domingo, 2 de agosto de 2009

RELAPSOS NA PRUDÊNCIA

Acho que, ao contrário de outros governos europeus onde tem imperado o espalhafato e a confusão processual e informativa, a senhora ministra da saúde, Dra. Ana Jorge, está a gerir ela própria o «dossier» Gripe A quase com pinças, com muito tacto e sabedoria. É óptimo constatá-lo. Transmite uma sensação de segurança efectiva muito importante neste momento.
Algumas instituições, poucas, têm vindo a anunciar programas de contingência. Todavia, na população como um todo não é ainda significativo o impacto das medidas preventivas já divulgadas. Os portugueses são normalmente relapsos na prudência. Mas os europeus em geral não estão a proceder melhor, mesmo em países com casuística de morbilidade alta para a síndrome. A excepção portuguesa está entre os mais jovens. Em boa parte tomam em atenção as medidas mais elementares como a higiene sistemática das mãos, a tosse e os espirros que podem atingir outros indivíduos, evitar ambientes fechados e sobrelotados, etc. É muito agradável observar esta excepção.
Deve ser considerado normal o volume de e mails que cada um recebe em sua casa apregoando mais uma manobra da CIA ou das grandes corporações de negócios, fazendo da Gripe A um produto desejado para a instabilidade mundial ou fautor de lucros fabulosos. Esta mensagem apocalíptica é semelhante ao que ainda hoje corre na Net sobre a SIDA, e que, para nossa tristeza, influenciou o presidente sul-africano Thabo Mbeki a proibir os medicamentos retrovirais. A directiva restringente teve consequências devastadoras. Oito milhões de órfãos atestam-no.
Há obviamente exemplos históricos que nos confundem. A paranóia da administração dos EUA aos tempos de Bush filho, quanto às armas de destruição massiva, que não existiam, tinha um certo fundamento junto do público na execução maciça dos curdos pelo ditador de Bagdad. Porém, as ligações da indústria bélica americana a figuras influentes do Estado eram também iniludíveis.
Já António Aleixo nos alertava para a evidência de toda a mentira para ser credível conter sempre algo de verdade. A mensagem positiva a passar deve ser a que estimule um alto grau de prevenção, tanto para a Gripe A como contra a absorção destes tóxicos mentais de entorpecer, que nos chegam pelo correio electrónico, cujo efeito nocivo pode assemelhar-se ao da fraude dos produtos financeiros vendidos ao planeta por Bernard Madoff.
Génese e estrutura mutável dos vírus e o modelo de vida actual favorecem a disseminação. No entanto, as políticas preventivas de hoje permitem minimizar os efeitos pandémicos a uma escala nunca vista, ao contrário do ocorrido na primeira metade do século passado. Conquanto que as cautelas não se esfumem.

Hpinto
Agosto 2009
(a propósito duma entrevista para Região de Leiria)

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