Três exposições temáticas deram-nos o privilégio raro da retrospectiva de meio milénio do mundo através da arte.
O Museu e Galeria de Arte de Birmingham evoca o bicentenário da morte de
Matthew Boulton, pioneiro da revolução industrial emergente em finais do século 18. Foi o ponto de viragem mais palpável na sociedade humana, repercutido nas condições socioeconómicas e culturais da Grã-Bretanha e do mundo.
Em Agosto de 1809 milhares de pessoas alinharam-se nos caminhos para ver a procissão fúnebre do homem que fizera mais que ninguém para prestigiar Birmingham. Espírito inventivo, capacidade de reconhecer potencial, discernimento social e energia, moldaram Matthew Boulton, mais conhecido pela sua máquina a vapor, de parceria com James Watt, como o grande manufactureiro e empreendedor do seu tempo, cuja actividade contribuiu para alguns dos maiores avanços absolutos da segunda metade de oitocentos.
A exposição «Barroco (1620 – 1800), Estilo na Era da Magnificência», no museu Vitória e Albert de Londres, foi a que mais me agradou até hoje.
Que o Barroco vá além de dialecto dominante do revivalismo arquitectónico e da arte antiga, que começou com a Renascença, é consensual. Algumas escolas relevam-lhe a influência de Bernini, Borromini e Cortona, a trabalharem em Roma em meados do século 17. Outras ligam-no aos desenvolvimentos mais serôdios da França de Luís XIV. No final de setecentos a linguagem visual barroca de Roma e França foi adoptada em grau diverso na Europa, de Portugal à Rússia, e depois nos territórios dos poderes europeus no resto do mundo.
Barroco significa coisas diferentes consoante data e carácter do trabalho em apreço. Pelas distorções e extravagâncias entende-se como estado complexo da linguagem clássica pós Renascença. Identificou-se também com o absolutismo político. A palavra serve ainda hoje para descrever qualquer coisa ornada elaboradamente ou grotesca, caprichosa ou bizarra, em campos assaz diferentes.
No catálogo de «Encompassing the Globe, Portugal e o mundo nos séculos 16 e 17», a importantíssima exposição do Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa, Paulo Henrique estiliza cultura na «obra do tempo (…) através de expressões infinitas que renovam o pensamento e, deste modo, as sociedades». A esta luz transparece da mostra verificação e elogio à capacidade de Portugal para gerar civilização através das suas viagens de expansão, «propiciadoras de novas conexões humanas, económicas, sociais, políticas e culturais» fundadoras da Modernidade da História da Europa e do Mundo, nucleares para compreender o contemporâneo.
É a leitura não portuguesa dum ciclo relevante da nossa História no quadro da globalização como os portugueses dificilmente conheceram.
HpintoIn Diário de Leiria
Agosto 09
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