda Terra Tavares de Melo de França, Origem e evolução Petrológica e Geoquímica do Vulcanismo da ilha do Pico, Universidade dos Açores, 2002; José Carlos Garcia, Semana dos Baleeiros, 1998; Francis Dow e Henry Edwards, The Piracy of the New England Coast 1630-1780, 1996; (4) Southerly, C. e Gillman-Bryan, J. Diving on the Queen Anne's Revenge, edição SF Norton, 2003

FOTOS: Roca Viana, planta muito vulgar nos Açores (Hpinto); Vulcão dos Capelinhos, Freguesia do Capelo, Faial, 1957; Vinhas do Pico, Património da Humanidade; Queen Ann Revenge, navio britânico recapturado aos franceses em 1717 (a funcionar então como cargueiro de escravos), passado ao pirata Edward Teach, mais tarde conhecido por Barba Negra, que atacou navios ingleses, holandeses e portugueses, na Rota do Cabo, que incluía os Açores; Fajãzinha e Fajã, Ilha das Flores; Casas da Rua Principal do Cais do Pico, séculos XVII, XVIII e XX; Ilha do Pico; Mistério da Prainha(Hpinto), Ilha do Pico, ponta de lava que escoou da cratera até solidificar no mar, no século XVI; Navio Greyhound, de Boston, atacado e queimado por piratas ingleses nas Caraíbas

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